A primeira sala pública de cinema da favela do Coroadinho (MA)

Crédito: Divulgação

Por: Renato Silva – Lupa do Bem / Favela em Pauta

“Quando uma mulher preta avança, ela nunca avança sozinha, mas junto com a comunidade”, assim Julianna Costa, a Jú do Coroadinho, começa a apresentar o feito do Coletivo Mulheres Negras da Periferia ao criarem o Cine Coroadinho, que populariza o acesso ao cinema na favela localizada na periferia de São Luís do Maranhão.

Criado há apenas 4 anos, o Coletivo Mulheres Negras na Periferia teve o projeto para a sala pública de cinema aprovado no fim de 2021, logo as integrantes começaram a rodar os cantos da favela com atividades mensais ou quinzenais com exibição de documentários e filmes temáticos para crianças e público em geral do Coroadinho.

De acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 2011, sobre aglomerados subnormais, o bairro Coroadinho – ou favela do Coroadinho – é a quarta maior favela do Brasil, com uma população de 53.945 pessoas. Com esses índices, Coroadinho foi apontada também como a maior favela de todo Norte-Nordeste.

E é também com base nessas informações, que Jú do Coroadinho conta que as motivações para iniciativas vêm da desigualdade social e racial. 

“A gente é uma comunidade muito preta e muitas mulheres fortes que tão ali sempre na luta junto com o coletivo de mulheres negras. E o cinema foi uma coisa que sempre me impactou, assim no meu coração, porque a primeira vez que eu levei minha mãe [Rosângela Costa, 56] ao cinema, ela já tinha quarenta e oito anos, eu tava no meu primeiro emprego e minha mãe sempre falava muito da questão dela conhecer, ela nunca tinha entrado numa sala de cinema. E eu comecei a perceber que isso era negado para nós, que moramos em favela, pessoas pretas e pobres também”, conta Julianna, que segue explicando o porquê do não acesso à cultura na favela. 

“Esse acesso é negado porque geralmente as salas de cinemas são em shoppings, do outro lado da ponte. É bem longe e é caro também pra conseguir pagar alimentação, tem que ter uma roupa adequada”, conta a ativista. 

Através de um edital foi que o Coletivo viu a chance de potencializar sonhos na favela por meio da cultura. “A gente fica muito feliz de poder falar do cinema, de poder falar que seis anos depois a gente tem uma garantia de que a gente vai conseguir mudar algumas realidades, vai conseguir mudar essa concepção do cinema está concentrado em lugares elitistas, e muito voltado a você precisar de se enquadrar num padrão pra conseguir acessar aquele espaço, que deveria ser público e não é. Então, quando eu falo de cinema, eu falo muito de igualdade. Espero que seja a coisa mais incrível que a gente vai fazer, porque até o lanche assim, a pessoa não precisa se preocupar, ela só precisa estar lá disposta a vivenciar o momento, a cultura e a entender tudo”, complementa.

Cine Coroadinho e “um mundo de possibilidades”

O Coletivo Mulheres Negras da Periferia, criado em 2018, já alcançou mais de duas mil pessoas com diversas atividades culturais, desde as exibições de cinema, aos eventos de Brega Funk, Tambor de Crioula, o Gaymado – atividade esportiva de queimada com praticantes gays e LGBTQIA+ em geral, rodas de conversa e escuta afetiva, entre diversas outras ações além da cultura. Todas as ações do coletivo são gratuitas e organizadas em praças públicas.

Ao pensar nos efeitos da difusão da cultura, Jú do Coroadinho expressa o sonho de seguir, como as ancestrais, abrindo caminho para um futuro mais leve e próspero para a favela. “Eu espero que as próximas gerações sofram menos, que tenham um caminho de oportunidades, sabe? Que possam sonhar, que possam ganhar dinheiro com cultura, com produção de eventos, com tecnologia e com cinema. Porque às vezes as pessoas olham pra gente com um olhar muito subemprego, sabe? E a gente é tão potente”, conclui.

Como Acompanhar e apoiar o Coletivo Mulheres Negras de Periferia

Para acompanhar o trabalho do Coletivo e demais novidades do Cine Coroadinho, basta seguir o perfil do projeto no instagram. O lançamento da sala física, que será inaugurada na sede do Coletivo Mulheres Negras de Periferia, no Coroadinho, está previsto para a terceira semana de maio.