Griot Podcasts: impulsionando novas narrativas nordestinas
De Olinda (PE), Caio consumia uma gama de podcasts que serviram de referência para hoje essa ser sua principal fonte de renda por meio do Griot Podcasts
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Por: Eduarda Nunes – Lupa do Bem / Favela em Pauta
O consumo de podcasts no Brasil cresce ano após ano. Só em 2020, início da pandemia do Coronavírus, a quantidade de consumidores aumentou em 33% e passou de 21 para 28 milhões de ouvintes, segundo o Ibope.
A audiência dessa mídia é formada por uma maioria de pessoas de até 34 anos (51%), da classe C (51%) e que moram no sudeste (46%). Embora o consumo e o fomento aos podcasts ainda seja predominantemente sudestino, na região nordeste tem muitos produtores trabalhando para que haja descentralização. Caio Santos, da produtora Griot Podcasts, é um deles.
O cientista político conta que conheceu a podsfera, a cena dos podcasts, em 2017, por indicação de amigos. Se encantou de cara: no mesmo ano começou um programa com os amigos para falar sobre relacionamentos, o Xamegocast.
Caio conta que, além do Xamegocast, programa que criou com os amigos despretensiosamente, o Presidente da Semana, produzido pela Folha de São Paulo, também foi bem importante. O formato narrativo de áudio ensaio chamou a atenção e provocou identificação.
Nessa brincadeira, Caio começou a desenvolver algumas expertises de produção e em 2019, depois de já ter consumido muitas produções, criou seu próprio programa de áudio. “A Griot foi criada a partir do momento que eu decidi que ia usar meu estudo em política para transformar a informação em algo palatável, mais didático que os artigos acadêmicos. Então criei a ideia de fazer o Política É Massa”.
A Griot Comunicação Política surgiu como um espaço de produção em várias áreas como política, consultoria em comunicação, pesquisa, podcast e fotografia. Mas, só em 2021, com o aumento da audiência em 2020, a participação em eventos de fomento e aceleração – a exemplo do Sound Up Brasil, do Spotify, e com a parceria junto à Vendaval Catalisadora –, que os programas de áudio tornara,-se prioridade.
Atualmente, a produtora produz quatro programas e está com financiamento coletivo para continuar com as criações.
Além do Política é Massa, os programas “Designers Diásporicas”, que entrou para o time da Griot com a chegada de Marina Maré e Ruthy Rayane, “Gritaram-me Negra” e “Chié” dão vida à produtora. Com a redefinição da produtora, a Griot lançou um financiamento coletivo para produzir cada vez mais conteúdos.
A Griot integra a podsfera nordestina que busca tornar a região cada vez menos distante do cenário de consumo e incentivo à mídia que acontece no Sudeste. “Existe uma cena podcast no nordeste, mas ainda está numa fase de pré-mercado aquecido. As empresas daqui ainda não souberam entender o potencial dessa mídia na lógica de mercado”, conta o produtor.
De 2019 em diante, Caio já fez parte de alguns programas de aceleração e formação que viabilizaram a produção dos últimos programas citados anteriormente.
Além da diversidade regional, as produções da Griot também disputam o espaço para as narrativas negras. Dentre as referências que Caio traz consigo para este front, estão o “O História Preta” e “Vidas Negras”. “Produções muito poderosas e potentes que tem esse toque narrativo que eu gosto muito de fazer”, destaca.
Por que podcast?
O cientista político relaciona o consumo do podcast com a tradição da oralidade que ainda é bem forte, sobretudo nas pessoas da periferia. “A gente vem de uma tradição oral que é essa coisa de sentar e ouvir a sua avó contando, seu tio contando, sua mãe contando histórias. Você escuta e fica viajando naquilo, sua imaginação explode a partir disso”, conta.
A elasticidade da mídia e a possibilidade de captar trejeitos dos personagens se destacam para Caio. Chié e Raízes foram produções feitas a partir de programas de fomentos externos e ampliaram essa percepção do produtor. “A mágica dessa mídia é manter essa oralidade registrada. O papel é importante, mas é legal ter a fala registrada. Os trejeitos, os sotaques, tudo isso o podcast permite fazer”.
O primeiro conta sobre o local em que seu pai e tio nasceram e foram criados, na Ilha do Chié, localizada em Recife (PE). Questões como desigualdades sociais e violências de várias ordens permeiam essa experiência, mas o olhar e o jeito de cada um dos mais de 10 personagens que participaram e contaram suas versões é o diferencial.
Em Raízes, produto ainda em fase de edição para disponibilização, Caio busca contar a história de famílias brasileiras e entender como elas enxergam e manifestam questões internas, subjetivas e externas da vida em sociedade.
Além disso, o custo inicial para a produção de programas também serve de incentivo. Só com o celular é possível começar a produzir algumas coisas, mas, segundo Caio, é importante investir para crescer na área.
“A gente brinca que o podcast é uma mídia muito íntima, porque ele está lá falando no seu ouvido. Não é todo mundo que você deixa falar no seu ouvido”, brinca o produtor. Íntima e intimidadora, aliás, porque consumir podcast não é como abrir um site de vídeos e ser bombardeado por conteúdos. É preciso achar o caminho das pedras até lá: seja por indicação de amigo, como foi o caso de Caio, seja pelas mídias sociais.