Anime DICRIA: de um perfil no instagram a uma biblioteca comunitária

Iniciativa busca democratizar o acesso à cultura por meio das animações japonesas

02.09.22

Crédito: Divulgação

Por: Carlos Henrique Souza – Lupa do Bem / Favela em Pauta

Criado durante a pandemia, em fevereiro de 2021, o Anime DICRIA consiste em uma página do Instagram, aberta pelo fotógrafo Edson Cura (25), da comunidade Fallet, no Bairro Santa Teresa, no Rio de Janeiro, que acabou se tornando muito mais que um perfil em rede social. Na plataforma, o grupo utiliza mangás* contextualizados em imagens do cotidiano carioca para informar e, através desta ideia, criaram um espaço físico para fomentar a leitura das histórias ilustradas japonesas. 

A partir dessa ideia de colocar personagens de animes** no cotidiano real do Rio de Janeiro, como por exemplo: uma compra no Mercadão da Uruguaiana, uma ida ao Angu do Gomes e até mesmo um passeio na praia do Leme, o projeto evoluiu. Hoje, com mais de 67 mil seguidores no perfil do Instagram, a página furou a bolha otaku*** e caiu no gosto carioca, despertando interesse das crianças e também de quem não pertence a esse nicho. 

Para Caroline Muniz, diretora do projeto Anime DICRIA, a lógica do sucesso vai além de somente abranger um mercado diferente do comum. “Com isso tudo, nós temos a vontade de fazer arte, aí eu acho que essas crianças também vão ter vontade e inspiração pra fazer isso. Porque elas sentem que aquilo valeu a pena, fez parte positiva da vida dela”, declara.

Os desdobramentos que surgiram de uma página de anime

Nutrido também pela intenção de ser um movimento contranarrativo às grandes empresas de comunicação, consideradas por eles como “sensacionalistas”, surgiu o “Jornal DICRIA”, onde o grupo divulga semanalmente as notícias mais relevantes para a região, a exemplo de vagas de trabalho, exposições gratuitas e novidades sobre animes e mangás. 

Com isso, o jornal DICRIA tem sido um grande difusor de campanhas para prevenção do coronavírus e a importância da vacina, por exemplo. E, por abordar as notícias de forma simples e direta, o jornal ganhou um caderno voltado para o esporte e vídeos falando sobre as referências dos animes na cultura hip-hop e também no dia a dia.

Abertura da Mangateca

Como resultado do trabalho e com o incentivo dos seguidores, que doaram muitos mangás, agora como um coletivo, o Anime DICRIA inaugurou, em abril de 2022, a Mangateca Comunitária DICRIA, tornando-se a primeira biblioteca especializada em mangás em uma favela no Rio de Janeiro.

A Mangateca DICRIA conta com um acervo local de 4 mil exemplares de mangás. A diretora do projeto conta que um dos motivos para a criação da Mangateca é a dificuldade de acesso aos exemplares pela camada mais empobrecida da sociedade, principalmente pelo alto custo e as poucas editoras brasileiras, tornando quase impossível adquirir um.

Emerson de Araújo (12), morador da comunidade Fallet, esteve na inauguração da Mangateca e contou o que achou da iniciativa. “Foi um negócio pra eu poder sair, brincar, curtir um pouco. Porque, às vezes, eu fico muito preso em casa”, comentou o jovem e acrescentou que passou a gostar muito do anime Naruto por conta da Mangateca.

Contribua com o Anime DICRIA

Atualmente, o projeto segue com o objetivo de incentivar a leitura como um hábito cotidiano das crianças, além da produção de oficinas educadoras e está em busca de ajuda e de voluntários. Para apoiar o projeto, basta acessar o perfil no Instagram, o @animedicria.

*Mangás: de acordo com o site da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, é o nome dado às histórias em quadrinhos em estilo japonês. Eles têm como característica principal olhos marcantes e a prevalência de imagens bastante expressivas que muitas vezes dispensam palavras. Outra característica marcante é a leitura, que se dá da direita para a esquerda, em estilo oriental.

**Animes: o termo vem do inglês Animation. É usado pela cultura japonesa para designar toda forma de animação, mas ficou conhecido no restante do mundo para definir os estilos estéticos específicos de animação japonesa.

***Otaku: é uma expressão bastante usada para definir as pessoas que se interessam pela cultura pop japonesa, em especial os animes e mangás.

Autor: Redação - Lupa do Bem
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