Coletivo de mulheres ciganas lança música contra violência de gênero
A música "A voz de uma mulher”, recém-lançada pelo coletivo, chama a atenção para a situação das mulheres ciganas e anuncia: “não vamos mais ficar em silêncio”.
Crédito: Divulgação
Por: Renato Silva – Lupa do Bem / Favela em Pauta
O Coletivo das Mulheres Ciganas do Brasil é, por si só, um fato marcante, dada a falta de espaços específicos para mulheres ciganas na sociedade. Por esta razão, Hayanne Iovanovitchi, estudante de direito, fundou o coletivo.
“O feminismo cigano, no Brasil, tem pouquíssimas pessoas que comentam. As mulheres ciganas nem sabem o que é o feminismo. Então, eu pensei: ‘preciso levar esses temas, eu preciso que elas conheçam a história delas, que saibam os direitos delas’, e viemos com a ideia do Coletivo das Mulheres Ciganas do Brasil – o COMCIB”, relata.
Em artigo publicado no Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT), Graça Portela chama a atenção para pautas e demandas da população cigana no país, desde as origens, à diversidade de organização social e até mesmo as estatísticas populacionais precárias sobre os povos ciganos.
As pautas das pessoas ciganas no Brasil
“Existem no Brasil (dados de 2013) cerca de 500 mil pessoas ciganas, divididas por três grandes etnias. Temos os Kalon (a maioria no país), os Rom e os Sinti, que ainda se subdividem em diversos grupos e subgrupos. A grande dificuldade de se ter uma ideia real da quantidade de ciganos vivendo no país é que nem todos são nômades”, relata Graça em seu artigo.
Além das estatísticas defasadas, as pessoas ciganas enfrentam também dificuldades para acessar direitos básicos de acordo com suas necessidades culturais, além de preconceito nas ruas.
“Com relação à elaboração de políticas públicas para mulheres ciganas no Brasil, é escassa, ninguém olha. Agora, para mulheres ciganas é pior ainda. Desse costume machista, para ir ao ginecologista, se for um homem, a gente não entra. E aí, como que você vai falar no SUS, ‘se for um homem eu não vou’? Daí você é cigano, você não tem documento, você não tem CEP e aí, como faz?”, questiona.
“A voz da mulher” e a esperança
A canção lançada pelo coletivo conta com um clipe produzido e possibilitado por muitas mãos. A produção traz diferentes gerações de mulheres ciganas, trajadas conforme as culturas de diferentes subgrupos ciganos e uma variedade de palavras inspiradoras para uma população de mulheres ciganas que vêm conhecendo o trabalho do coletivo.
“Onde é o lugar dela? Onde ela quiser” é o que afirma a música e também a fundadora do COMCIB, Hayanne Iovanovitchi, filha de família tradicional cigana no Paraná, que se apresenta como uma jovem mulher cigana e desconstruída no que se refere aos direitos da mulher no mundo atual.
“Quem me criou foi o meu avô e, por ironia do destino, um cigano numa etnia super machista. Então, ele fazendo todo esse trabalho por tantos anos, eu entrei na faculdade de direito e estive pensando ‘eu não sou uma cigana que segue os costumes ao pé da letra, eu sou toda desconstruída, tenho outra ideia para minha vida, outra ideia de futuro’. Entrei na faculdade já com essa ideia: eu quero fazer uma associação para poder falar sobre nós, mulheres ciganas”, afirma.
A fundadora do coletivo continua. “Porque eu já venho de uma cultura super machista, onde a origem seguia pelo homem. A mulher é vista sempre por trás do homem, ela nunca é a protagonista da sua história. Isso não pode ser possível”.
No clipe, o coletivo traz gerações de mulheres vestidas de acordo com a cultura cigana. No último momento, contudo, elas se despedem vestidas de calças jeans e camisetas, reafirmando que o lugar da mulher é “onde ela quiser”.
A fundadora do coletivo e responsável pelo lançamento da canção dá uma definição sobre o “raio de esperança” também mencionado na música.
“O Raio de Esperança é a mulher cigana a ser vista como um ser humano, como detentora dos seus direitos, protagonista da sua história e poder seguir a sua vida de acordo com aquilo que ela acha certo, não o que dizem para ela fazer”, conclui,