“A gente já disse tudo”: o Bando de Teatro, formado por jovens de periferia potencializa juventude no debate de temas socialmente relevantes

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Por: Eduarda Nunes – Lupa do Bem / Favela em Pauta

Foi a partir do projeto “Redução de Danos: Eu Curto Essa Ideia” que Givanildo Francisco chegou à comunidade de Santo Amaro, área central do Recife, em agosto de 2013. Além da discussão sobre o uso problemático de drogas que o projeto do Instituto de Assistência Social e Cidadania (IASC) provocava, o educador social pode também trazer para 22 adolescentes a cidadania que muitas vezes não se apresenta para quem nasce na periferia. Desse modo, ele colocou em prática a otimização dos talentos de cada um.

O impacto desse encontro resultou no Bando de Teatro A Gente Já Disse Tudo, grupo que tem no teatro um instrumento para a arte-educação, que é base para a transformação social que acontece a partir das vivências dos integrantes. Esse é um projeto que, hoje, faz parte do Fábrica Fazendo Arte, ONG que trabalha as temáticas dos Direitos Humanos em favelas e periferias do Recife.

“O grande mote da comunicação que a gente faz no teatro é a nossa favela e trajetória de vida”, conta Jefferson Vitorino, que hoje é coordenador do grupo e um dos co-fundadores. 

Aos 27 anos, o dançarino recém formado no curso de História conta um pouco dos 8 anos de atuação do grupo. “Quando a gente está na escola, tem mais tempo de estar em todos os ensaios, se encontrar, aí a gente vai crescendo, tem que trabalhar, tem filho e vai precisando se dedicar mais a outras questões”, relata Jefferson. 

No entanto, o coordenador se emenda dizendo que, embora só tenham restado 3 da formação original na equipe, todos seguem fortalecendo o trabalho que o Fábrica realiza na comunidade. Hoje o projeto é tocado por 14 integrantes.

Com 9 anos de história, o principal plano futuro do grupo é conseguir seu espaço próprio. Atualmente, o projeto faz suas reuniões e ensaios na Escola Municipal Sede da Sabedoria, em Santo Amaro, bairro em que mora a maior parte dos integrantes. 

O Bando de Teatro A Gente Já Disse Tudo é formado por jovens artistas que atuam voluntariamente e acreditam na importância da democratização da arte. Além das peças de teatro, o grupo também realiza intervenções artísticas em espaços públicos ou eventos.

“Com um espaço nosso a gente consegue ampliar nossa autonomia e a também a participação das pessoas, porque hoje a gente tem que seguir também a disponibilidade da escola pra gente poder fazer nossos encontros”, conta Jefferson. 

Para ele, as ONGs e outras organizações que realizam projetos com foco em Direitos Humanos nas favelas são importantes para a transformação social do lugar e das pessoas que moram nele.

Teatro além do entretenimento

O primeiro espetáculo realizado ficou pronto ainda em 2013 e leva o mesmo nome do grupo. Em “A Gente Já Disse Tudo”, os jovens atores utilizaram o palco para desabafar o que estava engasgado e contar suas verdades para o mundo. 

“São crianças e adolescentes que sufocam todos os dias com as diversas expressões do racismo, do machismo e da criminalidade. Implicações que vulnerabilizam ainda mais as famílias periféricas. Foi um primeiro momento para entender a importância que as narrativas de cada um tinha”, acrescenta Jefferson.

Em 2015, o grupo finalizou e pôs no mundo o “Não Me Abuse”, com um texto que provocou bastante reação do público. A produção abordava os temas de abuso e violência sexual, e Jefferson conta que era perceptível que parte da plateia entendeu que havia sofrido ou presenciado algum tipo de situação nesse âmbito a partir da peça.

Depois desses, Urbano (2017), 7 Cracks (2018) e Boom (2019) deram sequência à trajetória do projeto nos palcos dos teatros em Pernambuco, Paraíba, Rio de Janeiro e outros estados. Todas as peças também fizeram parte da programação do Janeiro de Grandes Espetáculos, um festival internacional de artes cênicas em Pernambuco, que em 2023 realiza sua 29ª edição.

A peça mais recente do grupo chama-se “Mocambos – Retratos da Fome” e teve sua estreia no último dia 18 de outubro. O tema é abordado através de uma personagem que é constante na história das periferias. O texto mistura os anos 30 e 40, quando a cidade do Recife era tomada por mocambos, instalações precárias de habitação que se assemelham às palafitas, como nos dias de hoje. 

Contribua com essa história

Para contribuir com o Bando de Teatro A Gente Já Disse Tudo é preciso entrar em contato com o Fábrica Fazendo Arte através do Instagram para produção, orçamento de apresentações e formas de colaboração que podem ir além do financeiro.