Cultura afro-brasileira impulsiona transformações em favelas
Mesmo sofrendo algumas perseguições, o Centro Cultural Cambinda Estrela promove ações de valorização da cultura negra e educação para crianças, jovens e adultos há mais de 20 anos.
Crédito: Divulgação
Por: Eduarda Nunes – Lupa do Bem / Favela em Pauta
Sendo reativado na favela de Chão de Estrelas, na zona norte do Recife em 1996, o Maracatu Nação Cambinda Estrela, que tem o Sagrado sob responsabilidade do Babalorixá Fábio Rodrigues, também conhecido por Obé Culê, se consolidou enquanto um braço social fortíssimo no combate às desigualdades sociais a partir da favela.
Com um grande esforço coletivo, o Cambinda Estrela conquistou sua sede numa casa de pau a pique na Rua Doutor Elias Gomes, no bairro de Campina do Barreto. Essa casa foi sendo transformada por dentro e por fora ao passar dos anos e foi nela que as atividades continuaram a ser realizadas.
Rafaela Gomes faz parte do maracatu desde 2004 e, hoje, é educadora social, cantora, produtora e fotógrafa do grupo. Ela conta que a necessidade de formalizar o centro cultural vinha desde 2000, quando eles realizaram o primeiro censo de pessoas que participavam com frequência dos espaços promovidos pelo grupo.
O espaço do centro se consolidou somente em 2007 e viabilizou não só a continuidade das ações como também a expansão da atuação no território. Atualmente, cerca de mil pessoas estão associadas, mas muito mais são atendidas. Só durante a pandemia, estima-se que cerca de dez mil pessoas tenham sido beneficiadas direta ou indiretamente pela instituição.
Atividades de alfabetização, reforço escolar, corte e costura, cursos profissionalizantes e formação em música e dança afro-brasileira são a marca registrada do Cambinda em Chão de Estrelas e nas comunidades dos arredores, como a do Capilé, Palha do Arroz e Favela do Arruda.
Cultura Afro-Brasileira: Projeto Afro Alfabetizar
O projeto Afro Alfabetizar, inicialmente nomeado de Projeto Social Cambinda Estrela, de alfabetização infantil, é uma das ações mais antigas em exercício e foi idealizado por Wanessa Paula Santos, que é a presidente do centro cultural desde 2011 e detém os saberes na Nação Cambinda Estrela desde 1999.
Desde 2016 o centro também conta com a TV Cambinda, que foi instituída a partir da experiência com o programa Papo de Mestre, em que os mestres de maracatu conversavam sobre suas nações. A partir de parcerias e editais, produtos como lives musicais, ensaios, podcasts e entrevistas são veiculadas através do Youtube e Instagram.
Em 2021 o grupo lançou um financiamento coletivo para custear a produção de uma série 15 de programas sobre a cultura do Maracatu e as tradições das Nações que dão vida e continuidade a essa herança negra genuinamente pernambucana.
Sendo o Maracatu uma manifestação cultural importantíssima para a proteção dos escravizados e também da prática do candomblé no século 20. Anualmente acontece a Noite dos Tambores Silenciosos em Recife e Olinda para rememorar essa história de resistência.
Ações durante a pandemia
Durante a pandemia, o centro não parou de trabalhar para tentar garantir acesso à alimentação, produtos de limpeza e educação para todos os moradores dos territórios atendidos. Estima-se que mais de dez mil pessoas tenham sido atendidas desde março de 2020. “A gente já ajudou muita gente graças a Deus, Xangô, Oxum e Oyá”, celebra Rafa.
O Centro Cultural Cambinda Estrela resiste em meio à perseguição de alguns líderes comunitários e moradores que tentam prejudicar e manchar a atuação do grupo na comunidade. Mas “a gente tem a força da natureza com a gente”, confia a educadora social, e o grupo segue firme e forte com colaborações espontâneas que, inclusive, trabalham para que as denúncias infundadas que são feitas não atrapalhem essa trajetória que vem sendo trilhada de forma brilhante.
Para saber mais sobre a história do Maracatu Cambinda Estrela, confira este episódio do projeto Habita Caminhos 2021, da Cia Caracaxá.