Resgatando memórias e combatendo a fome: a missão do Coletivo Frente Cavalcanti

Jovens do bairro Cavalcanti, Zona Norte do Rio de Janeiro, se unem contra insegurança alimentar e exclusão social

29.10.24

Fundado em 1910, o bairro carioca de Cavalcanti é berço do Grêmio Recreativo Escola de Samba Em Cima da Hora, famoso por apresentar o samba Os Sertões no carnaval de 1976.

Considerado um bairro quase totalmente residencial, Cavalcanti é fortemente influenciado pela cultura do futebol e do samba, características da Zona Norte do Rio de Janeiro. No local, também são realizadas diversas celebrações católicas, como a Festa do Apóstolo São Pedro, que dura uma semana inteira. É nesse bairro periférico que está localizada a sede do Frente Cavalcanti, um coletivo de jovens criado em junho de 2020.

Com foco na segurança alimentar, o projeto foi criado por Tais Almeida, Milena Ventura e Reinaldo Neves que, por sua vez, chamou Leandro Ferreira, professor de inglês, para também ser voluntário. 

Em entrevista à Coluna da Neuza, Leandro contou que o coletivo não tem uma coordenação fixa ou hierarquia entre os membros; quem estiver presente no momento da necessidade assume a responsabilidade pela tarefa. 

Contudo, quando conseguem a aprovação de algum edital, há, sim, um coordenador, corpo pedagógico, oficineiros e outros profissionais.  Mas, quando falta dinheiro, todos trabalham voluntariamente.

Coletivo surgiu no início da pandemia

O Coletivo Frente Cavalcanti, formado por sete membros, teve início três meses depois de a COVD-19 ser  oficialmente considerada uma pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS). 

Leandro explica que os voluntários perceberam “uma grande presença de pessoas jovens e adultas se movimentando pelas ruas do bairro e entendemos que isso se dava pelo fato de os moradores não terem muito o que fazer, já que ninguém podia ir trabalhar e as escolas estavam fechadas”. 

O grupo observou também que a maioria dos  jovens do bairro apresentavam uma movimentação anormal, especialmente na parte da tarde, quando esse fluxo aumentava bastante. Nesse ir e vir, perceberam a ausência de autocuidado e cuidados mútuos; aparentemente, as pessoas só queriam viver a vida, o que começou a  preocupá-los. 

Foto: reprodução

O fato de que todas as pessoas fundadoras do projeto já tinham relações anteriores com projetos sociais e uma forte ligação com a militância universitária ajudou bastante. Assim, logo no início da trajetória do coletivo, conseguiram apoio da paróquia do bairro, Apóstolo São Pedro. Em seguida, organizaram uma articulação que lhes permitiu obter uma boa quantidade de alimentos, materiais de higiene e limpeza para distribuir no bairro.

A partir daí, com a ajuda das redes sociais, começaram a crescer. Com o tempo, passaram a ganhar apoio de outras comunidades e coletivos como o Fala Akari, Vozes da Comunidade e Macacos Vive.

O grupo trabalhou durante um bom tempo com segurança alimentar,  recolhendo e distribuindo os alimentos em diversas áreas do bairro. Cavalcanti é pequeno, mas subdividido em pequenos territórios, incluindo algumas comunidades. 

Mas nem tudo é fácil. Apesar de o trabalho social realizado ser contínuo e eficiente, o projeto ainda não consegue dar suporte a todo o bairro. Apesar de manter contato com uma boa quantidade de moradores, a estrutura ainda não é suficiente para atender a demanda.

Resgatando memórias

Além de se dedicar à segurança alimentar, o coletivo realiza um trabalho de resgate da memória do bairro. Todo espaço a céu aberto funciona como um lugar para fazer arte, com diversos murais de graffiti de grafiteiros renomados espalhados por Cavalcanti. 

Eles também já realizaram um projeto de resgate específico sobre a memória de um dos compositores de um dos sambas mais importantes do G.R.E.S. Em Cima da Hora

Arte, literatura e gastronomia

O objetivo do coletivo é sempre envolver, integrar, e agir com e pelo morador local. Isso inclui comemorações como a festa de Cosme e Damião, em nome da resistência e preservação dessa cultura; Natal, Páscoa e a realização de projetos de arte e cultura em parceria, como foi o caso do Agosto Delas – Cultura e Gastronomia para Mulheres e o Unidos do Cavacorpo, projeto de dança; além de atividades nas áreas de educação e lazer.

Leandro acrescenta que o espaço conta com uma minibiblioteca e que também captam e doam cestas básicas. Sempre que possível, diversificam o leque de atividades oferecidas aos beneficiários. Ele afirma ainda que o coletivo é muito importante para o bairro, e a reação da comunidade é positiva: os moradores participam, levam as crianças e interagem.

Saiba como apoiar

O Coletivo Frente Cavalcanti precisa de voluntários, doação de gibis novos ou usados, alimentos em épocas específicas e divulgação de conteúdo. Para contribuir com dinheiro, faça um pix através da chave pixfrente@gmail.com.

Para mais informações, entre em contato com Leandro pelo número (21) 9 7599-0485.

Também siga o Coletivo no Instagram.

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Neuza Nascimento
Após ser empregada doméstica por mais de 40 anos, Neuza fundou e dirigiu a ONG CIACAC durante 15 anos. Hoje é estudante de Jornalismo e trabalha com escrita criativa, pesquisa de campo e transcrições. No Lupa do Bem, é responsável por trazer reflexões e histórias de organizações de diferentes partes do Brasil para a "Coluna da Neuza".
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