O papel da comunicação no combate à invisibilidade indígena
O Mídia Índia é considerado uma das principais referências quando se trata de narrativas indígenas
Crédito: Divulgação
Por: Eduarda Nunes / Lupa do Bem – Favela em Pauta
Ninguém melhor do que os indígenas para falar sobre as próprias lutas e celebrações. Povos diversos, que há 521 anos lutam pela manutenção de suas culturas e tradições. Erisvan Guajajara compreendeu que não poderia deixar de narrar os próprios passos e, assim, deu o pontapé inicial para que o projeto Mídia Índia pudesse se consolidar.
A partir de uma parceria com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e o Coletivo 105, o jornalista conseguiu viabilizar que 12 jovens da Terra Indígena Araribóia tivessem formações em diversos formatos da comunicação por três meses. Dessa imersão, surgiram muitos registros sobre o cotidiano dos povos nesse território, a partir do olhar de quem vive e não de quem está de fora.
Passaram-se dois anos até esse material ser transformado em exposição: em 2017, no Acampamento Terra Livre, em Brasília, “Coisa de Índio, Alma Brasileira” foi lançada. A partir daí, a mobilização para formar mais parentes – como os indígenas se referenciam entre si – nas linguagens que a comunicação social oferece foi intensificada.
“A luta que nós fazemos nas bases não garante só a vida do nosso território, ela garante a vida do planeta e da humanidade”, defende Erivan, que também afirma que a Mídia Ninja é um importante ponto de apoio e referência. A primeira ação do projeto foi a viabilização de novas oficinas de formação em outros territórios.
Atualmente, a rede conta com 10 coordenadores e cerca de 200 colaboradores de povos de todas as regiões do país. O objetivo é alcançar todos os 305 povos para um fortalecimento crescente da narrativa indígena sobre a história do Brasil, com base em uma gestão coletiva e horizontal.
Nesse contexto, a utilização do termo “índia” é uma estratégia para ressignificação da ideia cristalizada a respeito dos indígenas. Devido aos estereótipos criados sobre os indígenas aldeados, a partir de uma visão eurocêntrica, os indígenas que vivem em contextos urbanos sofrem preconceitos e são invisibilizados cotidianamente.
Além disso, investir na formação da juventude e valorizar os saberes dos mais velhos é outra estratégia para potencializar as narrativas indígenas. “A juventude é o hoje e o agora. São essas novas ideias que trazem novas versões”, afirma Erisvan.
Jornalistas, advogados, professores e artistas: os indígenas estão em todo o território brasileiro e não só nas aldeias. Erisvan enfatiza que o país é uma terra indígena, e que eles estão em todos os lugares, vivendo de formas diversas que não invalidam suas histórias de resistências. “O Brasil é um país que carrega na pele uma dívida histórica com os povos indígenas, pois tem sangue derramado de indígenas aqui. São 521 anos de retrocesso”, declara.
Em 2021, a Mídia Índia está cobrindo a 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 26), sob a perspectiva de pessoas que possuem a preservação da terra e da natureza como base.