Projeto promove o bem-estar para pessoas em situação de rua
"Além de fazermos yoga e meditarmos, nós também nos sentamos para comer com todos e, enquanto fazemos isso, conversamos. É muito importante para ambos os lados estarmos juntos, mantermos contato, nos relacionarmos."
Segundo o site Tua Saúde, o Yoga é uma prática cujo objetivo é trabalhar o corpo e mente interligadamente, com exercícios que auxiliam no controle do estresse, ansiedade, dores no corpo e na coluna, além de melhorar o equilíbrio e promover a sensação de bem-estar e a disposição.
Sobre Meditação, conforme o Instituto Federal do Rio Grande do Sul, a prática ajuda na redução de estresse, reduz vícios, diminui os sintomas depressivos, controla a ansiedade, potencializa a autoestima e ajuda na manutenção da memória.
É através dessas práticas que o projeto Yoga de Rua dá assistência aos seus beneficiários. Quem são esses beneficiários? Pessoas em situação de rua.
O Yoga de Rua é uma iniciativa criada por André Andrade Pereira, professor de Pedagogia da Universidade Federal Fluminense de Angra dos Reis, sudoeste do Rio de Janeiro.
Confira a matéria a seguir e saiba mais sobre esse projeto amoroso, acolhedor, inclusivo e humanitário, em ação desde novembro de 2015.
Durante uma entrevista, Eliane Rogério, psicoterapeuta e professora voluntária de Yoga do projeto, conta como começou essa iniciativa inovadora e necessária nas vidas dos sofridos moradores de rua.
“No início o objetivo do André era servir um café matinal para essas pessoas, mas logo depois ele resolveu enriquecer a ação dando aulas de yoga com meditações, antes dessa primeira refeição do dia. Com o tempo, outro grupo realizou uma ação parecida que servia o café matinal, então ele não viu necessidade de continuar, e mais uma vez inovou, mudou os horários das aulas e começou então a servir almoços depois dessas práticas.”
Neuza Nascimento: Além do yoga e da meditação, qual é a diferença entre vocês e outros grupos que fornecem refeições para esse público em especial?
Elaine Rogério: O diferencial é que André percebeu que não basta alimentar os corpos dessas pessoas, temos também que alimentar as almas deles. Além de fazermos yoga e meditarmos nós nos sentamos para comer com eles e, enquanto comemos, conversamos. É muito importante para nós e para eles estarmos juntos, fazermos contato, nos relacionarmos enquanto almoçamos. Nesses meus cinco anos de experiência com o Yoga de Rua, percebi que esses indivíduos são muito fragilizados, carentes de atenção mesmo. Precisam de afeto, de estar com outras pessoas, de se sentirem fazendo parte, de serem aceitos por nós. A comida, o alimento, é muito importante sim, mas sem contato, sem a relação humana não há mudanças, eles não conseguem sair do lugar, da situação em que se encontram. Todos precisamos de afeto, atenção e, quem não quer um olhar sobre si?
Mais ações
O Yoga de Rua realiza outras atividades que também são de suma importância que, pois com certeza, levantam a estima dos beneficiários, os fazem se sentir, pelo menos por algum tempo, fazendo parte da sociedade como um ser comum. Essas atividades são estadias em retiros, idas a teatros e exposições. Passamos também informações importantes para eles, por exemplo, locais onde eles possam tomar um banho.
Neuza Nascimento: Como o projeto consegue realizar essas atividades?
Eliane Rogério: No caso dos retiros, em geral, conseguimos as estadias gratuitamente. Já realizamos cinco retiros, inclusive quando a Pandemia estourou, nós estávamos em Vassouras, Centro sul do Rio de Janeiro, numa fazenda de Yoga. Fomos numa quinta-feira e voltamos no domingo. Não pagamos hospedagem, só colaboramos com a despesa de luz. Para as idas aos teatros e exposições, até o momento conseguimos gratuidades.
Neuza Nascimento: O que mais lhe encanta com este trabalho?
Eliane Rogério: O prazer de constatar as mudanças ocorridas nas vidas dessas pessoas.
Neuza Nascimento: E que mudanças são essas?
Eliane Rogério: Por exemplo, Rodrigo, um dos nossos assistidos, hoje trabalha num hotel de carteira assinada, conseguiu alugar uma casa, apesar de ser num lugar simples. Foi com muita felicidade que recebi um telefonema dele me convidando para almoçar, me dizendo que agora pode pagar. Tem outro, que não lembro o nome agora, conseguiu trabalho como faxineiro. Tem uma série de pessoas que considero estarem encaminhadas.
Temos muitos exemplos de resultados, mas para não ficar longo, citarei só mais um. No último Natal em 2021, enquanto eu saia para caminhar na praia, pelo trajeto ouvi uma pessoa gritando meu nome, olhei, mas não consegui reconhecer a princípio. Chegando mais perto ele me cumprimentou, se apresentou e disse, “Olha, jamais esquecerei suas aulas, eu agora estou trabalhando ali naquela barraca.” Ele me agradeceu muito, foi um presente de Natal para mim.
Ainda sobre o homem chamado Rodrigo, Eliane diz que ele caía de bêbado na rua. Continuando, ela entende que a droga mais pesada é o álcool, por a cocaína ser cara e o acesso é restrito, mas a cachaça é barata ou de graça, sempre tem alguém para oferecer.
Eliane Rogério termina
“O que ouço de muitas pessoas nesses cinco anos de trabalho como voluntária, é que grupos de apoio a população de rua, tem muitos, mas igual o nosso, são pouquíssimos. Isso faz com que nos sintamos felizes, e orgulhosos do nosso trabalho.
O André, criador do projeto, chegou a dormir cinco dias com essas pessoas, para assim entender e se colocar no lugar deles, foi como um laboratório. Nosso objetivo é poder preparar e encaminhar essas pessoas para o mundo.”
No momento, o projeto está ocorrendo no Aterro do Flamengo, Zona Sul do Rio de Janeiro, às segundas, quartas e sábados, com práticas curtas, de 30 minutos, a partir das 11 horas, por conta da pandemia. A comida é servida pelo projeto “Comida que Cura” e é vegetariana, o que agrega mais valor a essa ação.
Formas de apoiar o Yoga de Rua:
- Voluntários: Dando aulas de Yoga ou ajudando na cozinha
- Apadrinhe o projeto
Doe aqui e ajudem como puder, para mais informações, sigam os perfis no Instagram Yoga de Rua e Comida que Cura