Conheça a Ong que presta suporte a mulheres cariocas vítimas violência doméstica
Conheça a ONG AMAC, que presta suporte as mulheres cariocas vítimas de violência doméstica
No dia 31 de agosto, em mais uma edição do “Projeto Agosto Lilás”, a ONG AMAC – Associação de Mulheres de Atitude e Comprometimento Social, celebrou na Câmara Municipal de Duque de Caxias (RJ), os 15 anos da Lei Maria da Penha. A discussão se deu acerca do tema “O Impacto do Isolamento Social na Vida das Mulheres Vítimas de Violência Doméstica” em que a fundadora e presidente da Amac, Nill Santos, recebeu o título de Mulher Duquecaxiense, pelo trabalho realizado com população a feminina através da ONG.
Conheça mais sobre a história dessa mulher que, ao se reconhecer vítima de violência doméstica e se curar, resolveu ajudar outras mulheres em estado de vulnerabilidade a percorrer o mesmo caminho.
Nill Santos, 50 anos, conta que sua história começou quando foi vítima de violência doméstica. Foi casada com o pai dos seus dois filhos durante quase 10 anos e, no meu primeiro mês de casada, levou o primeiro tapa no rosto e viveu vários anos esse ciclo de violência e que só conseguiu quebrar esse ciclo em 2007. No entanto, só se reconheceu vítima em 2011, quando passou pelo projeto chamado “Coisa de Mulher”, que promovia rodas de conversas itinerantes pelas comunidades do Rio de Janeiro. Nill atuava como uma das líderes do projeto e, com isso, via que ao compartilhar a sua história de vida, outras mulheres eram encorajadas a tomar a mesma iniciativa.
Na entrevista abaixo ela relata sua história, como surgiu a ideia de criar a instituição e conseguiu chegar até aqui.
Neuza Nascimento: Onde e como começou o projeto?
Nill Santos: Iniciamos na Vila Alzira (Comunidade do Dique), na Baixada Fluminense. Só que ele cresceu e se tornou um projeto itinerante, e passamos a atuar dentro do estado e fora dele. Nós realizamos rodas de conversa em qualquer lugar em que formos convidadas. O nosso objetivo é transmitir a mensagem.
Neuza Nascimento: Qual o propósito do projeto?
Nill Santos: O projeto existe para ajudar mulheres e suas famílias a se reconstruírem, reconstruir vidas. Mas para mim, como parte disso, o propósito é devolver ao Universo o que eu recebi. Eu só consegui quebrar o círculo da violência porque eu tive uma pessoa, um ouvido, um olhar, um abraço e um cuidado que me foi dado primeiramente pela minha mãe. Se não fosse ela, talvez eu nem estivesse aqui nesse momento dando essa entrevista. Minha mãe era uma mulher muito forte. E o intuito do projeto é mudar nosso protagonismo dentro do território. Com território quero dizer em qualquer lugar em que a mulher esteja, porque onde ela está, é seu território. Então, se eu consigo cuidar de você e você volta pro seu território, você espalha a semente do conhecimento, são pessoas de vários territórios.
Assim que me separei, eu voltei para a Comunidade do Dique, onde eu morava antes de me casar e lá fundei uma escolinha de futebol, em 2008, local que minha família ocupou em 1982. Nessa época eu trabalhava de copeira e à noite, eu sentia muita falta da minha casa, dos meus filhos porque, quando saí de casa, só pude trazer a minha filha mais velha. Nesse ínterim comecei a ver muitas crianças soltas pela comunidade, então chamei dois amigos para me ajudarem nesse projeto e na verdade, eu nem sabia direito o que era futebol, mas eu precisava ocupar a minha mente.
Em 2011, depois de participar do projeto “Coisa de Mulher”, passei a fazer rodas de conversa. À partir do momento em que me reconheci vítima e me senti curada de todas as minhas feridas, achei que eu tinha um compromisso, a missão de ajudar outras mulheres a sair desse círculo de violência. E então em 2012, um grupo de amigas, Agentes de Saúde do bairro, me convidaram para fundarmos uma associação de mulheres, mas eu não queria ter esse compromisso, apesar de gostar de fazer as rodas.
Neuza Nascimento: E como eram essas rodas de conversa?
Nill Santos: Eu convidava as mulheres, montava a roda, puxava o assunto e todas nós compartilhávamos nossas histórias. E aquilo me fazia muito bem, muito bem mesmo, principalmente por ver os resultados depois. Então as meninas me chamaram para uma reunião e, apesar de não querer muito, com incentivo do meu atual marido, acabei indo. Durante a reunião sugeri que orássemos, pois se fosse [um projeto vindo] de Deus, ele nos daria uma resposta. Quando meu marido chegou, ele perguntou, “e aí, quando vai acontecer o projeto?”, eu respondi que não iria acontecer projeto nenhum porque Deus não me daria um sinal e, na mesma noite, eu tive um sonho com a instituição. Eu sonhei que estava num círculo de mulheres e falando com elas o nome Amac – Associação de Mulheres de Atitude e Comprometimento Social, e no dia seguinte chamei as meninas e contei o que havia acontecido. Como estávamos em julho, resolvi que, se fosse mesmo de Deus, colheríamos os frutos, mas se não fosse, nós pararíamos no final do ano. O trabalho foi crescendo e em 2014 registramos, no ano seguinte ganhamos o primeiro prêmio que foi o “Prêmio Acolher”, da Natura. Fomos uma das 15 instituições a receber esse incentivo.
Neuza Nascimento: Quais são as atividades oferecidas hoje?
Nill Santos: Além das rodas de conversas, temos também reforço escolar, oficinas de artesanato, escolinha de futebol, aulas de informática e curso de empreendedorismo para as mulheres.
Neuza Nascimento: Quantos beneficiários e qual a faixa etária?
Nill Santos: Atendemos 200 crianças e suas famílias, todas dentro da Comunidade do Dique da Vila Alzira, e a faixa etária vai desde recém-nascido até pessoas com mais de 80 anos.
Neuza Nascimento: Qual o processo para essas famílias ingressarem no projeto?
Nill Santos: O primeiro passo é uma entrevista com a assistente social, dessa forma nós vemos quais as necessidades dessa família. Tem pessoas que não possuem registro de nascimento então, nesse caso, temos um convênio com a Fundação Leão XIII, que cede as isenções para o serviço de Certidões de Nascimento e Identidade através de um encaminhamento nosso. Recebemos também pessoas encaminhadas pelo Conselho Tutelar e pelo CRAS – Centro de Referência de Assistência Social, e as crianças e famílias da própria comunidade que chegam até nós através das entrevistas realizadas pela nossa equipe.
Neuza Nascimento: Como é formada sua equipe?
Nill Santos: Começamos com quatro pessoas e hoje somos mais ou menos 20. E as atividades são distribuídas entre nós. Todos ali são voluntários, mas a equipe recebe uma ajuda de custo que vem de um projeto com a SMAS – Secretaria de Municipal Assistência Social.
Neuza Nascimento: Além da SMAS, Fundação Leão XIII, do CRAS e Conselho Tutelar, existem outras parcerias?
Nill Santos: A nossa primeira parceira foi a União Rio, depois fechamos com um grupo de amigos, em seguida, com a cineasta Julia Murat, que nos ajudou com Cestas Básicas. E tivemos também outos como a Natura, Ação da Cidadania, a ONG Criola, o Movimento Negro e a ONG Gerando Falcões, essa última também faz doações de cartões de alimentação, o que eles chamam de Cestas Digitais.
Neuza Nascimento: Quais foram seus maiores desafios?
Nill Santos: O maior desafio foi quebrar todas as burocracias, porque no início, começamos por amor ao trabalho, mas chega um momento que é necessário ter um CNPJ e, o problema é que ninguém nos informa que ele é um filho para a vida toda, requer muita atenção. E foi assim que me vi com uma dívida de R$11.000,00 na Receita Federal. Na época eu tinha uma equipe e, todas as participantes disseram, “ainda bem que não está no meu CPF”. Eu não sabia que aquela dívida estava em meu nome e me vi sozinha, sem ajuda das pessoas que eu queria que estivessem comigo, foi um desafio e tanto, mas quando Deus está no negócio, tudo dá certo.
Neuza Nascimento: Como você resolveu esse problema?
Nill Santos: Eu fui dar uma palestra gratuita na Eletro Nuclear – Subsidiária da Eletrobrás, mas a coordenadora gostou tanto do meu trabalho que resolveu me pagar, mas eu não conseguia receber porque estava com restrição no meu CPF, foi quando eu descobri a dívida. Uma amiga me emprestou o CNPJ para eu resgatar o valor a ser pago pela palestra e com esse dinheiro, paguei a um contador de um amigo e ele resolveu pra mim. Conseguiu fazer a dívida cair para R$770,00 reais. Foi o Universo conspirando a meu favor. E um outro desafio foi conseguir meu Alvará de Funcionamento definitivo. Eu sou assim, não digam pra mim que eu não vou conseguir, porque eu vou lá e consigo.
Neuza Nascimento: Como o projeto se mantém?
Nill Santos: Principalmente através de um convênio com a SMAS de Duque de Caxias. Também participamos de muitos editais, pequenos prêmios, fazemos rifas e agora estamos fazendo bazar com as peças que a lojas de roupas, nos doa e, por fim, fazemos almoço beneficentes. E assim vamos conseguindo nos manter.
Neuza Nascimento: Quais são as necessidades da Amac?
Nill Santos: Nossa necessidade hoje é manter ela aberta, porque onde estamos já se tornou pequeno, devido à procura das pessoas. Precisamos de um local maior para atender a demanda que vem crescendo cada vez mais, necessitamos valorizar mais a equipe, da qual eu também faço parte, conseguir um salário melhor, pois dedicamos a maior parte do nosso tempo a essa instituição. Por mais que seja um trabalho voluntário no sentido de ser uma escolha nossa, temos as despesas pessoais, como qualquer um. E, para prestarmos um serviço cada vez melhor para essas pessoas, precisamos estar tranquilas quanto a isso. E por último, precisamos de palestrantes, recreadoras e educadoras sociais voluntárias porque, na comunidade tem muita criança analfabeta, inclusive algumas com Transtorno do Espectro Autista. É muito chato quando chegam pessoas precisando de algum tipo de atendimento e você já não consegue colocar pra dentro por não ter suporte e espaço necessário.
Neuza Nascimento: Quais são suas maiores conquistas ao longo do tempo de existência do seu trabalho?
Nill Santos: Minhas maiores conquistas são os depoimento das famílias, pessoas que eu nem conheço, mas que eu ajudei. Quando postamos algo no Facebook, a pessoa curte e comenta: “Você não me conhece, mas você salvou a minha vida.” A maior vitória é o impacto que esse trabalho está causando na vida das mulheres que a gente consegue alcançar.
Neuza Nascimento: Como foi o atendimento durante o auge da Pandemia?
Nill Santos: Com a Pandemia, nosso trabalho cresceu mais ainda porque passamos a ajudar mulheres de outros estados que estavam sofrendo violência doméstica, com ações de prevenção e empoderamento, e também com cestas básicas – captamos e repassamos cestas básicas, material de limpeza e higiene pessoal.. Foi bem puxado, pois o número de pessoas atendidas pulou de 90 famílias para 6 mil pessoas.
Em 2020 paramos as atividades só por dois meses, de março a maio. Depois começamos a atender de forma remota, fizemos um grupo no WhatsApp por onde nos comunicamos. Em setembro do mesmo ano tivemos que voltar a atender presencialmente, com todos os cuidados, começamos a receber as crianças. Mas graças a Deus, ninguém ficou doente. Durante o período crítico tivemos a colaboração da União Rio, um conjunto da Ecos, do Instituto BHI e do Banco da Providência
Neuza Nascimento: Gostaria de deixar algum recado para as mulheres vítimas de violência doméstica?
Nill Santos: Quero deixar um recado para as mulheres que estão lendo essa entrevista. Dizer a elas que a ferida sara, mas o primeiro passo é ela se reconhecer vítima, pois muitas não se veem dessa forma e, ao não se reconhecer como vítimas, elas não conseguem romper com essa situação. Não se esconda, não se sinta envergonhada, porque você não está sozinha nessa luta. Se você não tiver um ouvido acolhedor, fale pra você mesma, chegue na frente de um espelho e diga pra si mesma o quanto você é maravilhosa, o quanto você é corajosa, faça com que sua mente te ouça, a sua mente precisa te ouvir. Eu fiz muito isso.
A Amac é uma instituição sem fins lucrativos e você consegue apoiá-la por meio de doações em dinheiro ou voluntariado pessoal. 100% das doações são investidas em projetos para a população. Seja solidário, faça uma doação.
Para mais informações acesse o site https://www.atitudeamac.org.br/
Assista a um vídeo sobre Nill Santos na Globoplay.
Contato: (21) 99807-8422 (Também WhatsApp)
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