Arte é espalhada pelas periferias de Manaus

Discutindo qual o verdadeiro espaço da arte com papéis e tintas nas praças, o projeto atraiu os olhares das crianças e dos pais

09.08.22

Crédito: Divulgação

Por: Alicia Lobato – Lupa do Bem / Favela em Pauta

Criado em 2021, no bairro Petrópolis, zona sul de Manaus, o projeto começou com uma premissa simples: levar material de pintura para as praças dos bairros e envolver as pessoas ali presentes. No entanto, o que o grupo não esperava era que iria conquistar um público específico e bem criativo: As crianças.

Da inquietação com a universidade à vontade de ver a arte além da sala de aula, foi assim que surgiu o Arte Ocupa. O projeto que conta com três organizadores, Sarah Campelo, Anderson Souza e Marcelo Rufi, todos moradores de bairros periféricos de Manaus, Amazonas, começou apenas como uma forma de ocupar espaços na capital com arte contemporânea, mas depois de um ano se consolidou como uma organização que tem contribuído para a formação de crianças e adultos em bairros da cidade. 

Com a presença das crianças, os pais também começaram a se interessar sobre o projeto. Dessa forma, o coletivo se fortaleceu e se instalou no bairro de uma das idealizadoras, Sarah Campelo, estudante de artes visuais da Universidade Federal do Amazonas. Para Sarah, foi uma surpresa a aceitação pelo projeto e a presença do público infantil: 

“Foi orgânico, nós levávamos papel e as crianças pintavam. Tem uma grandiosidade em torno disso, é um momento em que as crianças se divertem, elas se sentem importantes, criativas”. A estudante conta que não esperava que o Arte Ocupa fosse crescer tanto nesse um ano e que não tinham como objetivo o reconhecimento, “só queríamos fazer arte, sem limitações dentro da universidade e agora tem coletivos que querem trabalhar com a gente, pessoas”.

Da escassez o Arte Ocupa faz o diferencial da periferia

A falta de atividades ao ar livre para crianças nas periferias da capital foi um dos motivos do projeto ter virado atração do bairro, a relação que se formou foi de trocas, com crianças da vizinhança que não se conheciam e viraram amigas pelo projeto. E com o crescimento, surgiu também a necessidade de fortalecer o coletivo visando também pautar outros assuntos junto com as crianças, seja pelo uso de material reciclável ou sugerindo temas como o meio ambiente para elas expressarem o que entendem do assunto por meio dos desenhos.

Intervenção artística realizada pelo projeto Arte Ocupa. Crédito: divulgação.

De acordo com outro integrante do coletivo, Anderson, o espaço se tornou um ambiente onde as crianças se sentem livres não só para brincar, mas também para perguntar, aprender e ensinar. Ele complementa: “Trouxe uma diferença para o bairro, a criança brinca, está jogando bola – quando se insere algo diferente assim, muda aquele normal deles, e elas ficam mais ligadas umas com as outras. Os pais também se conheceram, e se expressam mais”. 

Anderson entrou no projeto depois de já ter iniciado. Ele conta que conheceu o coletivo pela universidade, e o interesse surgiu de imediato: “o que chamou minha atenção foi eles tirarem um tempo para ir na praça onde as crianças iam, e proporcionar um lugar onde elas pudessem se divertir. A vivência de cada uma é muito diferente uma das outras, então é importante valorizar o modo de pensar e ter um lugar onde elas possam ir e aprender sobre a arte”.

Com a alta procura pelas atividades, o evento que não tinha uma data certa começou a ser planejado para ocorrer mensalmente. Com esse reconhecimento, surgiram também outras oportunidades. Em junho, o coletivo esteve presente em um evento na zona leste da cidade, trazendo o tema “meio ambiente” para a periferia. Lá, o projeto conseguiu chamar a atenção das crianças e, rapidamente, os adultos também manifestaram interesse em levar o Arte Ocupa para os seus bairros. 

Para Marcelo Ruffi, um dos idealizadores das ações, a cena artística manauara sofre com a ausência de projetos no campo das artes e de outras atividades que poderiam mudar a realidade periférica.

“A comunidade faz o que pode de maneira natural, procurando dar o seu melhor em meio às adversidades e tentando fazer acontecer. Toda iniciativa deve ser celebrada. Vejo que o poder público local ainda finca suas políticas públicas ao centro da cidade ou áreas em que há um grande apelo de visibilidade, deixando bairros inteiros sem opções de lazer.” Marcelo se recorda de uma frase da pedagoga Rita André: “É preciso uma aldeia para educar uma criança”. Para o estudante de artes visuais, os educadores e artistas são apenas uma ponta desse processo, que deve incluir mais atores.

A arte como trabalho: os integrantes precisam viabilizar a manutenção do projeto

Em Petrópolis, o público principal são os filhos dos comerciantes que trabalham na praça. Sarah observou o projeto, então, como uma contrapartida do espaço onde eles vivem: “começamos  a ter conversas sobre como o espaço em que a gente vive nos molda, e pensamos nessa carência de projetos artísticos na periferia”. Hoje, os próprios pais mandam mensagens para ela, perguntando quando será a próxima ação do coletivo.

Arte Ocupa
Integrante do projeto em ação com as crianças da comunidade. Crédito: divulgação.

Para Sarah, seu principal sonho para o projeto é que ele se torne também o meio de trabalho da equipe. Hoje, o material utilizado nas atividades são comprados com o dinheiro dos próprios membros, mas ela explica que as ações também têm recebido doações de admiradores do projeto, que contribuem com tinta e papéis. 

Marcelo complementa, falando um pouco sobre a vontade de expansão: “Vejo o projeto em outros espaços e com públicos novos, que passam a ter a experiência Arte Ocupa. E, quem sabe, até um ateliê com espaço físico para podermos produzir, expor e guardar nossas produções.” finaliza.

Acompanhe o Arte Ocupa no Instagram

O projeto Arte Ocupa concentra sua presença nas redes através do instagram, onde é possível conhecer mais sobre o coletivo e acompanhar o trabalho: @arteocupa

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Autor: Redação - Lupa do Bem
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