Festival Favela Sustentável conecta cultura e protagonismo comunitário

Criada em 2017, a Rede Favela Sustentável (RFS) é formada por 700 mobilizadores comunitários de mais de 300 favelas, além de aliados técnicos que trabalham de forma integrada na luta por justiça climática. 

A ONG reconhece o potencial desses territórios como modelos de sustentabilidade e tem como objetivo promover a justiça climática, transformando as favelas em exemplos de comunidades sustentáveis.”

A Rede busca também fomentar qualidades já existentes nas comunidades fluminenses, a fim de impulsionar, concretizar e amplificar seus potenciais. Ela atua baseada na perspectiva das favelas como fontes de soluções, inclusive para a sustentabilidade humana, fundamentada no conceito de Desenvolvimento Comunitário com sustentação em ativos. 

Esse conceito foca no fortalecimento dos moradores e do próprio território, respeitando suas soberanias, e não a partir de uma visão ou imposição externa.

A Rede Favela Sustentável trabalha com os seguintes eixos:

  • Justiça Climática;
  • Educação e Pesquisa Socioambiental;
  • Cultura e Memória locais;
  • Soberania Alimentar;
  • Saúde Coletiva;
  • Economia Solidária;
  • Direito ao Saneamento;
  • Justiça energética;
  • Transporte Justo;
  • Moradia Sustentável.

Dar visibilidade para combater o preconceito

A equipe gestora da Rede é mantida pela organização sem fins lucrativos Comunidades Catalisadoras, a ComCat, da qual Theresa Williamson é fundadora e diretora executiva. Ela falou sobre o festival que aconteceu com todas as portas da Fundição Progresso abertas para o público e de forma gratuita. 

“Esse festival foi uma proposta que surgiu entre os integrantes em 2018 e 2019, mas quando estávamos articulando para que acontecesse em 2020, veio a pandemia e só agora conseguimos financiamento de novo pra realizar esse sonho, que era um sonho coletivo”.

“De certa forma, o festival foi uma culminância de desejos de levar esse conhecimento não só para dentro da rede, mas também para fora dessa bagagem potente, essa qualidade e quantidade de projetos incríveis existentes nas favelas e que não são vistos”. 

“Essa invisibilidade acontece porque, em nossa sociedade, predomina o preconceito contra a favela; as pessoas estão cegas e não percebem que, de fato, os territórios favelados são potentes e também representam uma solução para moradia, para o descaso, a negligência e a desigualdade que os moradores enfrentam”.

“A favela surgiu assim: como solução. Há, sim, quem se aproveite do descaso existente, e o crime também está presente, mas, na essência, é uma resposta que as pessoas dão à falta de moradia e a outras questões na ausência do poder público”.

Theresa acrescenta que o “Festival de Favela Sustentável foi um momento em que as potências e soluções foram apresentadas, divulgadas e compartilhadas, servindo como inspiração para as próprias favelas, o que foi fundamental. O público em geral também teve acesso e contato direto com toda a potência daquele momento. Tivemos mais de 90 favelas participantes”. 

Ela conta que foi um dia mágico, de grandes realizações, pois a ComCat vem construindo o entendimento dessa potência há 24 anos, e a Rede há sete, fortalecendo e apoiando estrategicamente as iniciativas que realizam o trabalho duro e essencial para o desenvolvimento das favelas, que são as organizações de base comunitária.

“Foi uma realização coletiva, marcante e emocionante, em que vivemos um momento rico em trocas e com pessoas muito inspiradoras”, conclui Theresa.

Favela em destaque: acolhimento e representatividade 

A editora do RioOnWatch, Clau Guimarães, contou que foi empolgante ver as pessoas envolvidas nas atividades do festival. “O dia todo me proporcionou momentos de enorme emoção. A cada vez que eu conseguia circular um pouco e ver o número de atividades e de pessoas aproveitando rodas de conversa, oficinas, terapias e apresentações, eu sentia uma alegria e uma esperança sem precedentes.”

“Gargalhadas de crianças, depoimentos emocionados, histórias transformadoras, soluções e ideias brilhantes: a favela mostrando o caminho — e foram tantos caminhos possíveis, criativos e sustentáveis. Foi mágico”.

Já para Vinicius Carvalho, de 38 anos, morador da Favela da Rocinha e co-fundador e gestor do Coletivo Favela IN, o evento foi sinônimo de representatividade. “Pessoalmente, foi um dia maravilhoso, porque tive a oportunidade de compartilhar momentos. Levei minha filha, meu pai, minha mãe. Me senti acolhido e muito à vontade no espaço, do começo ao fim”.

“Me senti entre meus iguais e, o melhor: foi tudo gratuito. Foi muito bom ver todas aquelas manifestações artísticas; teve até Lava-Pés. Enfim, achei um evento maravilhoso, com uma identidade muito forte, familiar. Eram pessoas que estavam de fato compartilhando”, finalizou.

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