AfroGames: impacto e transformação social no mercado gamer
O AfroGames, que se apresenta como o primeiro centro de formação de atletas de e-sports (jogos eletrônicos) em favelas do mundo. É um negócio social que apresenta e insere mais de 100 crianças e adolescentes anualmente no mercado dos games.
Crédito: Divulgação
Por: Renato Silva / Lupa do Bem – Favela em Pauta
Os jovens são formados gratuitamente para atuar como possíveis jogadores, streamers de games e até programadores de jogos. Além disso, é previsto o ensino da língua inglesa em todas as formações.
Diante de qualquer cenário na sociedade, constroem-se narrativas que dão forma e significado aos locais. Quando se fala em Copacabana, por exemplo, a imaginação te transporta para um cenário quente, com o sol raiando ou se pondo, com bicicletas passando, pessoas correndo, talvez uma bossa nova tocando ao fundo, atravessada pelo som das ondas.
Na favela acontece igual, só que ao contrário: ao longo dos anos, a narrativa da violência se construiu a partir das pautas jornalísticas, no cinema e nas produções de TV, que narram sempre o local pela ausência, pela violência e morte. Mas há um bom tempo, existem pessoas que se esforçam para narrar através de um olhar de força, criatividade, cultura, esportes, movimentos e, principalmente, alegria. E esse grupo ganhou um projeto que enxerga a favela como um grande potencial de negócio e mercado: o AfroGames, uma iniciativa da ONG AfroReggae.
Por que formar jovens no mercado de games?
Inaugurado oficialmente em maio de 2019, o projeto atendeu 100 alunos naquele ano e em 2021, oriundos de Vigário Geral, Parada de Lucas, Cidade Alta e Duque de Caxias, com formação para os jogos League Of Legends, Free Fire, Fortnite e curso de programação de jogos, com o diferencial de que todas as turmas possuem inglês obrigatório.
Ricardo Chantilly, sócio fundador do projeto, conta que no AfroGames os pontos mais importantes são a inclusão e a promoção de empregos no bilionário mercado de games. “Nosso único critério aqui é que a criança seja moradora de favela. ‘Ah, mas precisa estar na escola?’ Não, se ele não está na escola, ele já está excluído. A gente não pode excluir o excluído. A gente quer incluir o excluído, entendeu? Então se ele não estiver na escola, não tem problema: ele entra, e depois nós vamos ajudar ele ir para a escola”, conta Chantilly, que acrescenta que o AfroGames dispõe de um time multidisciplinar e oferece serviço de psicologia e assistência social para direcionar os alunos mais vulnerabilizados para o ensino público.
Thais Xavier, aluna e programadora de jogos, relata a importância da iniciativa no seu início de carreira como desenvolvedora de games. “Foi aqui no AfroGames que eu consegui me encontrar na área de de tecnologia como programadora e desenvolvedora de jogos. Então, eu não me vejo mais só como aluna, eu sou uma profissional, hoje eu sou a ilustradora e desenvolvedora de jogos antirracistas e isso tem mudado a minha vida”, afirma.
Inclusão em um mercado bilionário
Hoje o projeto atende a cerca de 170 alunos a partir de 12 anos de idade, todos matriculados gratuitamente, com direito à certificação e ao diploma de formação. O AfroGames conta ainda com 15 atletas de e-sports que recebem um salário mínimo cada, além de parcerias com empresas para inclusão de estagiários de programação no mercado.
Mundialmente, o mercado de games movimenta cifras enormes. De acordo com a consultoria especializada em games da Newzoo, no ano de 2020 aproximadamente 2,7 bilhões de jogadores geraram um faturamento de mais de R$ 833 bilhões na cotação atual.
Para Chantilly, o AfroGames aponta para uma possibilidade de negócio que proporciona inclusão social dentro de um mercado em franco crescimento e margem para multiplicação do formato. “A gente quer que as empresas e governos enxerguem no AfroGames um exemplo a ser seguido. Não vamos conseguir atender à todas as favelas, óbvio, isso é impossível, mas [espero] que nós sejamos o exemplo para que outras favelas sejam “invadidas”, mas agora por tecnologia, por ensino e por emprego”, conclui.
Como acompanhar e apoiar
Para saber mais sobre o trabalho do projeto AfroGames, acesse os perfis do centro de formação nas redes sociais: Twitter, Instagram, YouTube, Twitch e Facebook.