Como a Orkestra Popular Barracão transforma vidas com música

projeto musical

Projeto musical criado em Duque de Caxias fortalece identidades, gera oportunidades e promove cultura a partir das raízes afro-brasileiras

A  Orkestra Popular Barracão (OPB) surgiu em 2017 no bairro São Bento, em Duque de Caxias (RJ), dentro do terreiro Ilê Axé Odé Oran Caruanã, liderado por  Mãe Gilda de Oxóssi. Foi neste espaço que o músico e educador Victor Bruno, neto de Mãe Gilda, deu início ao projeto. 

As primeiras oficinas aconteciam aos domingos, no próprio terreiro, reunindo os participantes em oficinas, vivências musicais e afetivas que logo originaram o espetáculo Nós Somos o Barracão

Para Bruno, a origem do projeto tem raízes profundas: “Me vi nesse espaço e senti que era isso que eu tinha que fazer. Foi a solução para um vazio que eu sentia, voltar para o lugar onde nasci, ensinar música onde fui criado, unindo minhas duas vocações: a de professor e músico”.

A Coluna da Neuza foi até Duque de Caxias e entrevistou os participantes do projeto. Confira a matéria completa abaixo.  

Coluna da Neuza: Como foi estruturado o projeto musical?

Vitor Bruno: Inicialmente, trabalhamos dentro do próprio terreiro. Em 2019, começamos a construir nosso estúdio, o Treme Terra, no terreno ao lado. Lá, gravamos nossas faixas e desenvolvemos novos braços de atuação. 

Ao longo de 2018, alfabetizamos musicalmente muitas pessoas da comunidade, com ajuda de convidados como Alba Lírio, Glaucos Lynx e Jorge Amorim.

Coluna da Neuza: Qual é a relação entre a Orkestra e o terreiro?


Vitor Bruno: É uma ligação muito forte. Muitos integrantes vêm desse ou de outros terreiros, mas também temos pessoas sem ligação direta com religiões de matriz africana. Levar a vivência do terreiro para o palco é natural para nós, as interseções entre o sagrado e o musical fazem parte do nosso DNA.

Coluna da Neuza: Como é composta a equipe atualmente?


Vitor Bruno: Temos 13 músicos: bateria, duas alfaias, três percussão (atabaques e efeitos), guitarra, baixo e cinco sopros (trombone, dois trompetes, dois saxofones). Além disso, contamos com produção, fotografia, jurídico, contabilidade, direção artística e som. Em grandes apresentações, chegamos a mobilizar até 28 pessoas.

Coluna da Neuza: Qual o impacto da Orkestra na região?


Vitor Bruno: É imenso. O Barracão leva música e cultura para quem, muitas vezes, nunca teve essa oportunidade. Começamos passando o chapéu nas ruas. Hoje, temos apoio de redes culturais, como o Museu Vivo do São Bento, e somos reconhecidos no cenário da Baixada.

Um espaço de autoconhecimento

Ana Flávia Quitete, saxofonista e coordenadora administrativa da OPB, conta que seu primeiro contato com a música aconteceu justamente graças ao projeto. “Entrei na Orkestra em abril de 2018. Comecei ajudando na administração ao lado do Bruno e passei a tocar saxofone Só consegui ter acesso a um instrumento ao entrar em outro projeto fora da Baixada. O Barracão cumpre esse papel de ponte para muita gente da comunidade”. 

A organização também atua como um espaço de autoconhecimento para seus integrantes, como conta Jefferson Borges, percussionista da organização. “Cheguei para ajudar na obra do estúdio e me apaixonei pelo atabaque. Comecei a frequentar as giras no terreiro ao lado e fui convidado para entrar na banda. Hoje, a música é meu refúgio e meu orgulho. Recentemente, fizemos uma turnê pelo SESC. Depois que entrei para a Orkestra, foi só crescimento”.

A vocalista e percussionista Yasmin Matias compartilha da mesma visão. “O Bruno me chamou logo no início. Eu tinha acabado de perder meu avô, e a banda me ajudou a não entrar em depressão. Hoje, toco alfaia, xequerê e também canto. O Barracão se tornou uma família para mim, um espaço de acolhimento, cura e resistência

Já a musicista Thaísa Fernandes destaca o orgulho que sente por fazer parte da iniciativa. “Entrei em 2023 para um trabalho pontual e acabei ficando. Já tinha participado de outros projetos, mas a Orkestra é única. Hoje, é meu principal trabalho. A mistura de ritmos, de pessoas e de histórias torna tudo muito especial, ainda mais por acontecer na Baixada, onde isso é raro”.

Por fim, Castrin, baixista e diretor musical, ressalta que a metodologia adotada é um dos diferenciais do projeto: “A união de linguagens musicais que vêm da vivência da Baixada é o que dá essa singularidade. Aqui se aprende música na prática, com paixão. Isso faz com que a sonoridade da Orkestra seja única, mais do que técnica, é alma. Somos diferentes porque carregamos uma história de superação e amor à música”.

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