Educação popular para crianças em Niterói

Além de promover disciplina e a competição do esporte, a Escola Popular de Boxe tem como referência Paulo Freire

17.03.22

Crédito: Divulgação

Por: Renato Silva / Lupa do Bem – Favela em Pauta

Criada há apenas um ano no Morro do Cavalão, comunidade da cidade de Niterói (RJ), a Escola Popular de Boxe atende às crianças da comunidade com aulas de Boxe de uma professora que, com fala firme e muitos sonhos, defende a modalidade como uma ferramenta de transformação social.

Inicialmente, a ideia era criar um projeto com cursos técnicos e atividades variadas para as crianças. No entanto, a paixão pelo esporte fez com que Mayara Gomes, fundadora do projeto, bem como as pessoas ao seu entorno, percebesse que o boxe seria a razão de reunir as crianças do Morro do Cavalão.

Mayara conta que, após a decisão, realizou todos os cursos necessários para enquadrar o projeto e sua atividade nas normas definidas pelas federações da modalidade. Contudo, o propósito vai muito além do esporte. “A intenção é utilizar o boxe como ferramenta de transformação social. Também trazer debates, novos olhares, novas perspectivas. Aliado a todos os valores esportivos”, ressalta.

Escola Popular de Boxe

Transformação social na prática

[…] o professor que realmente ensina, quer dizer, que trabalha os conteúdos no quadro da rigorosidade do pensar certo, nega, como falsa, a fórmula farisaica do “faça o que mando e não o que eu faço”. Quem pensa certo está cansado de saber que as palavras a que falta a corporeidade do exemplo pouco ou quase nada valem. Pensar certo é fazer certo (FREIRE, 2002, p. 16).

Em Pedagogia da Autonomia, última publicação que Paulo Freire fez em vida, o autor lembrou que a prática deve estar aliada ao discurso ensinado pelo educador da sonhada educação libertadora. E, nesses conceitos, a Escola Popular de Boxe se baseia quando Mayara afirma a transformação que sonha alcançar através da nobre arte.

A fundadora afirma que mostrar novas possibilidades de futuro através do esporte está entre as prioridades do projeto, mas que é no cotidiano que acontece a verdadeira transformação. 

“As crianças acabam crescendo, carregando muitas das visões sociais comuns, né? Questões que vão surgindo nas aulas, gerando esses debates. Por exemplo: quando uma criança chama outra com algum termo racista, a gente vai pegando [essas referências]. No final da aula, dependendo do momento, eu paro, faço uma conversa com eles e trazemos outras questões raciais. Em outro momento, faço uma conversa sobre questões sobre machismo, incluindo eles no tema, sem termos complexos da academia, mas de uma forma próxima do dia a dia mesmo”.

Desafios de existência do projeto

O boxe e muitos outros esportes são carentes de investimentos. Em publicação sobre o desempenho nas últimas olimpíadas, o site do governo federal informou que a modalidade recebeu diretamente R$ 6 milhões através da iniciativa “Bolsa Atleta”, traduzidos em 431 bolsas, e resultaram em 3 medalhas, um ouro, uma prata e um bronze.

Por outro lado, em documentos revelados pela ESPN, no “Dossiê das Contas”, foram revelados gastos superiores a R$ 3,5 milhões por parte do comitê olímpico, durante o ciclo anterior no Brasil, apenas com acomodações de cartolas em viagens.

Diante desse cenário controverso é que nascem projetos sociais que deveriam ter o destino destas verbas oficiais, como é o exemplo da Escola Popular de Boxe. O projeto, que nasceu exclusivamente por investimentos próprios da fundadora Mayara e de alguns amigos interessados em contribuir com o sonho, hoje não conta com nenhum investimento oficial do governo, ou mesmo recurso proveniente de editais.

A fundadora lembra do contraste entre resultados e investimentos no esporte. “Na última olimpíada, o esporte que mais trouxe medalhas (3) para o Brasil foi o boxe. E, ainda assim, é um esporte pouco visto no sentido de políticas públicas. São poucos os que resolvem investir na modalidade”, analisa.

Como acompanhar e apoiar a Escola Popular de Boxe

Para contribuir com o projeto, é necessário entrar em contato com o perfil do projeto no Instagram (@escolapopulardeboxe), e combinar a contribuição financeira ou doação de material. As maiores necessidades do projeto são: compra de equipamentos para ajudar jovens atletas que precisam de ajuda com uniformes, passagens para os treinos. 

“Com certeza é o melhor caminho. Muitos vão direto da escola treinar, então precisam dessas coisas e de um lanche. Ajudando assim é a melhor forma”, aponta Mayara.

Ainda segundo Mayara, os sonhos do projeto envolvem também alcançar vitórias no esporte, seja passando valores da competição esportiva, como lidar com vitórias e derrotas, a necessidade da disciplina, mas também incluindo atletas em competições. A exemplo do jovem Lincoln Reis (13), aluno do projeto, que participará pela primeira vez de uma etapa estadual de boxe representando a escola.

 

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Autor: Redação - Lupa do Bem
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