Moradores de rua vão às compras em projeto social

O projeto consiste em uma barraca de feira comum; a diferença é que os clientes não pagam pela mercadoria escolhida, mas sim a recebem como doação

02.04.24

Cheguei na Barraca Solidária bem cedo, pouco depois das seis da manhã. Os organizadores ainda não estavam no local, mas os beneficiários já haviam formado uma fila com objetos inusitados, como carrinhos de feira e de criança, galhos de árvore, chapéus, bolsas; enfim, diversos artefatos diferentes compunham aquela fila, junto com as pessoas. 

Andado um pouco, descobri que a fila era por conta do sol, mas na hora de pegar cada um o seu número, fizeram uma fila certinha e sem confusão.

Enquanto esperava para entrevistar a organizadora, falei com Bruno, carioca, 43 anos, em situação de rua e torcedor do América. Perguntei o que a Barraca Solidária representa para ele: “uma coisa boa, legal e diferente”. Mais tarde pude entender o que Bruno quis dizer.

De fato, o projeto merece todos esses adjetivos. Os organizadores realizam a ação de uma forma muito humana e respeitosa. Não importa o gênero ou aparência da pessoa atendida, se está ou não permanentemente em estado de rua, ou se tem uma situação um pouco melhor e até tem um cantinho para morar.

Como é o caso de Vitor, 10 anos, cujo sonho é entrar para a escola e um dia ser jogador de futebol, que mora com a mãe e o irmão na Ocupação Urbana Almirante João Cândido, no centro do Rio. Todos são tratados de forma igual. 

Depois da distribuição dos números, os atendidos são convidados a dar seus nomes, que são anotados num caderno e em seguida vão às compras, um de cada vez. Sim! O beneficiário escolhe entre os itens o que precisa com total liberdade.

E, como não podia deixar de ser, tem também as prioridades como cadeirantes, pessoas com bebês, alguém que esteja passando mal e outros, esses são atendidos primeiro. 

Hoje, o projeto conta com três barracas bem sortidas com café da manhã, frutas, sucos, biscoitos, água, doces, itens de higiene pessoal, roupas organizadas, balas, calçados e muito mais. Tudo separado por categoria.                     

O início da Barraca Solidária

Monica, fundadora e organizadora do projeto, conta como começou: “sempre que eu andava pelo bairro da Glória, zona centro do Rio de Janeiro, sentia uma angústia muito grande ao ver tantas pessoas em situação de rua. Eu queria fazer alguma coisa, mas me sentia de mãos atadas por não saber como ajudar. 

Começamos com distribuição de quentinhas e depois, conversando com o pessoal da feira, que acontece no bairro, veio a ideia da Barraca Solidária.

A princípio, alugamos um tabuleiro (barraca) e no primeiro evento atendemos 30 pessoas e, com o passar do tempo, foram chegando mais voluntários, as doações aumentaram e consequentemente o número de atendidos também”.

No dia dessa entrevista, o projeto provocou sorrisos de satisfação e alegria em cerca de 180 pessoas.

Durante entrevista à Coluna da Neuza, Rodrigo Cabral, voluntário desde a segunda edição da Barraca Solidária, diz que, depois das quentinhas, o trabalho se consolidou e veio a ideia de criar o projeto que, agora, é algo permanente. 

“Começou acontecendo a cada 15 dias, mas não conseguimos atender a demanda, pois vinha muita gente e as doações eram poucas, então passamos a fazer mensalmente”,  diz. 

Além das arrecadações que já realizavam, agora estão explorando outras opções, como as rifas. Começaram a rifar uma Alexa no final de 2023 e, recentemente, em uma parceria com a Santa Tênis, cujo dono é voluntário, rifaram um vale de 300,00 reais, arrecadando cerca de mil reais.

Abaixo, alguns depoimentos de voluntários e beneficiados da Barraca Solidária

Luísa, uma mulher trans, cujo sonho é ter uma casa própria e um emprego fixo, tem 46 anos. Ela saiu das ruas há cinco meses e agora mora na Lapa, no centro do Rio. Luísa frequenta a Barraca há muito tempo, onde costuma pegar alimentos e roupas.

Ana Clara, de 15 anos, e João Pedro, de 12, contam que o pai os convenceu a participar como voluntários, e agora eles vão todos os meses para ajudar. Eles afirmam que o evento causa um impacto muito grande neles, que estão fazendo, e ainda mais nas pessoas que são beneficiadas. 

Para concluir, Mônica diz que a Barraca Solidária é uma resposta à ansiedade que ela e as pessoas que a acompanham no projeto tinham ao ver outras pessoas em uma situação tão desumana, como a situação de rua. 

Convite

“Venham conhecer o projeto de perto! É uma experiência muito interessante ver a energia emanada pelos voluntários e todo esse trabalho coletivo. O retorno que os assistidos nos dão é imediato, percebo que realmente fazemos a diferença em suas vidas. Venham todos, conheçam nosso trabalho. Seja voluntário por um dia na Barraca, venham fotografar e participar”.

Toda doação será bem recebida, por menor que seja. Para se ter uma ideia, com 10 reais é possível comprar um kit de higiene,

Como ajudar?

Sendo voluntário, doando alimentos, roupas, calçados, itens de higiene pessoal, utensílios para casa ou qualquer valor através da Chave Pix: barracasolidariarj.com.br

A Barraca Solidária acontece todo primeiro domingo do mês na Feira da Glória, na calçada em frente a Praça Paris, das 08:00 às 10:00

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Neuza Nascimento
Após ser empregada doméstica por mais de 40 anos, Neuza fundou e dirigiu a ONG CIACAC durante 15 anos. Hoje é estudante de Jornalismo e trabalha com escrita criativa, pesquisa de campo e transcrições. No Lupa do Bem, é responsável por trazer reflexões e histórias de organizações de diferentes partes do Brasil para a "Coluna da Neuza".
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