Construindo um futuro sustentável para o turismo e as comunidades do Pacífico colombiano

Uma batalha silenciosa vem sendo travada desde 2014, liderada pela Fundación Ecopazífico, que luta para devolver a vida e a dignidade às praias que estavam à beira do colapso

26.09.24

Por Oscar Segura

O nascimento de uma missão

Rommy Schreiber, sócia fundadora da Ecopazífico, não sabia que sua vida mudaria radicalmente quando visitou pela primeira vez as praias de Juanchaco. Essa faixa costeira, com aproximadamente um quilômetro de extensão, estava tomada pelo lixo. Era um contraste doloroso: em meio à imundície, as majestosas baleias ainda vinham dar à luz. Mas o espetáculo da vida natural em todo seu esplendor era ofuscado pelo mar de resíduos que cobria a areia. “Senti uma tristeza profunda”, lembra Rommy. “Ver a comunidade vivendo entre os desperdícios e ninguém fazia nada a respeito”.

Rommy, com sua alma de artista e viajante, encontrou nesse desastre uma centelha de inspiração. E se a arte pudesse ser a chave para reverter a situação? E se os resíduos pudessem se transformar em algo mais do que lixo? Assim, com uma mistura de esperança e determinação, nasceu a Ecopazífico, uma fundação dedicada à limpeza das praias e à criação de consciência ambiental através da reciclagem sustentável.

O compromisso sustentável com as praias

O primeiro desafio da Ecopazífico foi estabelecer um sistema de reciclagem em um território selvático, onde a natureza impõe suas próprias regras. Juanchaco, Ladrilleros e La Barra, três comunidades localizada nessa costa, tornaram-se os pontos focais de um projeto ambicioso. Mas a tarefa não era fácil. Para chegar lá, os voluntários precisavam atravessar um mar traiçoeiro em pequenas lanchas, enfrentando não apenas as intempéries do clima, mas também ameaças como dengue, malária e fauna venenosa.

Além disso, esse é um território marcado pelo narcotráfico, uma sombra que assola a Colômbia há décadas. Apesar dos desafios, a Ecopazífico encontrou proteção nas Forças Armadas da Colômbia e na própria comunidade. A confiança e o respeito mútuo tornaram-se pilares fundamentais, mesmo quando o governo foi negligente em suas responsabilidades.

A reciclagem como uma arte

Em setembro de 2014, a Ecopazífico deu seus primeiros passos com um grupo de crianças, que ajudaram a limpar a praia enquanto aprendiam sobre a importância da reciclagem. Os resíduos plásticos, que antes eram apenas lixo, agora tinham um novo nome: Maparé, que significa “material para reviver”. Com esses materiais, as crianças criavam brinquedos, fantoches e obras de arte, transformando o conceito de lixo em uma ferramenta educativa.

“O essencial é não prometer coisas materiais”, explica Rommy. “As pessoas não cuidam do que não lutaram para obter. Oferecer conhecimento e experiência é o que realmente empodera a comunidade”.

Um impulso que é tangível dia após dia

O esforço da Ecopazífico resultou na construção do primeiro Centro de Reciclagem em Juanchaco, um espaço criado em conjunto com a comunidade para mitigar a contaminação e promover uma economia circular. Mas a fundação não parou por aí. Com o apoio da Universidad Nacional (“Universidade Nacional”, em Português) e outras organizações, também foi estabelecido o primeiro Centro de Permacultura da costa colombiana, onde se desenvolvem projetos para dessalinizar a água e acelerar o processo de coleta de resíduos.

Nos primeiros 8 anos de trabalho da Fundación Ecopazifico (“Fundação Ecopazífico”), de 2014 a 2022, nas praias de Juanchaco, Ladrilleros e La Barra, todas do Pacífico colombiano, foram coletadas 11 toneladas de resíduos sólidos, recuperadas por meio de um trabalho de reciclagem realizado por toda a comunidade.

Durante essas coletas, ao longo do tempo, envolveram-se um total de 5 conselhos comunitários, que trabalharam em 8 praias selecionadas, garantindo que os resíduos que chegavam às praias fossem integrados a um esquema de economia circular, educação ambiental e iniciativas relacionadas à gestão dos resíduos que chegam diariamente.

Um caminho cheio de desafios

No entanto, nem tudo foi fácil. À medida que a fundação crescia, os desafios também aumentavam. Conseguir recursos financeiros tornou-se uma tarefa árdua, especialmente quando os voluntários, antes dispostos a ajudar sem compensação, começaram a exigir retribuição econômica. Além disso, as dificuldades logísticas nesses territórios remotos, somadas à insegurança e às greves nacionais, testaram a resiliência da Ecopazífico.

Mas, através da força que as diferentes iniciativas de reciclagem das comunidades ganharam e do trabalho de conscientização, que já dura 10 anos, os moradores das três praias entenderam a importância e a magnitude de proteger seu entorno, o ecossistema, a flora e a fauna do local, o que fez com que cada dia mais voluntários se juntassem à causa.

Por outro lado, ao longo desses anos, a Ecopazífico conseguiu estabelecer inúmeras parcerias com entidades governamentais, como o Ministério do Meio Ambiente, organizações transnacionais que protegem o meio ambiente e apoiadores que veem nessas iniciativas uma nova oportunidade de crescimento e recuperação para o Pacífico colombiano. Assim, conseguiram fortalecer os recursos que entram na fundação e começar a sustentar as diferentes iniciativas em desenvolvimento. O desafio persiste, mas a cada dia se juntam mais apoiadores e voluntários.

O legado da Ecopazífico

Hoje em dia, Juanchaco se transformou em um destino turístico com mais hostels e opções de passeios, graças, em grande parte, ao trabalho incansável da Ecopazífico. A comunidade adotou a reciclagem como parte de sua cultura, e outras fundações seguiram seu exemplo, se ativando em diferentes pontos do território.

“Apesar de tudo, sinto-me emocionada e feliz pelo que conseguimos”, confessa Rommy. “Nossa forma de fazer as coisas melhorou, e nosso recurso humano se fortaleceu. Agora, com o primeiro Centro de Permacultura em funcionamento, sentimos que estamos construindo um futuro sustentável para esta região”.

O legado da Ecopazífico é mais do que um simples esforço para limpar praias; é um movimento que inspirou comunidades inteiras a reconsiderar sua relação com o meio ambiente. Em um lugar onde a necessidade é urgente e as oportunidades são escassas, a Ecopazífico demonstrou que, com determinação, criatividade e o apoio da comunidade, é possível construir um futuro mais limpo e sustentável.

Quer apoiar essa causa?

Entre em contato com:
Rommy Schreiber: +57 (310) 422-1553 | info@ecopazifico.org
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Autor: lupadobem
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