Vaga Lume transforma a vida de crianças da Amazônia por meio da leitura há mais de 20 anos

Associação começou com uma biblioteca comunitária em Soure e Alter do Chão, no Pará, em 2001 e hoje está presente em 22 municípios da região amazônica

28.03.24

Toda criança adora uma boa história. Quando ela é contada com entusiasmo, então, fica guardada na memória até a vida adulta. As educadoras e fundadoras da Vaga Lume sabem bem disso. Não à toa, vêm implementando bibliotecas comunitárias e formando mediadores de leitura no interior da Amazônia desde 2001. O tamanho desse impacto é imensurável. Ao exercitar o gosto pela leitura em crianças, transforma jovens e adultos em voluntários prontos para conduzir as mediações no futuro. 

Assim o ciclo se mantém há mais de 20 anos. O projeto, que começou com uma viagem de três amigas recém-formadas saindo de São Paulo rumo ao Pará, hoje está presente em 9 estados, somando 95 bibliotecas distribuídas em 22 municípios da região. Todos os livros são comprados por meio de leis de incentivo, entre outros tipos de financiamento, e doados para as comunidades. 

“Nós atendemos comunidades quilombolas, ribeirinhas, indígenas, assentamentos e comunidades de estradas, enfim, comunidades rurais com o propósito de empoderar as crianças a partir da promoção da leitura e da gestão das bibliotecas comunitárias. São espaços para compartilhar saberes”, conta Lohana Gomes, educadora da Vaga Lume.      

Acesso à leitura 

O acervo das bibliotecas é escolhido a dedo e tem como foco a literatura. O número de obras varia, por conta dos patrocínios. Em 2023, por exemplo, foram 146 livros para cada biblioteca. Entre os livros, estavam “A Caminho da Escola”, de Rosemary McCarney, “Letras de carvão”, de Irene Vasco e “Malala, a menina que queria ir pra escola”, de Adriana Carranca.  

Segundo Lohana, a ideia é que todos da comunidade tenham acesso ao acervo. “Buscamos o que tem de melhor no mercado editorial, pensando muito na diversidade e qualidade desses livros, trazendo uma representatividade para o acervo, com literatura negra, indígena, acessibilidade, autores estrangeiros e locais”, explica. 

Como muitas vezes a biblioteca está alocada nas escolas, os mediadores fazem a leitura embaixo de árvores, na beira do rio e em outros espaços ao ar livre que contemplem todos os moradores. “Incentivamos a mediação de leitura enquanto ação cultural e, para que esses livros estejam acessíveis, utilizamos os diversos espaços da comunidade, proporcionando uma proximidade intergeracional que já existe, entre os mais velhos e os mais novos, diz a educadora. 

Imagem: reprodução.

Associação Vaga Lume

As bibliotecas comunitárias são abastecidas com o novo acervo todo ano. Às vezes, porém, acontece das crianças gostarem tanto de uma obra que a comunidade acaba pedindo um novo exemplar do mesmo livro. “Nós temos um caderno de memórias onde os mediadores de leitura anotam os livros que eles querem, novidades ou não”, aponta Lohana. 

“Enviamos livros com temática LGBTQIAP+, livros da bell hooks, Conceição Evaristo… Abrimos uma biblioteca comunitária ano passado, por exemplo, onde os voluntários solicitaram um acervo focado em literatura negra. A comunidade havia acabado de se reconhecer como quilombola e estava buscando se empoderar através dos livros”, continua. 

Para manter as bibliotecas comunitárias fortalecidas e ativas, a Vaga Lume promove a formação dos mediadores de leitura. Essa formação é feita por uma equipe técnica própria, composta por dois ou três educadores, que vão até as comunidades falar sobre os conceitos e práticas. “É um processo bem construtivo. Depois fazemos os encontros regionais com os mediadores de praticamente todas as comunidades para fazer uma troca de experiências.” 

Os mediadores são todos voluntários. “É importante que a biblioteca tenha um grupo de pessoas envolvidas e comprometidas com esse trabalho para que aconteça de fato. Então todas as pessoas da comunidade podem se tornar novos mediadores, seja no âmbito da escola, lideranças e, principalmente, os jovens, que têm muitas ideias, muita energia”, ressalta Lohana.

Livros artesanais

O fortalecimento da cultura dos territórios também faz parte do trabalho ligado às bibliotecas comunitárias. “Às vezes, as crianças não conhecem a história local, por isso valorizamos a conexão intergeracional e fazemos rodas com os mais velhos, que falam sobre como a comunidade foi construída, as lendas e as histórias locais”, conta Lohana. 

Algumas rodas de história acabam rendendo livros artesanais feitos pelos próprios moradores. As pessoas que contam a história da comunidade são as autoras do livro, e fazem tanto o texto quanto as ilustrações. Em algumas comunidades indígenas, o livro é escrito na língua nativa. Depois, os livros são impressos e distribuídos nos outros territórios apoiados pela Vaga Lume, para que haja uma troca de saberes.

“A história do boto que acontece em Oriximiná é diferente da história do boto em Soure. Cada comunidade tem sua própria especificidade, e o livro é uma forma de preservar esse patrimônio imaterial e também de observar e valorizar o que essas comunidades têm de mais importante”, lembra a educadora. 

Imagem: reprodução.

As crianças da Amazônia

Dentro desse processo de aprendizagem ligado à leitura e contação de histórias, a Vaga Lume ainda promove um programa de intercâmbio cultural entre crianças da Amazônia e do Sudeste, de 10 a 14 anos. De um lado, as crianças realizam oficinas durante todo o ano em que falam sobre suas vidas: como vivem, como vão para a escola, o que comem, etc. 

Do outro, educadores de São Paulo visitam as comunidades da Amazônia e depois contam aos seus alunos o que vivenciaram no território. Do mesmo modo, os educadores da Amazônia viajam até o Sudeste para conhecer as escolas e os alunos, e depois contam o que vivenciaram para as crianças das comunidades. 

Durante o resto do ano, as crianças continuam trocando experiências por vídeos, cartas e presentes. “Elas acabam conhecendo suas especificidades e valorizando mais a sua comunidade”, diz Lohana.

Prêmios e ESG

A Vaga Lume já ganhou diversos prêmios, nacionais e internacionais, incluindo três vezes o de Melhor ONG de educação do Brasil e o prêmio Jabuti de fomento à leitura. Além de contar com leis de incentivo, a associação também faz parcerias com empresas, por meio de ESG, garantindo dessa forma a constância das suas ações. Com isso, as bibliotecas comunitárias movimentam cada vez mais uma rede de conhecimento, interesse e respeito. “A biblioteca não é da Vaga Lume, são das pessoas que estão no território”, orgulha-se Lohana. 

Imagem: reprodução.

Quer apoiar essa causa?

Nesses 22 anos, a Associação Vaga Lume já enviou mais de 160 mil livros para as comunidades rurais da Amazônia e formou cerca de 5 mil mediadores de leitura. Doações e voluntariado são sempre bem-vindos! Quer saber mais? Visite o site ou siga as redes sociais no Instagram e Facebook.

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Maira Carvalho
Jornalista e Antropóloga, Maíra é responsável pela reportagem e por escrever as matérias do Lupa do Bem.
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