Exposição de fotos conta a história do Morro da Providência (RJ)
Em 2017, Maurício Hora realizou a exposição de fotografias “Morro da Favela à Providência de Canudos” no BNDES-Banco Nacional de Desenvolvimento Social através de um edital. Para você que ainda não conferiu a exposição, agora é a chance de conhecer - ela está acontecendo no Instituto Favelarte! Saiba mais na matéria abaixo.
Sobre Maurício Hora
O Rio de Janeiro tem uma grande parcela de moradores de favelas ou comunidades, como alguns preferem chamar, um desses moradores é Maurício Hora, idealizador do Instituto Favelart. Maurício é fotógrafo e professor de fotografia, nascido e criado no Morro da Providência, localizado no coração do Rio de Janeiro, próximo a central do Brasil. A favela do Morro da Providência tem mais de um século e a exposição é baseada nessa existência. Maurício começou a fotografar aos 12 anos, e diz que sempre teve, e tem, até hoje a fotografia como norte em sua vida e a usa como ferramenta de transformação para a comunidade Morro da Providência. Confira!
O início
Em 1994, Maurício diz que começou um trabalho de pesquisa no Morro da Providência e percebeu que o local tem uma história muito rica, mas ela estava se perdendo. Tinha pouco de memória oral e apesar de, ao longo dos anos ter sido realizado um trabalho visual muito grande sobre o Morro da Providência, o fruto desse trabalho estava perdido nos acervos da cidade.
Ele então foi descobrindo esse material, mas não tinha recursos para comprar as fotos e ele foi também observando uma riqueza de informações cada vez maior sobre a favela, mas tudo no passado. Então ele sentiu a necessidade de registrar o que estava acontecendo naquele momento e começou um trabalho de fotografia no território.
O Favelarte nasceu como um site para divulgar trabalhos de pesquisas e falar sobre o Morro da Providência. Então, Maurício percebeu haver uma grande necessidade de interagir com outras instituições, pois, só com o site ele não conseguiria esse intento, achou também necessário a institucionalização e assim, fundou o Instituto Favelart.
“O trabalho de fotografia era muito difícil naquela época, mas claro, foi interessante porque esse trabalho foi se derramando por todo o território, inclusive a Zona Portuária e essas fotografias também começaram a ser usadas como ferramenta de transformação para toda a região.
Por exemplo, haviam demandas de problemas da Associação de Moradores há mais de seis meses junto a prefeitura, e ninguém os resolviam. Então comecei a trabalhar com a Associação fotografando os problemas existentes, essas imagens eram enviadas acompanhadas de um texto para o setor correspondente da prefeitura e, em questão de horas estava tudo solucionado. A fotografia é uma forma clara de expressão”, diz Maurício.
O Favelarte enquanto instituição, tem como foco a fotografia e o audiovisual, mas acabou por seguir também a linha da pesquisa. Localizado na Gamboa, próximo ao morro da Providência, o espaço é um galpão que abriga exposições abertas ao público, cursos de fotografia e permite a execução de outros projetos. Foi criado por conta da demanda de contar as histórias da região.
Dentre trabalhos anteriores de Maurício Hora estão, a Curadoria das exposições “Cem Anos da Providência”, “90 Anos de Cartola”, “75 anos de Mangueira”, e “Mestre Salas dos Mares”, que foi uma homenagem a João Cândido e Tia Carmem, que tinham a mesma linha de atuação que a Tia Ciata, entre outros.
A presente exposição é uma mostra que traça um paralelo entre o Morro da Providência e a Guerra dos Canudos, no Sertão da Bahia. Ela tem o objetivo contar como surgiu a Favela Morro da Providência e sua ligação com a Guerra de Canudos, iniciada em 1896, tendo seu fim em 1897.
O Paralelo
Maurício conta que, quando acabou a Guerra de Canudos, os soldados vieram para o Rio de Janeiro, chegando aqui os salários não foram pagos e, sem ter onde morar, esses soldados foram para as terras de um coronel no pé do então Morro do Livramento. Com o tempo foram subindo o morro onde moraram, ao qual deram o nome de Morro da Favela, e que hoje é conhecido como Morro da Providência.
O que inspirou o nome “favela” foi um morrinho local onde os soldados tinham que subir durante a batalha, cujo nome era Alto da Favela e quando conseguiram chegar até lá, colocaram um canhão e destruíram a igreja, vencendo assim a guerra. Por isso, batizaram o novo morro a ser conquistado por “Favela”, o começo da história do Morro da Providência.
Ainda sobre canudos, Maurício relata que o exército entre os anos de 1951 e 1967, fizeram o Açude de Cocorobó, o intuito era acabar com a memória de Canudos, e então tudo ficou submerso e outra cidade foi construída. Em 2013, houve uma grande seca e como consequência, as ruínas que ficaram submersas a 15 metros abaixo do solo, reapareceram. Maurício esteve no local, sendo o primeiro favelado a visitar Canudos, e registrou aquele momento raro e muitos outros.
Numa entrevista à agência Brasil em 03/06/2017, Maurício declara que a Providência é uma favela de resistência, e que hoje, está dentro de um território quilombola, da Pedra do Sal que vai da Praça Mauá até o Caju na Zona Portuária, denominada Pequena África no Centro do Rio.
Na mesma ocasião disse também que as pessoas faveladas como ele, devem ter consciência de que “favela” não é um termo pejorativo e, por outro lado, favela é apenas o Morro da Providência, devido a sua história. As outras, diz ele, são comunidades.
Para realizar pesquisa sobre a Zona Portuária do Rio de Janeiro tem que passar por Maurício Hora, não tem como falar de favela sem lhe perguntar algo. Ele está envolvido em diversos projetos de arquitetura da região e ajudou vários estudantes a fazer mestrado e doutorado e se formarem em arquitetura de favela.
Maurício considera como uma de suas vitórias ter conquistado em 2017 o segundo lugar num concurso ao nível nacional, cujo prêmio foi de exibir dentro do BNDS o projeto “Morro da Favela à Providência de Canudos”, e ter o maior ou segundo maior número de visitantes. A exposição é aberta ao público e está permanentemente acontecendo na sede do Favelarte.
Projeto futuro
Maurício Hora e Alexandra Rock parceira de trabalho e de vida, querem fundar uma cooperativa onde os alunos terão aulas de fotografia, acesso a estúdio com tecnologia e equipamento de boa qualidade, comum a qualquer profissional dessa área. Os participantes terão acesso a uma estrutura através da qual possam usufruir de aprendizado em todas as áreas da fotografia e, quando houver demanda de prestação de serviços, qualquer um cooperado poderá realizar esses serviços. A cooperativa se chamará “Zona Imaginária, Espaço Coletivo de Criação e Artes”. O desafio para a criação desta cooperativa e que Maurício e Alexandra Rock, precisam receber apoio externo de simpatizantes da causa, eles também estão tentando concorrer e vencer editais de projetos para concretizar a ideia.
Maurício termina fazendo um convite
Convido as pessoas que queiram vir como parceiros para pensar projetos juntos, ser um cooperado, estagiário ou formar uma equipe para elaborar novos projetos a conhecer o nosso espaço. Aceitamos doações de equipamentos que estejam em condições de serem usados de uma forma profissional e competitiva no mercado fotográfico, ou qualquer outro apoio, inclusive financeiro.
Para visitar a exposição “Morro da Favela à Providência de Canudos” e conhecer o trabalho maravilhoso de Maurício Hora, as visitas acontecem no endereço: Rua Pedro Ernesto, 61-Gamboa, Centro do Rio de Janeiro.
Mais informações:
Intagram Mauricio Hora
E-mail: mauhora68@gmail.com
Para doações:
Agência: 0001
Conta: 1147415-6
Instituição: 403 – Cora SDC
Nome da Empresa: Mauricio Hora Produções