Com intérpretes de Libras, Bienal do Livro reforça inclusão

Edição deste ano contou com intérpretes da Língua de Sinais em toda programação oficial. Outro destaque foram os livros em braille

19.09.24

A 27ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo chegou ao fim no último domingo (15), contabilizando 722 mil visitantes ao longo dos 10 dias de evento. Esse número representa um aumento de 9,39% em relação à edição de 2022, tornando-se a maior dos últimos 10 anos. Essa edição também se destacou pela promoção da diversidade, acessibilidade aos livros e fortalecimento da literatura nacional.

O crescimento do público foi significativo entre os mais jovens. Segundo dados da Secretaria Municipal de Turismo (SMTur), através do Observatório do Turismo e Eventos da SPTuris, a faixa etária de 18 a 25 anos representou 43,3% dos visitantes, enquanto o grupo de 25 a 29 anos correspondeu a 18,6%. Nós, do Lupa do Bem, também visitamos a feira e reunimos alguns destaques. Confira!

Ocupando espaços com Libras e braille

Todas as sessões da programação oficial da Bienal do Livro contaram com tradução simultânea em Libras, atraindo pessoas com deficiência auditiva para diversas palestras. “Antes, não havia muitos surdos participando, mas este ano, com os intérpretes, tivemos uma grande participação da comunidade”, relatou Jéssica, intérprete de Libras do evento.

“Espero que daqui a dois anos venham muitos mais surdos, pois agora sabem que poderão se comunicar”, acrescentou.

O intérprete Alan destacou que a tradução em Libras permite que pessoas com deficiência auditiva ocupem esses espaços. “Às vezes, elas passam pelos locais e não se veem ali, o que dificulta sua participação. Este ano, escolas de surdos visitaram a Bienal, e alguns alunos puderam interagir com autores, o que foi uma experiência muito interessante”, contou.

O escritor Maurício de Sousa aproveitou a feira para lançar O Grande Livro de Libras, que combina histórias da Turma da Mônica com a Língua de Sinais, incentivando o aprendizado e a inclusão. O livro ainda apresenta a personagem Sueli, uma menina surda de nove anos que se comunica por sinais.

A Editora Mostarda, em parceria com a Fundação Dorina Nowill, reservou um espaço para livros escritos em braille. Um dos destaques foi Meninas Sonhadoras, Mulheres Cientistas, da juíza Flávia Martins de Carvalho, que celebra a vida de 20 mulheres inspiradoras através da poesia.

Para Flávia, os livros são uma oportunidade de se ver no outro. “Ele foi pensado para expandir a imaginação das meninas e mulheres, para que se vejam ocupando diversos espaços dentro da sociedade”, disse.

Ela ressaltou a importância da inclusão para disseminar conhecimento. “Não é só sobre lançar informações, mas garantir que todas as pessoas tenham acesso. O livro em braille me deixa muito contente, e é gratificante saber que minha obra também está chegando às pessoas com deficiência visual”, acrescentou.

Livros em braille. Foto: Aline Louzano

Lucia Poletti, representante da Fundação Dorina Nowill, destacou o crescente interesse pelos livros acessíveis. “Algumas pessoas dizem que não conhecem leitores deficientes visuais, mas nosso objetivo é divulgar para todos, para que a acessibilidade através dos livros seja levada para casa”.

Patrícia Godoy, do Instituto Olga Kos, referência na inclusão de pessoas com deficiência, comentou a emoção de ver tantos títulos em braille. “Há algum tempo, isso era impensável. Ver que uma pessoa pode escolher o que ler é emocionante”.

Como é ser um autor independente no Brasil?

De acordo com a SMTur, mais de 600 autores nacionais marcaram presença na Bienal do Livro. Nomes como Raphael Montes e Paola Aleksandra estiveram entre os mais vendidos de suas editoras, mas nem todos contam com o apoio de grandes empresas do setor.

Wesley Barbosa, autor de sete livros, incluindo Viela Ensanguentada, seu primeiro romance, que aborda temas como antirracismo e ancestralidade, fundou a Barraca Editorial para apoiar autores independentes. “A ideia é que, como autor e editor, cada livro vendido fortaleça outro autor”.

Ele comentou que ser autor independente permite uma proximidade maior com o leitor. “Foi muito gratificante estar aqui. Muitas vezes, vemos o povo preto apenas em funções de apoio, como na limpeza, mas também escrevemos e ocupamos esse espaço”, afirmou, mencionando que precisou fazer a segunda reimpressão de seu romance durante o evento.

Anna Andrade, autora de Em Diferentes Universos, relatou que ser autora independente no Brasil é uma tarefa desafiadora, mas gratificante. “Passamos por vários processos, pois temos menos recursos que as grandes editoras. No entanto, isso nos aproxima mais dos leitores”.

Palestras

A sessão de palestras foi outro destaque desta Bienal do Livro. O espaço Educação, por exemplo, trouxe debates sobre inclusão nas escolas, neuroeducação e autismo. A Colômbia, país convidado desta edição, levou autores como Andrea Cote, Margarita García Robayo, Erna von der Walde e Gilmer Mesa.

Livro-jogo ‘O Porão’. Foto: Aline Louzano

Tatiana Filinto, que escreveu A Misteriosa História do Ca.di.re.me, e Giovanni Arceno e Vítor Soares, autores de O Porão, um livro-jogo sobre o período da repressão, falaram sobre a ditadura militar brasileira por meio de histórias voltadas para jovens leitores.

No bate-papo ‘AfroFuturinho: por uma literatura infantil que fortaleça identidades’, a pedagoga e educadora Ananda Luz e Henrique André, autor de Afrofuturo: Ancestral do Amanhã, discutiram perspectivas de futuro usando a literatura infantil.

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Aline Louzano
Aline é jornalista na Sherlock Communications. No Lupa do Bem é a responsável por organizar as pautas, pelo mapeamento de ONGs e projetos, além de revisar as matérias
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