Artesanato com folhas de buriti e fios de capim dourado, costurando culturas e saberes de geração em geração

Por meio do saber-fazer, as comunidades do povoado de Mumbuca, em Mateiros/TO tem criado coleções que mesclam inovação e técnicas tradicionais como o tingimento natural da linha da seda de buriti

20.04.22

Crédito: Tom Alves / Divulgação

Por: Gabriel Murga – Lupa do Bem / Favela em Pauta

A tradição do artesanato com o capim dourado, o “ouro do cerrado”, foi passada pelos índios da etnia Xerente que no começo do século XX saíram caminhando pelo lado do Rio Araguaia, passaram pelo povoado quilombola Mumbuca e ensinaram alguns moradores a “costurar capim” com a seda de buriti. Desde então, esse saber tem sido passado de geração para geração. Essa é a missão da Associação Capim Dourado do Povoado Mumbuca.

Os fios de capim dourado são costurados com a fibra fina das folhas de buriti, ambas espécies nativas do Brasil, próprias do cerrado. Dessa forma, as artesãs produzem grande diversidade de peças, como chapéus, cestos, vasos, mandalas, bandejas, biojoias, abajures e outros. 

A presença feminina é marcante em Mumbuca na liderança e organização da comunidade. As mulheres compõem a Associação do Capim Dourado, sendo responsáveis pela produção do artesanato, pelas vendas e distribuição dos ganhos.

Associação Capim Dourado do Povoado Mumbuca

A partir desse saber-fazer, as comunidades têm criado novas coleções com inovações de produtos e inserção de novos materiais, como sementes, peças em coco, e novas técnicas também tradicionais, como o tingimento natural da linha da seda do buriti. 

Assim, as artesãs que antes produziam com a técnica do trançado das fibras do capim e do buriti objetos que estavam presentes em seu dia a dia, como os chapéus que protegem os lavradores na roça, cestos entre outros utensílios, agora produzem as mais variadas peças.

Associação Capim Dourado do Povoado Mumbuca

Reconhecimento e o impulso econômico pelas mãos das artesãs do Jalapão

Após o processo de reconhecimento quilombola impulsionado pela Fundação Cultural Palmares, Mumbuca entre outras comunidades passaram a receber maior atenção externa, o que impulsionou a produção artesanal. 

A Associação Capim Dourado foi criada em 2000 por um grupo de artesãs que sentiram necessidade de se organizar formalmente para o manejo do capim dourado e de estimular a comercialização do artesanato que, hoje, constitui a principal fonte de renda das comunidades residentes no interior do Parque Estadual do Jalapão. 

A força dessas mulheres também está em evitar a mediação do atravessador da matéria-prima, garantindo maior acesso a ela. A Associação tem tido importante atuação junto às outras comunidades alojadas no Parque Estadual do Jalapão no debate em torno de estratégias que garantam tanto a sustentabilidade da região, como o fortalecimento da cultura e saberes locais.

Apesar do nome capim-dourado, as finas hastes de ouro que pintam de dourado a paisagem do Jalapão, não são capim, mas uma sempre-viva, uma planta muito resistente que mesmo depois de colhida segue viçosa por muito tempo. É uma planta do cerrado, sendo o capim dourado, especificamente, nativo da região do Jalapão.

A luta pela transformação do Parque Estadual em Reserva de Desenvolvimento Sustentável

Na margem direita do rio Tocantins, se encontra o povoado de Mumbuca, a 35 km da cidade de Mateiros, no coração do Jalapão. A comunidade quilombola Mumbuca foi fundada pelos negros, escravizados libertos e descendentes diretos de pessoas escravizadas que migraram do sertão baiano e se instalaram na região, adotando o cerrado como sua grande mãe. 

A partir da miscigenação com índios, principalmente com as mulheres indígenas, provavelmente da etnia Xerente, no final do século XVIII, formou-se uma comunidade afro-indígena, em que quase todos possuem algum grau de parentesco.

Associação Capim Dourado do Povoado Mumbuca

A presença indígena na cultura local é expressa no próprio nome do povoado, “Mumbuca”, que na língua indígena significa “abelha azul”, uma espécie comum na região. Na organização social da comunidade, os homens e as mulheres possuem papéis diferenciados. 

Os homens cuidam do plantio em que cultivam mandioca, batata, feijão, milho, entre outros, e as mulheres realizam a colheita e a preparação da farinha, além de se dedicarem ao artesanato.

O Jalapão consiste em uma Unidade de Conservação Ambiental com mais de 34 mil quilômetros de área desertificada que envolve os municípios de Lagoa do Tocantins, Lizarda, Mateiros, Novo Acordo, Ponte Alta do Tocantins, Santa Tereza do Tocantins e São Félix do Tocantins. 

É um dos poucos locais que conta com uma área considerável de cerrado conservado, onde se encontram os campos de capim dourado. A colheita é feita uma vez ao ano, no começo da primavera, junto com a semeadura, período em que se realiza a Festa da Colheita, no povoado. Como o respeito à época da colheita é crucial para a sobrevivência da planta, criou-se uma lei que regula a sua coleta. 

Como apoiar e acompanhar a Associação Capim Dourado do Povoado Mumbuca

Para acompanhar o trabalho da associação acesse o site da Artesol. Para apoiar diretamente a iniciativa entre em contato com o e-mail associa.mumbuca@gmail.com.

  

Autor: Redação - Lupa do Bem
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