Projeto do Rio conecta alunos a conhecimentos ancestrais por meio da dança

Grupo Jongo da Serrinha atende cerca de 100 jovens com idades entre cinco e 18 anos

20.04.23

Levar a antiga dança de roda praticada nos quintais para os palcos, escolas, praças, terreiros, ruas e outros espaços. Esse foi o motivo da criação do Grupo Jongo da Serrinha há 60 anos pela legendária Vovó Maria Joana Rezadeira, juntamente com Mestre Darcy do Jongo e Eva Emely Monteiro, filhos dela e guardiães da herança ancestral da prática.

O projeto surgiu quando os três perceberam que o último núcleo de Jongo da cidade do Rio de Janeiro estava se extinguindo. Foi criado, então, um espetáculo como estratégia de divulgação do ritmo e, principalmente, a quebra de um tabu: a permissão para a entrada de crianças e jovens na roda, antes reservada somente para os mais velhos. 

Mas afinal, o que é o Jongo?

De origem africana, o Jongo é conhecido como uma dança de terreiro. Em círculo, os participantes batem palmas e movimentam o tronco. No meio da roda fica o solista ou jongueiro, que entoa versos improvisados – os pontos. “Nas letras desses pontos estão os enigmas que o adversário na roda precisa adivinhar para ‘desatar’ ou ‘desamarrar’ o ponto. Os instrumentos tradicionais são três tambores de tamanhos diferentes: tambu, o maior; candongueiro, o menor e o caxambu, de tamanho médio. No Brasil, o Rio de Janeiro é a cidade com a maior concentração de jongueiros. 

O Grupo Cultural Jongo da Serrinha, além de apresentar shows, desenvolve vários projetos sociais. Entre eles, está a Escola de Jongo. Além disso, para firmar a continuidade aos trabalhos de preservação e divulgação do patrimônio histórico do Jongo e assistência social, o grupo também criou, nos anos 2000, o Grupo Cultural Jongo da Serrinha (GCJS), uma Organização Não-Governamental (ONG).

Lazir Sinval, jongueira, compositora, cantora, professora, sambista, e coordenadora do Jongo da Serrinha, conta que desde que ouviu o toque dos tambores pela primeira vez e aprendeu a dançar, tem paixão pelo Jongo. Quando pequena, durante as rodas que assistia, via muito as pessoas da cintura para baixo e os pés. Ela teve o privilégio de aprender a dançar com a Tia Maria do Jongo. Em geral, o Jongo é formado por famílias, e Lazir é membro da família Oliveira.

“O projeto Escola de Jongo vai completar 21 anos. Oferecemos oficinas com viés sócio-educativos, educacionais, sócio-culturais, entre outras. Os atendidos são crianças moradoras da comunidade da Serrinha e adjacências. As atividades acontecem diariamente no contraturno da escola formal e são: dança afro, percussão, capoeira, recreação, ritmo, danças populares, cavaquinho, ritmo de samba, violão e outras”, diz Lazir.

De acordo com ela, essas atividades têm como objetivos específicos fazer com que os alunos vivenciem saberes por meio da tradição oral, além de possibilitar o conhecimento e dar acesso ao estudo da memória de pontos de Jongo, de mestres jongueiros, e das próprias histórias de vida deles. Tudo isso com o intuito de fortalecer e preservar a memória, fazendo com que os alunos reconheçam os saberes e práticas dos seus ancestrais

Atualmente são atendidos 100 alunos com idades entre cinco e 18 anos. O grupo atua também em Escolas Municipais, com projetos como O Jongo na Escola. 

Além de ser um espaço de aprendizado e “resistência, a Escola de Jongo é também um espaço de aquilombamento e acolhimento.

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Neuza Nascimento
Após ser empregada doméstica por mais de 40 anos, Neuza fundou e dirigiu a ONG CIACAC durante 15 anos. Hoje é estudante de Jornalismo e trabalha com escrita criativa, pesquisa de campo e transcrições. No Lupa do Bem, é responsável por trazer reflexões e histórias de organizações de diferentes partes do Brasil para a "Coluna da Neuza".
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