Cinemão Solar: projeto une tecnologia, sustentabilidade e cultura
Idealizado por Cid César Augusto, o Cinemão ganhou o reforço da energia solar para impulsionar o projeto que comemora dez anos em 2022
Crédito: Divulgação
Por: Gabriel Murga – Lupa do Bem / Favela em Pauta
O projeto Cinemão, idealizado por Cid César Augusto, se renovou e ganhou o reforço da energia solar unindo tecnologia, sustentabilidade e cultura em uma iniciativa inovadora, tornando-se o primeiro cinema ao ar livre do estado do Rio de Janeiro movido a energia solar. Além disso, o agora Cinemão Solar se prepara para comemorar, em 2022, dez anos de exibições pelas periferias de todas as regiões da capital carioca.
A estrutura do projeto foi montada em parceria com o engenheiro francês, David Bernad, e conta com um gerador fotovoltaico de 5 metros de comprimento, contendo 10 placas solares, inversores de carga e 10 baterias de lítio.
O sistema foi montado sobre uma estrutura de carreta e é do tipo off-grid, ou seja, armazena a energia produzida pelas placas em um conjunto de baterias.
Novos horizontes para o Cinemão
O Cinemão Solar é atualmente patrocinado pela ViaRio, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei do ISS, e conta com apoio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e da Secretaria Municipal de Cultura. O projeto atua em toda a cadeia produtiva do cinema, ou seja, desde produção de filmes até a distribuição e exibição dos conteúdos.
Em se tratando do futuro da iniciativa, que se tornou ainda mais sustentável pela mudança em sua matriz energética, o Cinemão prepara grandes novidades para o próximo ano, tendo a sustentabilidade e arte como eixo central.
Confira, abaixo, a entrevista com Cid César Augusto, idealizador do projeto
Lupa do Bem: Em alguns meses, o projeto que nasceu Cinemão e agora é Solar completará dez anos “ocupando espaços públicos e populares com cinema brasileiro através de uma estrutura móvel”, como lemos recentemente em um artigo seu. Qual balanço você faz destes dez anos de Cinemão?
O Cinemão surge no momento em que a cidade passava por um período de transformação, principalmente as favelas do Rio de Janeiro, com a implantação daquele programa que se chamava UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). E uma imagem muito simbólica destas ocupações militares, e um símbolo aqui da cidade, foi o Caveirão, veículo preto e blindado da polícia muito usado em operações nesses territórios.
Então, o Cinemão surge assim como uma espécie de ato político meu e dos companheiros, enquanto operários da indústria audiovisual apontando para um modelo de ocupação territorial das comunidades, diferente da ocupação bélica. A única coisa do estado que chega assim nesses territórios da cidade. Aí nasce o Cinemão. Em um primeiro momento, a gente chamava ele de Veículo de Ocupação Tática da Cultura. Era um Ford Rural 1970, adaptado para ser o carro de projeção. É um projeto que nasce desse jeito, e eu nem esperava que tivesse muita continuidade. [Agora] vai completar dez anos, protagonizando um processo de democratização do cinema brasileiro no Rio de Janeiro, sobretudo um processo de formação de plateia para o cinema nacional. Não acho nenhum outro projeto que tenha feito mais ações de ocupação assim de exibição de filmes, principalmente no nosso formato com uma super estrutura, de tela inflável, sistema de som potente. E cada ano é uma batalha para conseguir parceiros, patrocinadores, porque sem patrocínio não tem como funcionar. Nós iniciamos as primeiras ações vendendo camisetas, naquele modelo de financiamento coletivo, e logo começamos a operar com recursos de fomento direto, fomento indireto, através de leis de incentivo e de patrocínio direto. No nosso caso, há sempre o interesse tanto das empresas, quanto do próprio estado, na esfera municipal, estadual e federal em fortalecer essas nossas ações que são consideradas afirmativas.
Por que a preocupação com a sustentabilidade foi colocada em prática?
Como eu disse, nós protagonizamos esse processo de democratização do cinema. Então, ao longo desses anos, consolidamos várias parcerias por conta dos resultados apresentados pelo nosso projeto para formação de plateia. Agora, a gente tá numa nova fase, numa agenda atual onde se debate muito as questões climáticas. Iniciamos a transformação do nosso projeto para o modelo mais sustentável.
Você acredita que a opção pela energia solar e pela ocupação do espaço público por meio do audiovisual reflete sua trajetória enquanto jornalista e cineasta?
Desenvolvemos uma tecnologia própria, um gerador solar fotovoltaico que abastece todo nosso sistema de projeção. E, preparando agora para o próximo ano, que a gente completa 10 anos de atividade e também o ano que se celebra 30 anos da ECO-92 que a cidade do Rio de Janeiro sediou, estamos preparando um conjunto de ações para celebrar esses pactos firmados pelo clima. [Vamos usar] o cinema como ferramenta para apontar essas coisas que são fundamentais, [como o] desenvolvimento sustentável, sobretudo o uso consciente de energia. Sobre a preocupação com o meio ambiente, essa era uma questão nossa, que nós precisávamos adaptar a necessidade do nosso tempo. Assim, a indústria do cinema, da cultura, são pulsantes e [se tornam] indústrias limpas. Então, o Cinemão acaba sendo um espelho da nossa área.
Como as periferias das distintas regiões do país, com cenários e públicos próximos, podem se inspirar no Cinemão Solar?
Gostaria muito que o Cinemão não fosse um projeto isolado, que se transformasse inclusive em uma política pública. A gente tenta influenciar os gestores públicos com os nossos resultados para que, na verdade, isso se torne uma inspiração acertada para que outros lugares possam também ter uma chance.
Para mim, enquanto operário do cinema, quanto mais tela pela cidade espalhada – sobretudo num momento que os cinemas estão fechando direto – em todo país ou toda cidade, isso seria um grande sonho realizado.
Quais são os planos para celebrar esses dez anos de projeto? E os planos para a próxima década?
Para celebrar esses próximos dez anos, vamos lançar o Cinemão Eco 2022, nosso projeto de celebração dos 10 anos. A gente também prepara um filme com todo nosso material de arquivo, chamado “Cinemão – uma década de Rio”, que não apenas vai contar nossa história, o amor ao cinema e todas nossas aventuras, [mas também mostrar] demandas de todos os tipos. Basicamente, para o próximo ano, a gente espera que tenhamos intensas atividades, porque nós estamos atravessando uma pandemia ainda e parece ser o final. Mas, durante a pandemia, a gente também não ficou parado.
Enquanto todas as salas de cinema do país fecharam, todas as atividades de eventos na rua foram proibidos, nós, junto a RioFilme, adaptamos o projeto para uma coisa chamada “Cinema nas Janelas”, que repercutiu internacionalmente. Vários países falaram dessa ação que a gente fez na cidade.
Nós montamos uma estrutura de cinema em conjuntos habitacionais para que a população, naquele momento de lockdown, pudesse assistir ao cinema brasileiro pelas janelas. Então, a gente está atravessando esse momento agora, e nosso setor foi o mais prejudicado. Foi o primeiro a parar e o último a voltar. Esperamos que o próximo ano seja muito intenso, principalmente para celebrar a vida.