Mover-se sem barreiras: a ONG que nasceu para garantir o acesso das pessoas com deficiência

A associação Acceso Ya (‘Acesso Já’) oferece defesa jurídica para pessoas com mobilidade reduzida. Tem 20 anos de história e conseguiu cerca de 900 ações positivas para eliminar obstáculos. Entre as mais frequentes, destacam-se as rampas, escadas rolantes e banheiros adaptados.

02.08.24

Por Paula Galinsky

“Aos 27 anos, fui diagnosticado com distrofia muscular e minha vida mudou para sempre. Até aquele momento, descia e subia correndo as escadas e nunca tinha pensado na importância de uma rampa para uma pessoa com mobilidade reduzida”. É o que diz Eduardo Rodríguez (57), que há mais de 25 anos iniciou uma reclamação devido à falta de acessibilidade na estação Jorge Newbery do trem Urquiza, localizada em Hurlingham, na província de Buenos Aires.

Essa denúncia o levou a encontrar a ONG Acceso Ya (‘ONG Acesso Já’, em português), que tem como objetivo a inclusão de pessoas com deficiência motora ou mobilidade reduzida por meio da defesa jurídica do direito à acessibilidade.

Desde então, a associação civil trabalha para promover a eliminação de barreiras arquitetônicas e gerar campanhas de sensibilização nessa linha.

Embora Eduardo se apresente como uma vítima, ele também conta que hoje, após muito trabalho em conjunto, se tornou voluntário da ONG.

Segundo ele, após seu diagnóstico e durante três anos, entre 1997 e 2000, conseguiu caminhar com muletas. No entanto, com o tempo, a doença avançou e ele teve que começar a usar uma cadeira de rodas motorizada.

Foi então que encontrou os primeiros obstáculos, quando tentou fazer cursos em um centro de formação localizado na localidade de Pablo Podestá. O trem deixava-o no local perfeito, mas a estação mais próxima de sua casa não estava adaptada e, por isso, não podia utilizá-la.

“Não estudava porque não conseguia viajar. Não podia trabalhar porque, lamentavelmente, não conseguia chegar. O mesmo começou a acontecer quando quis me envolver nas atividades de conscientização como voluntário da Acceso Ya”, comenta.

Por essa razão, iniciou uma reclamação à concessionária da Línea de Ferrocarril General Urquiza (‘Linha de Ferrovia General Urquiza”, em português) para que construíssem uma rampa na estação Jorge Newbery.

“Algo tão simples, mas bastante tedioso de conseguir: uma rampa para poder subir à estação de maneira autônoma e segura, como estabelece a Lei Nacional de Acessibilidade (N° 24.314). Uma rampa não só para mim, mas também para os vizinhos mais idosos, mulheres grávidas e crianças”, destaca Eduardo.

A ONG

A acessibilidade consiste em garantir que todas as pessoas tenham a possibilidade de utilizar os espaços públicos e privados para desenvolver suas potencialidades econômicas, sociais, culturais e individuais.

Desde a Acceso Ya, estão convencidos de que o acesso aos espaços físicos é o ponto de partida para exercer direitos e liberdades em igualdade de condições, viver de maneira independente e alcançar o pleno desenvolvimento da personalidade.

María Josefina Macías, coordenadora da Acceso Ya, explica que buscam “gerar consciência social sobre a importância de se colocar no lugar do outro e respeitar o direito ao acesso ao meio físico em condições de segurança, conforto e autonomia, assim como a possibilidade de permanência tanto em lugares públicos quanto privados”.

A organização surgiu em resposta a um caso de discriminação: em 2001, a companhia aérea Southern Winds não permitiu que passageiros com deficiência realizassem um voo dentro da Argentina por não contarem com acompanhantes. A decisão baseava-se em um manual de operações que, conforme confirmou a Justiça em 2004, continha cláusulas discriminatórias, o que levou à ordem de seu substituto imediato.

Para que a Justiça chegasse a essa conclusão, a vítima teve que agir judicialmente, algo que nem todos têm a possibilidade de fazer. Esse precedente evidenciou que pessoas com deficiência que não podem acessar um advogado estão impossibilitadas de fazer valer seus direitos. Por esse motivo, foi criada a Acceso Ya, a única ONG na Argentina dedicada exclusivamente à temática da acessibilidade física.

A instituição não tem fins lucrativos e trabalha na área há mais de 20 anos sem receber, até o momento, qualquer tipo de fundo ou subsídio estatal. Já conseguiram cerca de 900 resultados positivos em diferentes áreas de intervenção, como escolas, universidades, cinemas, teatros, calçadas, edifícios públicos e privados. Entre suas principais atividades, destaca-se a melhoria das condições no transporte.

O caso de Eduardo

Acessibilidade

Desde março de 2019, a Acceso Ya trabalha em uma ação judicial para garantir a acessibilidade física em toda a linha do trem Urquiza. O pedido inclui a estação Jorge Newbery.

Em novembro daquele ano, conseguiram uma medida cautelar para que a concessionária do serviço garantisse o acesso à estação Jorge Newbery. Atualmente, as duas plataformas contam com rampas.

No entanto, María Josefina esclarece que a situação ainda não está resolvida: “Continuamos trabalhando para que seja apresentado um plano de obras que contemple as outras estações que ainda não possuem acessibilidade”.

Sofía segue esperando

Em uma luta semelhante está Sofía Bernasconi (45). “Aos 19 anos, tive uma lesão medular e, por isso, uso uma cadeira de rodas para me locomover. Após meses de reabilitação após o meu acidente, me deparei com um monte de barreiras arquitetônicas: calçadas quebradas, rampas danificadas, lugares sem acessibilidade”, compartilha.

“Hoje trabalho em uma instituição bancária e tenho que ir todos os dias do bairro de Almagro até a Plaza de Mayo, no centro de Buenos Aires. Esse trajeto, que poderia levar 25 minutos de metrô, para mim leva mais de uma hora”, alerta.

Ela mora a duas quadras da estação Río de Janeiro da linha A de metrô, mas não pode utilizá-la porque não está adaptada para usuários de cadeiras de rodas. “Não conta com elevadores nem com escadas rolantes em nenhuma de suas entradas. Por isso, tenho que pegar um ônibus, que demora muito mais”, afirma.

“Junto com a Acceso Ya, fizemos as reclamações pertinentes. Nos responderam que as obras de adequação da estação estão previstas em um plano de obras para 20 anos. Uma loucura!”, acrescenta, garantindo que continuarão insistindo.

Como ajudar

Para saber mais sobre a Acceso Ya e colaborar, você pode acessar https://accesoya.org.ar/

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Autor: lupadobem
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