A compostagem como forma de conexão com a natureza
A Iniciativa Roda Verde Compostagem Urbana em Niterói (RJ) incentiva a prática de compostagem de resíduos orgânicos para transformação em adubo orgânico, em uma iniciativa sustentável e empreendedora. Na cidade de São Paulo, a campanha aposta no apoio das autoridades locais e organizações buscam evitar desperdício de alimentos
Créditos: Divulgação-Roda Verde Compostagem Urbana / Campanha São Paulo Composta, Cultiva
Por: Gabriel Murga / Favela em Pauta – Lupa do Bem
A iniciativa Roda Verde Compostagem Urbana surgiu a partir do desejo de três amigos em desenvolver um projeto sustentável, com o objetivo de proporcionar qualidade de vida na cidade de Niterói, no estado do Rio de Janeiro.
Iniciado em 2018, por meio de coletas nas casas de amigos e familiares de Rayan Cavalcanti, Pedro Vasconcelos e André São Thiago, o projeto já compostou mais de 70 toneladas de resíduos. Atualmente, a iniciativa coleta cerca de dez toneladas por mês em espaços como escolas, residências, praças e outros ambientes coletivos.
Segundo o site da organização, baseando-se em dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o material orgânico “chega a representar 50% do resíduo domiciliar urbano e causa enorme impacto ambiental quando descartados de maneira convencional e incorreta”.
A Roda Verde realiza as coletas de bicicleta, evitando a emissão de gás carbônico, o que beneficia diretamente o meio ambiente e, no momento, o serviço funciona nos bairros de Icaraí, Santa Rosa, Ingá, São Domingos, São Francisco, Charitas, Centro, na Região Oceânica e em Pendotiba, no município de Niterói.
Os resíduos coletados são apenas de origem orgânica como cascas de frutas, legumes, casca de ovo, guardanapo e papel sem tinta. Por meio de pacotes, com diferentes valores, quem contrata o serviço recebe compostos orgânicos para fortalecer o jardim caseiro, além de brindes.
“A educação é um terreno fértil e cheio de possibilidades para essas mudanças acontecerem e trabalhamos com o compromisso de ser uma polinizadora de boas ideias — que para nós se materializam no serviço de coleta, tratamento e reciclagem de resíduos orgânicos”, afirmam.
O Lupa do Bem conversou com André São Thiago, um dos fundadores da Roda Verde Compostagem Urbana, para entender o impacto do projeto.
Lupa do Bem: Como a separação de resíduo (no caso de vocês, do orgânico) pode ser uma prática de impacto no dia a dia das famílias e da sociedade como um todo?
André São Thiago: Quando você separa seus resíduos, dá início à possibilidade de destinar corretamente cada tipo de resíduo. Sendo assim, a partir de uma prática dentro de sua residência, ainda mais se após a separação, os recicláveis forem para estações de beneficiamento, e os orgânicos forem para a compostagem, reduzimos em aproximadamente, 10 vezes a emissão de gases do efeito estufa, contribuindo para o impacto positivo em nosso planeta.
Lupa do Bem: Como a compostagem ajuda e de que forma devemos separar os resíduos orgânicos?
André São Thiago: A compostagem é um processo que utilizamos para aproveitar a energia e nutrientes contidos nos resíduos orgânicos. Agradecemos a inteligência da floresta por nos ajudar a compreender que “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Assim, quando separamos os resíduos orgânicos dos outros resíduos de nossa residência e encaminhamos à compostagem, nos conectamos mais com nosso princípio natural. Podemos separar em composteiras caseiras, terrenos comunitários, ou com iniciativas como a Roda Verde, que te ajudam a separar e destinar corretamente seu resíduo orgânico.
Lupa do Bem: Como a compostagem ajuda e de que forma devemos separar os resíduos orgânicos?
André São Thiago: É muito nítido esse incentivo! As pessoas começam a se interessar em como utilizar o composto gerado, e quando veem o resultado se motivam mais e mais. E todas as faixas etárias se interessam por essa atividade, talvez as pessoas mais velhas ganhem por bem pouco. Mas isso representa a preocupação que vemos crescendo de atuar em formas de contribuição para o equilíbrio de nosso planeta.
A compostagem é um caminho prático
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no Brasil, estima que cerca de 30% dos alimentos produzidos no país não chegam aos brasileiros. A FAO aponta ainda que mais de um quarto das áreas agrícolas são destinadas à produção de alimentos que acabam descartados.
Um dos grandes desafios no enfrentamento às mudanças climáticas são os resíduos orgânicos gerados nas residências. Materiais como cascas de alimentos, borra de café, partes não utilizadas de frutas e hortaliças, quando devidamente separados e manejados, podem ser transformados em matéria-prima para a compostagem, beneficiando agricultores e consumidores.
Isso promove um impacto significativo, já que mais de 50% do lixo gerado no Brasil é de matéria orgânica, um desperdício de quase 41 mil toneladas de comida, o suficiente para alimentar cerca de 10% da população brasileira, segundo dados do Instituto Akatu e ONU Verde.
Iniciativa pressiona por compostagem na maior cidade da América Latina
Na capital paulista, um conjunto de organizações da sociedade civil organizada tem buscado, por meio da Campanha São Paulo Composta, Cultiva,
“aumentar o comprometimento da Prefeitura e da Câmara de Vereadores com as políticas públicas para a reciclagem dos resíduos orgânicos, como sobras de alimentos e de poda, e promoção da agroecologia no município.”
Compõe a campanha organizações como o Observatório do Clima, Instituto Lixo Zero Brasil, Clima Info, Observatório da Política Nacional de Resíduos Sólidos, SOS Amazônia, Uma Gota no Oceano, Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, entre outras.
“A Campanha formulou um documento base para tomada de decisão com o objetivo de apresentar a políticos, tomadores de decisão, formuladores de políticas públicas e sociedade civil do município de São Paulo (SP) dados e informações que justifiquem a necessidade e urgência de promover avanços em políticas públicas de gestão de resíduos orgânicos na cidade”, aponta o site do Instituto Pólis, que reúne informações sobre a ação.
Ações e organizações que doam comida e evitam o desperdício
Um levantamento da empresa Eco Circuito, que presta serviço em assessoramento na gestão de resíduos, aponta algumas organizações na cidade de São Paulo, como a ONG Banco de Alimentos, o aplicativo Comida Invisível e a iniciativa Saveadd.
A ONG Banco de Alimentos, fundada em 1998, é uma associação civil que recolhe alimentos que já perderam valor de prateleira no comércio e indústria, mas ainda estão aptos para consumo, e os distribui onde são mais necessários.
No lugar de descartar legumes, massas, frutas, entre outros, os parceiros doam os excedentes à ONG, que repassa os alimentos às entidades sociais cadastradas no projeto. Essa distribuição permite a complementação nutricional de refeições servidas para milhares de crianças, jovens, adultos e idosos em São Paulo, diariamente.
A plataforma do Comida Invisível conecta pessoas para causar impacto social e ambiental, além de trazer conteúdos com objetivo de mudar o hábito de consumo de alimentos para que cada um possa fazer a sua parte. Atualmente, a plataforma já possui mais de duas mil pessoas doando alimentos que chegam a mais de 200 ONGs todos os meses.
O Saveadd, por sua vez, é uma empresa de tecnologia que trabalha para evitar desperdício, encontrando organizações aptas a receber doações ou compras por preço mais acessíveis.