Associação TransMujer: A ONG que fortalece o autocuidado

Liderada por Pamela Montaño, a Asociación TransMujer fortalece o autocuidado na Colômbia, oferecendo educação sexual e apoio a mulheres trans e cisgênero.

01.08.24

Por Laura Reyes

Pamela Montaño, fundadora da Associação TransMujer, está transformando a educação sexual na Colômbia. Ao contrário das abordagens tradicionais, como aulas em sala de aula ou conversas constrangedoras com os pais, sua ONG oferece suporte e conhecimento tanto para pessoas trans quanto cisgênero, especialmente aquelas que trabalham na indústria do sexo. Montaño e sua equipe destacam a importância de receber educação sexual abrangente de fontes diversas e especializadas, fazendo uma diferença significativa na vida de muitas pessoas.

A prevalência de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) na Colômbia é alarmante; nos primeiros meses de 2023, foram relatados 4.716 casos de HIV/AIDS, e o Ministério da Saúde indicou que a cada dez horas um colombiano contrai uma DST, como herpes, sífilis ou gonorreia. A Dra. Alexandra Caballero, especialista em medicina sexual, destaca que a educação sexual desde a infância é deficiente, pois, em vez de promover o autocuidado e o amor-próprio, baseia-se no medo. Isso impede uma compreensão saudável e positiva da sexualidade.

Uma Figura Materna na Comunidade

Pamela Montaño Díaz, uma mulher de estatura esguia, frequentemente descrita de forma carinhosa como uma figura materna por alguns dos beneficiários, dedica seu tempo a participar de colóquios na Universidade Javeriana de Cali e a treinar e liderar questões relacionadas à educação sexual e ao autocuidado. No entanto, ela nem sempre soube que sua vocação seria liderar em sua comunidade nem que seu objetivo seria se tornar uma espécie de “mãe” que educa, cuida e até repreende seus beneficiários como se fossem seus filhos.

A Luta de Pamela Montaño na Vida

Vítima de rejeição e de violência física e psicológica por parte do pai, Pamela decidiu fugir aos 13 anos, refugiando-se na casa de uma amiga e sua mãe. Na década de 1980, ela trabalhou em um de seus sonhos: ser cabeleireira e esteticista. Infelizmente, sua mão direita foi afetada após um acidente de trânsito, o que a impediu de continuar com seu trabalho.

Pamela percebeu os estigmas em torno da comunidade LGBTQI+, especialmente em relação às pessoas trans. Dois desses estigmas eram o mau trato por parte de instituições, como a polícia; e a violência. Por exemplo, algumas pessoas eram HIV positivas, e gangues criminosas atacavam outras por causa de sua identidade sexual. Apesar dessa situação, elas não recebiam atendimento médico. Isso a motivou, aos 33 anos, não apenas a articular-se com outras mulheres trans, mas também a criar uma organização que facilitasse o autocuidado de mulheres trans e cisgênero que trabalham na indústria do sexo.

O Nascimento da Associação TransMujer

Inicialmente, Pamela não recebeu apoio total de seus amigos na indústria do sexo. “Eles riam de mim e só estavam interessados em ganhar dinheiro. Consegui convencê-los a assinar os estatutos, mas eles não mostraram interesse além disso.” Apesar da relutância, Pamela conseguiu que seus amigos assinassem os estatutos, embora seu compromisso com o envolvimento ativo permanecesse incerto.

Com o apoio de um contador, ela registrou a associação na Câmara de Comércio de Cali. “Decidi nomeá-la de Associação porque não é uma fundação, Associação de Travestis e Transexuais: TransMujer”, explica. Ela também acrescenta que, apesar de ter percebido que mulheres cisgênero podem ter mais complicações devido aos exames exigidos, decidiu incluí-las na associação. Finalmente, a associação foi consolidada em 2009.

A Revolução da Associação TransMujer

O início dessa associação trouxe dificuldades de grande magnitude; uma das principais que Pamela encontrou foi a violência. Ela afirma que, ao começar seu processo de capacitação de trabalhadoras do sexo, recebeu ameaças de negócios especializados nessa indústria, pois temiam que houvesse uma rebelião contra eles. “Isso me fez me esconder por praticamente quatro meses na casa de José Ignacio Urrego, ele é antropólogo e no momento está em Paris; eu tive que me retirar”, diz. Vale ressaltar que essa casa acabou se tornando a sede principal da associação.

Mas quando uma porta se fecha, outra se abre. Essa situação permitiu que ela conhecesse mais mulheres cisgênero para orientar e educar em educação sexual. “Quando elas ficavam doentes, eu as levava, mesmo que não tivessem seguro social. Com o tempo, ganhei a apreciação delas e do Ministério da Saúde e do departamento.”

O que torna a TransMujer uma associação revolucionária é o suporte que oferece a mulheres trans e cisgênero, proporcionando oficinas de autocuidado relacionadas à saúde e à educação sexual. Além disso, rompe com padrões inequítativos. “O trabalho que a Pame fez com as equipes nas quais esteve é um trabalho muito destacado na prevenção da transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, HIV, sífilis e hepatite, entre outras. O trabalho deles é mais educativo, para gerar informações para que as pessoas que trabalham com sexo ou com seus parceiros compreendam e entendam,” diz Paula Hoyos, assistente social da associação e psicóloga, mestre em família e doutora em psicologia.

Autossuficiência e Parcerias-Chave

Graças ao trabalho de Pamela em Jamundí, o Ministério da Saúde doou mais de 10.000 preservativos e apoio médico. “Organizamos um dia de saúde em Cali e lotamos o auditório com 250 mulheres. A resposta foi tão grande que tivemos que pedir ajuda a outras organizações para preencher os formulários”, diz orgulhosa.

Em 2011, o Global Fund se interessou em trabalhar com trabalhadores do sexo, e Pamela estabeleceu sua fundação em sua própria casa, doando mais de 10 milhões de pesos colombianos. Apesar da violência na região, essa aliança foi crucial.

Em 2018, a Associação TransMujer ganhou uma chamada do Ministério das Ciências, em colaboração com a Universidade Javeriana e a Fundação TransMujer. “Formamos uma equipe com três pessoas de cada instituição e conseguimos”, diz Paula.

Pamela destaca que a maioria dos fundos veio de seu trabalho como trabalhadora do sexo e das chamadas que gerenciou. Ela se destacou por sua liderança e pela paixão com que realiza seu trabalho, além de sua capacidade de brilhar em instituições educacionais e de saúde na Colômbia.

Um impacto que marca vidas

Pamela Montaño ajudou mais de 1.000 mulheres por meio da Associação TransMujer. Brenda Castaño, beneficiária da fundação, compartilha: “Tem sido muito importante. Elas estão sempre atentas às doenças e à prevenção. Elas sabem o que pode acontecer com a gente, garotas, se não nos protegermos. Nos dizem muito ‘Faça o teste se você estiver nesta situação!’ Elas nos dão muito apoio e acompanhamento para que tomemos os retrovirais.” Brenda também observa que Pamela a ensinou sobre amor-próprio. Por sua vez, Luisa Restrepo, uma mulher trans, destaca os benefícios recebidos da TransMujer, como um milhão de pesos e uma cadeira de urgência.

O impacto da Associação TransMujer, liderada por Pamela Montaño, vai além de números e estatísticas. Seu trabalho transformou vidas por meio da educação sexual abrangente e do autocuidado, fornecendo suporte crucial a mulheres trans e cisgênero na indústria do sexo.

Apesar dos desafios e adversidades enfrentados, a associação criou um espaço seguro e empoderador, demonstrando como o comprometimento e a paixão podem gerar mudanças significativas. A história da TransMujer não apenas impacta positivamente suas beneficiárias, mas também oferece um modelo inspirador para enfrentar a exclusão e construir um futuro mais inclusivo e saudável.

Se você quer e pode contribuir, entre em contato com Pamela Montaño: +57 318 8287132.

Autor: lupadobem
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