Conheça Vozes e Cores, um projeto de extensão do Instituto de Psicologia da UERJ, que oferece atenção à saúde mental de pessoas LGBTQIA+
O projeto da Universidade Estadual do Rio de Janeiro promove serviços com grupos terapêuticos presenciais e gratuitos
A pesquisa envolve questões de percepções e explorações da subjetividade LGBTQIA+ na contemporaneidade. A ideia é ser uma pesquisa intervenção, enquanto está sendo realizada, oferece algum tipo de serviço à comunidade. Serviços esses que, quando partem da universidade, se configuram na forma de projeto de extensão. O projeto serve também como campo de estágio aos estudantes de Psicologia da UERJ.
“Vozes e Cores é um pouco a cara pública da pesquisa e, ao mesmo tempo, um serviço de saúde mental,” diz Mario Felipe de Lima Carvalho, idealizador e coordenador do projeto.
Como surgiu a ideia
Em 2018, ano das últimas eleições, Mario Felipe era professor substituto na UFRJ-Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Núcleo de Direitos Humanos. Uma das disciplinas ministrada por ele era voltada para os Direitos Humanos e questões LGBTQIA+ e durante a semana inteira, após o Segundo Turno do pleito eleitoral, uma quantidade muito grande de alunos faltou, o que ele não considerou natural, principalmente pela disciplina em questão.
Mario Felipe observou o fato com estranheza, pois os alunos não tinham o costume de faltar e ainda mais em número tão grande. Na semana seguinte a esse episódio, quando os alunos voltaram, ele conversou com eles e, quando perguntados sobre o motivo das faltas, muitos relataram sofrimento, dificuldades em sair de casa e receio de se expor na rua por medo de possíveis agressões. Inclusive ele soube que já estava circulando notícias de agressões físicas a pessoas LGBTQIA+ durante o próprio dia das eleições, após a divulgação do resultado.
Na sequência, Mario Felipe organizou com uma amiga, na época, doutoranda no Instituto de Psicologia da UFRJ, um evento chamado roda de escuta sobre Sofrimento Ético Político, que hoje é uma ideia bastante trabalhada no Vozes e Cores. Sofrimento esse atravessado por questões sociais, culturais e políticas da vida em sociedade.
Organizaram a roda de conversa e logo depois decidiram fazer algo mais específico, voltado para pessoas LGBTQIA+, pensando principalmente no sofrimento que a política causava nos seus alunos naquela época.
O projeto foi elaborado em 2019 com o apoio da professora Anna Uziel, supervisora de pesquisa na UERJ, foi submetido ao edital da Fundação, teve o financiamento aprovado.
“Há uma preocupação com toda essa situação que vivemos atualmente de discursos de ódio, acirramento de antagonismo, conflitos familiares e muito sofrimento vindo dessa situação. Fatos que já vínhamos percebendo durante esses dois anos de pesquisa como, infelizmente, a família se torna um lugar especialmente violento para os jovens LGBTQIA+, ela não é um lugar de acolhida nem de proteção, muito pelo contrário. Na verdade, algumas famílias estão envolvidas numa série de produção de sofrimentos psíquicos intensos e de tentativas de suicídios. Tanto os suicídios realizados pelos jovens LGBTQIA+, quanto as tentativas, na sua grande maioria, acontecem a partir de uma produção nas relações familiares. Oferecer apoio a essas pessoas faz parte da motivação do projeto”, diz Mario Felipe.
Os encontros do grupo terapêutico acontecem toda terça-feira, às 14 horas e as quartas-feiras, às 18 horas, no Serviço de Psicologia Aplicada da UERJ, Campus Maracanã, Zona Norte do Rio.
Se auto identificar como pessoa LGBTQIA+ é o único critério para participar. Menores de 18 anos, precisam da autorização dos responsáveis para participarem. Não é exigida frequência regular, considerando que exigências e obrigatoriedades são também produtoras de sofrimento psíquico em muitas pessoas. O serviço é gratuito.
Segundo Mario Felipe, o principal desafio do projeto é a divulgação dos encontros. A equipe é pequena, conta somente com nove estagiários, sendo um remunerado pela UERJ.
Se você gostou desse projeto, uma das formas de apoiar é divulgando o trabalho nas suas redes sociais, para que mais pessoas tenham acesso. Outra forma de apoiar é fazendo uma campanha de arrecadação, pois o financiamento termina por volta de outubro de 2023 e corre o risco acabar. O Vozes e Cores é registrado na UERJ por isso nada impede que ele continue depois dessa data, só precisa de um novo financiamento.
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