Clínica Amor Pela Vida atua no atendimento de moradores de favelas no norte do Rio de Janeiro

Iniciativa existe desde os anos 1990 e busca melhorar condição física de pessoas sem fácil acesso

13.07.23

Em 1992, Sérgio Murilo foi atropelado por um caminhão, o que o levou a uma internação de 47 dias. Após passar por duas cirurgias no fêmur, Sérgio precisou usar muletas por mais de dois anos. Depois de receber alta, passou por muitas dificuldades até conseguir tratamento de fisioterapia, já que no Sistema Único de Saúde (SUS) era e ainda é muito demorado e, no particular, muito caro. Assim começou a ideia de criar a Clínica Amor Pela Vida.

Sérgio então sentiu na pele o que é ser pobre, ficar fragilizado, precisar de cuidados médicos especiais e não ter recursos. Ao mesmo tempo, observou que na comunidade onde morava havia muitas pessoas na mesma situação: com sequelas de derrame, câncer de próstata e de mama, membros amputados –  e todas sem acesso à fisioterapia. Foi então que ele teve a ideia de levar alguns benefícios aos que necessitavam de melhores atendimentos

Ele começou pedindo às igrejas locais e amigos próximos alguns artigos como muletas, cadeiras de rodas e cadeiras higiênicas, que entregava em doação às pessoas que precisavam. Às vezes, conseguia até fraldas. 

Colocando a ideia em ação

Em 1993, Sergio conhece as fisioterapeutas Marli Garcez e Susana, e os três fazem um planejamento para começar a atender pessoas necessitadas em domicílio. Após o início dos atendimentos, houve a necessidade de adquirir um espaço para montar uma clínica, onde pudessem receber mais pacientes e com mais comodidade. O fato de estarem se locomovendo entre uma favela e outra também era complicado, pois corriam muitos riscos, uma vez que a Parada de Lucas e a Vigário Geral eram, na época, facções diferentes, o que resultava em uma frequência muito alta de tiroteios – os três ficavam, inclusive, por vezes encurralados em meio à troca de tiros. 

Nos anos 2000, Sérgio, já trabalhando, fez um empréstimo para a compra de um barraco que estava à venda na localidade, com o intuito de estruturar melhor o projeto e construir um local fixo. Mas a quantia não foi o bastante, o que o fez procurar pelo pastor efetivo, na época, Josué Rodrigues de Oliveira, da Igreja Presbiteriana Betânia. Sérgio então explicou sua história e falou da necessidade de uma clínica de fisioterapia no local, ideia abraçada pelo pastor, que doou o valor que faltava para a compra. 

Nesse dia, Sérgio Murilo foi reconhecido como Missionário Urbano, cargo que ocupa até hoje na igreja. O dinheiro para a construção da clínica veio da arrecadação e venda de cartuchos vazios de tinta de impressora. Em 2003, a obra do primeiro pavimento foi concluída, tornando assim o Projeto Clinica Amor pela Vida em uma realidade física, apesar de já estar registrado e em ação desde 20 de setembro de 1993.

Propósito da Clínica Amor Pela Vida

Sergio Murilo fala com carinho sobre esse trabalho tão importante: “O objetivo da clínica é levar aos pacientes tratamento de fisioterapia e reabilitação, com o propósito de melhorar a qualidade de vida de cada um, ajudar na reinserção na sociedade e, sempre que possível, promover a volta ao mercado de trabalho. Nesses anos todos, o impacto nas vidas das pessoas atendidas têm sido muito grande”, diz ele.

Sérgio fala ainda que muitas pessoas não têm condições de se locomover por conta própria e também não têm dinheiro para pagar um carro. Com um atendimento de qualidade no bairro, dentro da comunidade, essa situação tem mais facilidade, já que a pessoa não precisa se deslocar por grandes distâncias para o atendimento –  sem falar no transporte público precário, além das vezes em que o paciente não tem dinheiro para passagem ou para um lanche durante a espera. 

A Clínica Amor Pela Vida está localizada na favela de Parada de Lucas, atende não somente os moradores dessa comunidade, mas também os de outras favelas, como Vigário Geral e bairros vizinhos. Sergio termina dizendo que os desafios são grandes, afirmando que o espaço se tornou pequeno para a demanda de pacientes a serem atendidos. Além da ampliação da clínica, é projeto futuro oferecer um curso de culinária, pois a cozinha já está com mais da metade da obra concluída.

Sérgio agradece a Deus por tê-lo abençoado, às pessoas atendidas e aos parceiros durante toda essa trajetória. Ele considera uma vitória a parceria com o Instituto Nacional de Desenvolvimento Humano (INADH), conquistada em dezembro de 2023.

Gostou do projeto? Para informações sobre como ajudar ou como se beneficiar, siga o Sergio Murilo no Instagram.

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Neuza Nascimento
Após ser empregada doméstica por mais de 40 anos, Neuza fundou e dirigiu a ONG CIACAC durante 15 anos. Hoje é estudante de Jornalismo e trabalha com escrita criativa, pesquisa de campo e transcrições. No Lupa do Bem, é responsável por trazer reflexões e histórias de organizações de diferentes partes do Brasil para a "Coluna da Neuza".
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