Protegendo a Serra da Misericórdia: Agricultura urbana e educação ambiental em ação

O projeto Telhado Verde Agroecológico está há sete anos no bairro Engenho da Rainha, zona norte do Rio de Janeiro, fazendo um lindo trabalho de preservação da Serra da Misericórdia, produzindo e doando alimentos de qualidade, sem agrotóxico

09.07.24

Ricardo Devita dos Santos, 40 anos, nascido e criado no bairro do Engenho da Rainha, na zona norte do Rio de Janeiro, é o idealizador do projeto Telhado Verde Agroecológico e, em entrevista à Coluna da Neuza, contou um pouco sobre a iniciativa.

Coluna da Neuza: O que é o Telhado Verde Agroecológico?

Ricardo: O Telhado Verde é um local onde nós, participantes do projeto, trocamos figurinhas e nos auxiliamos, pois, antes de acolher o outro, temos que nos acolher, temos que estar fortes. 

O projeto também é uma unidade de produção agrícola dentro da cidade do Rio de Janeiro. Somos certificados Bio e participamos da Rede Carioca de Agricultura Urbana, do Hortas Cariocas, um programa da Secretaria do Meio Ambiente, e atualmente estamos criando o SPG Zona Norte. 

Coluna da Neuza: O que significa SPG

Ricardo: É um Sistema Participativo de Garantia, onde os próprios agricultores se certificam entre si. Além disso, fazemos visitas mútuas, reuniões, uma série de trocas e, por fim, tentamos entender o que estamos usando na produção do alimento orgânico.

Coluna da Neuza: E o que a agricultura representa para você?

Ricardo: Para mim, é uma questão familiar, pois minha família veio da roça e, desde garoto, eu olhava para esse espaço onde plantávamos algumas coisas. Já adulto, trabalhei muitos anos como taxista e, um dia, tive uma oportunidade e resolvi mudar. Depois de muitos testes, montei um sistema de aquaponia aqui no território, onde agora fazemos agrofloresta. Usamos a floresta como base para produzirmos alimentos.

Coluna da Neuza: O que é aquaponia? 

Ricardo: É a criação de peixe integrada com hortaliças, tendo a recirculação de água e nutrientes como base, em sistema fechado, completo e de fácil manejo. Isso permite a semeadura e a produção de mudas de vegetais, possibilitando, assim, a condução de todo o ciclo de produção no mesmo local. 

A principal aplicação é a produção doméstica ou residencial, urbana e periurbana de hortaliças folhosas de pequeno porte como alface, agrião, couve, salsa e espinafre, entre outras; vegetais de médio porte, como tomateiros e pimenteiras; e peixes para consumo, como tilápias e tambaquis. 

Coluna da Neuza: Como acontece na prática?

Ricardo: Parte da água dos peixes é bombeada para um filtro biológico, onde os dejetos deles são filtrados e transformados em nutrientes para as plantas. É um sistema integrado, uma esquematização de circulação de água dentro de uma organização de produção de peixe. Assim, você consegue produzir o peixe e a horta. Isso é aquaponia.

Coluna da Neuza: Qual o objetivo principal do projeto?

Ricardo: O Telhado Verde Agroecológico tem como objetivo principal preservar a Serra da Misericórdia, que abrange 27 bairros da zona norte. Apesar de ser uma área de proteção ambiental, grileiros estão presentes.

Além da preservação, o projeto visa a utilização do território de forma social e sustentável, para produzir alimento orgânico para quem vive na localidade, melhorar a qualidade de vida e promover a segurança alimentar dos moradores.

Foto: Gabriela Santana

Coluna da Neuza: O que te trouxe para esse caminho?

Ricardo: O universo, a floresta, eu acho. Ou talvez uma missão de vida. 

Coluna da Neuza: Quais são os próximos projetos?

Ricardo: Temos a intenção de construir uma cozinha e, assim, poder beneficiar o nosso alimento, fazendo com ele que saia direto da horta para a cozinha. O objetivo é trazer autonomia para o projeto. Com ela, poderemos produzir, gerar receita e continuar doando alimento para quem precisa. É nossa intenção também vender comida orgânica e compartilhar nossa experiência na área.

Educação ambiental

O Telhado Verde também é uma unidade de educação ambiental, com um trabalho direcionado para crianças, em conjunto com a ONG Dream House. Entre outras ações, ensinam a tratar o lixo, a produzir substrato, a se alimentarem melhor e realizam mutirões de plantio com os pequenos. Além disso, oferecem suporte psicológico para crianças com alguns tipos de distúrbios. O trabalho também inclui mulheres.

Confira o depoimento de alguns membros do projeto

“Sou hortelão (responsável por cuidar da horta) e aqui faço de tudo um pouco, desde montagem de horta até escoação dos produtos para venda e doação”, explica Luiz Fernando, 33 anos, colaborador do Telhado Verde Agroecológico.

“Chego aqui toda manhã e meu papel é molhar as plantas, fazer canteiros, ajudar a  tirar as plantas das sementeiras, até chegar o momento de elas serem plantadas no solo. A cada dia que passa, aprendo mais. Vim por indicação médica, e acabei ficando; para mim, esse trabalho funciona como uma terapia”, conta a voluntária Mônica, de 54 anos.

“Meu papel é fazer um trabalho continuado com educação ambiental infantil, através de um evento mensal envolvendo cerca de 30 crianças. O objetivo é colocá-las em contato com a terra, ensinar o que é preservação e outras práticas”, conclui a colaboradora Jessica.

Foto: Gabriela Santana

Saiba como ajudar

O projeto precisa de doação de material de construção em geral, fogão, geladeira, freezer e outros utensílios domésticos para montar uma cozinha industrial de médio porte. 

Para doação em dinheiro, use o  pix 104.942.367-44 (CPF)

Para saber mais, siga o Telhado Verde Agroecológico no Instagram.

    Telhado Verde Agroecológico
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Neuza Nascimento
Após ser empregada doméstica por mais de 40 anos, Neuza fundou e dirigiu a ONG CIACAC durante 15 anos. Hoje é estudante de Jornalismo e trabalha com escrita criativa, pesquisa de campo e transcrições. No Lupa do Bem, é responsável por trazer reflexões e histórias de organizações de diferentes partes do Brasil para a "Coluna da Neuza".
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