Campanha nacional de apoio aos Yanomami gera intensa mobilização na sociedade civil

Ataques sistemáticos à Terra Indígena Yanomami deixaram populações em situação de extrema vulnerabilidade

06.02.23

Os Yanomami estamparam recentemente a capa de diversos jornais no país e no mundo com a notícia de centenas de mortes de crianças devido à fome. As imagens dos corpos desnutridos de crianças e idosos geraram intensa comoção e ações de solidariedade se espalharam por todo Brasil. A sociedade civil rapidamente se organizou e lançou campanhas de combate à fome e de assistência à saúde pelo bem dos Yanomami. O Lupa do Bem compilou as principais delas para quem quiser colaborar:

A Central Única de Favelas – CUFA e a Frente Nacional Antirracista se aliaram na campanha “Favelas com Yanomamis”. A meta é angariar 3 milhões de reais que deverão ser usados com o abastecimento de alimentos e a construção de dois centros de saúde no território. Ao todo, R$300 mil já foram arrecadados. Para mais informações, acesse o site da CUFA: https://favelascomyanomami.com.br/

A Ação pela Cidadania também montou uma grande campanha chamada SOS Yanomami. É possível colaboração com doações a partir de R$15,00 através do site: https://www.acaodacidadania.org.br/ 

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB e Conselho Indígena de Roraima – CIR também se juntaram na divulgação dos canais de doação direto para associações Yanomami. Maiores informações, acesse o perfil no Instagram: https://www.instagram.com/apiboficial/  ou mande um e-mail para apib.se@apiboficial.org.

Alimentos arrecadados pela CUFA. Imagem: Reprodução Jornal Nacional

Entendendo a crise 

A Terra Indígena Yanomami forma o maior território indígena coberto por floresta no mundo. Localizada na fronteira entre Brasil e Venezuela, abriga diversas populações, incluindo indígenas isolados. Somente no Brasil, a T.I Yanomami possui uma população de quase 27 mil habitantes e uma extensão de 9,6 milhões de hectares, uma área equivalente a duas vezes o Estado do Rio de Janeiro. 

O território foi demarcado em 1992 e tem um histórico de intensos e constantes conflitos ligados ao contato e à exploração predatória da região por não indígenas, em especial, atividades ligadas ao garimpo. Logo após a demarcação, em 1993, garimpeiros assassinaram 16 Yanomamis, incluindo um bebê, em um massacre que foi julgado como genocídio pela justiça brasileira. Foi a primeira e única vez que o tribunal brasileiro condenou os réus por genocídio na história do país. 

Nos últimos anos, invasões de garimpeiros se intensificaram e a partir de 2018, com o desmonte dos órgãos de assistência e de fiscalização, a crise de saúde no território se agravou. Estima-se que em 2020, havia cerca de 20 mil garimpeiros na T.I Yanomami. O garimpo leva violência, doenças e degradação ambiental por onde passa. Na T.I Yanomami, casos de jovens aliciados e de violência sexual contra meninas e mulheres tornaram-se comuns, assim como o aumento de casos de doenças muitas vezes fatais para os indígenas, como gripe, pneumonia e malária e de intoxicação por mercúrio.  

Imagem: Reprodução/Mário Vilela/Funai

Segundo Oswaldo Souza, jornalista do Instituto Socioambiental – ISA, organização não-governamental que mantém uma sólida parceria com os Yanomamis há mais de duas décadas, “todo o quadro é agravado pelo desmonte da assistência aos indígenas. Além disso, os invasores têm se apossado de parte da infraestrutura de atendimento, como pistas de pouso e postos de saúde”.

A degradação ambiental causada pelo garimpo ilegal na região também agravou o acesso dessas populações aos alimentos. Apesar de habitarem a maior terra indígena do Brasil, os Yanomami estão enfrentando escassez de alimentos. Com o aumento vertiginoso do desmatamento e rios poluídos, a caça e os peixes ficaram cada vez mais raros, impossibilitando o consumo de proteína animal. A agricultura, feita de modo tradicional, também se tornou insuficiente nesse contexto de terras ocupadas e degradadas.

Como explica Souza, “a violência do garimpo dificulta a presença de equipes médicas, a distribuição de medicamentos e alimentos. Sem comida e assistência médica, a condição dos enfermos piora. Como a economia indígena depende da mão de obra familiar, as atividades tradicionais de subsistência ficam inviáveis com as pessoas permanentemente adoecidas ou trabalhando no garimpo, num círculo vicioso de fome, debilidade física e escassez”.

Em matéria publicada no site do ISA, Oswaldo Souza aponta todas as circunstâncias que levaram ao desfecho da notícia de 570 mortes de crianças com menos de cinco anos entre 2019 e 2022. A matéria foi feita para esclarecer as inúmeras notícias falsas que começaram a circular após o escândalo. Para saber mais, acesse a matéria no link.

Como medir o impacto do garimpo em terras indígenas

Para calcular os impactos do garimpo, o Ministério Público Federal – MPF, em parceria com a Conservação Estratégica, desenvolveu uma ferramenta online que estima o valor financeiro dos danos socioambientais causados pelo garimpo ilegal na Amazônia. A plataforma calcula o valor monetário dos prejuízos gerados pela atividade ilegal na floresta, levando em conta o desmatamento provocado, o assoreamento dos rios e as consequências da contaminação pelo mercúrio na natureza e na saúde humana.

Infográfico da calculadora de impacto do garimpo. Imagem: Reprodução CSF/MPF.

O cálculo é obtido a partir da combinação de critérios como a quantidade de ouro extraída, o tipo de garimpo utilizado (aluvião, balsa ou poço), o local da extração, a área e as populações afetadas, entre outros requisitos. Caso o usuário não disponha de todas essas informações, a ferramenta utiliza parâmetros médios das formas de garimpo ilegal mais comuns já detectadas na região.

Espera-se que a calculadora possa ser usada como instrumento para ajudar órgãos públicos e sociedade na prevenção e combate à extração ilegal de ouro na região. A calculadora pode ser acessada aqui https://calculadora.conservation-strategy.org/#/

QUER APOIAR ESSA CAUSA? 

Você pode doar para: 

Central Única das Favelas

PIX:  doacoes@cufa.org.br

Financiamento coletivo: www.vakinha.com.br/3425141

Depósito bancário: Bradesco – 237, Ag. 0087, Conta corrente 3582-3 e Itaú-341, Ag. 0402, Conta corrente 17369-4.

Ação pela Cidadania

PIX: sos@acaodacidadania.org.br

Para doações via cartão de crédito, Pay Pal, boleto e Pic Pay, acesse o site: https://www.acaodacidadania.org.br/  

APIB, COIAB E CIR

Depósito bancário: Associação Ypasali Sanuma – Banco do Brasil, Agência: 0250, Conta corrente: 125.892-3 ou pelo PIX CNPJ: 34.141.441/0001-25

Depósito bancário: Conselho Indígena de Roraima – CIR: Banco do Brasil, Agência: 2617-4, Conta-Corrente: 59027-4 ou pelo PIX: conselhodaf@gmail.com, CNPJ:34.807.578/0001-76.

Depósito bancário: Hutukara Associação Yanomami – PIX CNPJ: 07.615.695/0001-65.

    Associação Povos da Terra
    Associação Povos da Terra
    Precisando de: Doações Voluntários
    Localização
    Contato
    Apoio
Maira Carvalho
Jornalista e Antropóloga, Maíra é responsável pela reportagem e por escrever as matérias do Lupa do Bem.
Compartilhar:
Notícias relacionadas