Festa Literária das Periferias 2022 exalta o Modernismo Negro
Os homenageados escolhidos da edição da FLUP 2022 foram Lima Barreto, Pixinguinha e Josephine Baker
Crédito: Divulgação/FLUP 2019
Por: Gabriel Murga / Favela em Pauta – Lupa do Bem
A Festa Literária das Periferias, tradicional evento do calendário cultural na cidade do Rio de Janeiro, ocupou a programação tanto do Museu de Arte do Rio (MAR) quanto do Museu da História e Cultura Afro-Brasileira (Muhcab) entre os dias 11 e 18 de fevereiro, integrando mesas, debates e apresentações artísticas, exaltando autores que compõe o chamado Modernismo Negro: o do escritor carioca Lima Barreto; do maestro e compositor, Pixinguinha, e da cantora e dançarina estadunidense, Josephine Baker.
O principal legado do evento foi a abordagem de outra visão, crítica, sobre o centenário do modernismo paulistano, que tem como marco estabelecido, a Semana de Arte Moderna de 1922, além da apresentação do Muhcab ao público em um evento oficial que recebeu um público formado por moradores da cidade e turistas de todo o país.
O museu, inaugurado em novembro de 2021, fica localizado na região central da cidade do Rio de Janeiro conhecida como “Pequena África”, circuito de memória cultural dedicado ao período de mais de trezentos e cinquenta anos em que milhões de pessoas negras foram sequestradas, escravizadas e trazidas à força ao Brasil e a outros países do continente.
O contexto do modernismo negro
Durante o momento em que fora realizada a Semana de Arte Moderna em São Paulo, a França recebia o primeiro encontro de músicos negros na diáspora, realizado em Paris.
Nomes como Pixinguinha e seu grupo Oito Batutas reuniram-se com músicos que emigraram dos Estados Unidos à França, o que gerou um encontro de gêneros e ritmos musicais, passando da música brasileira do século XIX, ao jazz e à música caribenha.
Este encontro trouxe ao Brasil dois instrumentos: o banjo e a bateria, além de apresentar o gênio Pixinguinha ao saxofone.
Segunda a FLUP, o objetivo da homenagem busca uma visão que “questiona a narrativa que estabelece o modernismo como um fenômeno centralizado em figuras eminentes da intelectualidade paulistana”, afirma a organização em um comunicado à imprensa.
“A São Paulo de Oswald e Mário de Andrade parecia se destacar como a vanguarda cultural do país, uma vez que o festival de arte moderna ocorrera, efetivamente, no Theatro Municipal da cidade. Sabemos hoje, porém, que o protagonismo “dos paulistas” é oriundo de um apagamento da diversidade cultural do Brasil, refletindo desigualdades históricas, como a marginalização da cultura negra”, concluem.
FLUP 2022: Atrações culturais e debates
Durante a FLUP 2022, houve o lançamento de uma exposição biográfica com fotos, cartazes, reportagens e obras de artistas como Arjan, Jaime Lauriano, Mulambo, Yhuri Cruz e o TTK, Rabisco do Santo Amaro, em homenagem a esses encontros de músicos negros que mudou a música brasileira e internacional. Sobre o mesmo tema, foi realizada ainda uma mesa de debate com o ator, jornalista e sambista Haroldo Costa.
Já em homenagem a Josephine Baker foi apresentado um pocket show da atriz Aline de Luna em homenagem a artista, além de um debate com Terri Francis, mulher negra dos EUA, que escreveu uma biografia de Josephine, e Audrey Pulvar, jornalista e escritora francesa.
O autor Lima Barreto, que faleceu em novembro de 1922, foi o homenageado da mesa de encerramento “Herdeiros da Pequena África”, com a participação de Tom Faria e Eduardo Assis, que rememoram a existência de uma elite negra que existiu na década de 1920 e que sofreu com um apagamento histórico-cultural.
Além disso, foi apresentada uma exposição de cartazes com 22 trechos de obras de Lima Barreto, escolhidos por Lilia Moritz Schwarcz e um espetáculo teatral do diretor do Muhcab, Leandro Santana.
Fizeram parte das mesas de debate, grandes escritores: como o franco-congolês Alain Mabanckou que participou da mesa “Fluxos Transatlânticos”, e pode explicar como foi desenvolvida a cena de músicos negros em Montmartre, bairro boêmio de Paris, comparado constantemente a região da Lapa, no centro do Rio de Janeiro; e a professora do departamento de Inglês da Universidade de Tours, na França, e referência no campo dos estudos africanos, Maboula Soumahoro compôs a mesa “Modernismos negros – Da Expropriação à Reapropriação”, onde abordou o passado, quando a riqueza africana foi expropriada, e as novas inquietações artísticas da população negra.
Como acompanhar e apoiar
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