Costurando o Bem: projeto transforma peças de pano em conforto para pacientes de hospitais públicos de BH

Costureiras voluntárias se revezam na produção de almofadas, próteses mamárias, naninhas e outros mimos; todo o material é doado aos pacientes 

25.07.24

Costurando o Bem é uma daquelas iniciativas que aquece o coração por onde passa. Idealizado pelas irmãs Silvana, Maria de Fátima e Eliane Ferri, o nome faz jus ao projeto: tudo é feito por amor à causa. Dispondo de máquinas de costura, metros de pano e aviamentos, costureiras voluntárias fabricam produtos personalizados para serem doados aos pacientes de hospitais públicos da região metropolitana de Belo Horizonte.   

Somente no ano passado, foram produzidas quase seis mil peças, entre almofadas de conforto, naninhas, próteses mamárias, borboletas de pano, bolas de meia e outros. “Fazemos tudo em uma sala de 50 metros quadrados. Você não imagina o tanto de coisa que sai de lá! E esse projeto tem duas vertentes, que é a doação das peças, e tem o lado social do encontro das costureiras, que é muito legal”, diz Silvana. 

Hoje, o projeto tem cerca de 40 voluntárias. Elas se encontram duas vezes por semana para a produção das peças. “As senhorinhas que antes ficavam sozinhas em casa, agora vão lá toda semana costurar com a gente. Tem dia com quatro bolos na hora do lanche… Então esse lado também é muito importante, não é só a doação das peças”, alegra-se Silvana. Ela conta que mesmo quem não sabe costurar, pode participar. “O que não falta é trabalho: dá para cortar pano, pregar botões, embalar as peças, etc.”

Imagem: reprodução.

Peças feitas com amor 

As peças de pano são a estrela do projeto. Elas não cumprem apenas uma função prática, na verdade, são um gesto de amor. “A turma que faz as peças é tão alegre, tudo é feito com tanto carinho, que acho que isso vai para o material. Tem mais coisas por trás dessas peças, energeticamente falando”, afirma a fundadora do projeto.

“Uma vez fui entregar uma naninha para um menino no hospital, ele estava internado fazia alguns dias e quando recebeu suspirou fundo e disse ‘ah, que bom, hoje eu não vou dormir sozinho’. Toda criança que ganha uma naninha, independente da idade, já agarra e não larga mais”, continua.

As naninhas são entregues para crianças com câncer ou que sofreram queimaduras. As almofadas de conforto, para adultos que estão passando por hemodiálise, histerectomia e quimioterapia. As borboletas de pano são encomendas feitas especialmente para um projeto do Hospital das Clínicas, com as mães de parto perinatal, ou seja, as mães enlutadas que perderam o bebê precocemente. 

“É um projeto de acolhimento em que são entregues duas borboletinhas idênticas: uma para ficar com a mãe e a outra para ser enterrada junto com o bebê. Funciona meio como âncora para essa mãe…”, explica Silvana. E assim novas peças vão sendo produzidas. Médicos e enfermeiras que conhecem o projeto acabam vendo uma oportunidade para solicitar encomendas. As últimas foram pares de óculos de pano para bebês. 

Uma vez cheguei no hospital e uma enfermeira me chamou. Ela queria me mostrar os bebês que estavam em tratamento para icterícia. Eles estavam usando aquele papel azul marinho do rolo de algodão como óculos, sabe? E me pediu para criar um óculos de pano específico para esses bebês, então nós criamos.” 

Imagem: reprodução.

Próteses mamárias

O projeto Costurando o Bem começou produzindo roupas para idosos em asilos e com o tempo, passou a fabricar peças para área hospitalar. Hoje, além das almofadas de conforto, naninhas e outros mimos, também produz próteses mamárias para as mulheres que passaram pelo câncer de mama. 

O enchimento é feito de bolinhas de polipropileno, utilizadas na produção de garrafas pet. “Daí pode molhar, entrar na água, nadar, fazer tudo. É bom porque seca, não é de alpiste, comum nas próteses de pano”, explica Silvana. Com tamanhos do 38 ao 52, as próteses são fornecidas para todos os hospitais do SUS de Belo Horizonte. 

“Uma vez fui entregar uma prótese mamária na Santa Casa e o médico me convidou para entrar na consulta. A paciente tirou um monte de pano do busto, que ela estava usando para fazer volume e saiu correndo pelo corredor para procurar um banheiro e se ver no espelho. É sempre assim, quando entregamos as próteses para as mulheres, elas entram no banheiro com uma cara e saem com outra, perguntando se já podem ir embora com a prótese”, comenta. 

Costurando o Bem

Silvana é uma empresária aposentada. Nesse processo em que parou de trabalhar, ela e suas irmãs decidiram fazer aulas de patchwork. “Ali surgiu a vontade de fazer alguma coisa pelo outro”, conta. “Quando finalizamos o curso, já sabíamos costurar um pouco e nos perguntamos: ‘e agora, o que vamos fazer? Foi aí que resolvemos abrir o Costurando Bem.” 

As irmãs vêm mantendo o projeto há oito anos. Silvana, no entanto, faz questão de avisar que o projeto não é delas. “Nós somos as organizadoras do projeto, mas o projeto não tem dona, o projeto é de todas nós, voluntárias.” 

“Uma vez quiseram criar uma caixinha na sala de costura e eu falei ‘olha, pode criar, mas não quero saber quem deu, nem quanto deu, nada. Então de vez em quando pegamos esse dinheiro para comprar material. Mas o projeto não é para isso, nós precisamos de mão de obra”, avisa.

Imagem: reprodução.

“Temos um site onde normalmente pedimos doações em tecido ou material, e existe uma conta bancária, mas é uma coisa que, para falar a verdade, não dou muita ênfase. É lógico que se chegar é muito bem-vindo, mas não estou preocupada com isso, porque as coisas acontecem. Como, eu não sei, mas acontecem! Pano rende uma quantidade que você não imagina, sabe?”

Ela lembra que tudo que vai para o projeto é aproveitado ao máximo. “Nosso lixo é praticamente zero, porque quando chega no retalho, naquele pano que já não dá mais nada, aí vira bola de meia. Por isso pedimos doação de meia, de pé que ficou perdido, essa meia a gente usa para fazer bolas que depois serão doadas para as crianças das comunidades. Elas adoram!”, finaliza. 

Quer apoiar essa causa?

O projeto Costurando o Bem aceita doações e voluntariado. Para saber mais, visite o site e siga as redes sociais no Facebook e Instagram.

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Maira Carvalho
Jornalista e Antropóloga, Maíra é responsável pela reportagem e por escrever as matérias do Lupa do Bem.
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