Arte e emergência climática: coletivos se juntam em campanha visual até a COP 30

Ação acontece simultaneamente em dezenas de perfis nas redes sociais e ocupará grandes murais nas cidades; arte é usada para sensibilizar sobre a crise climática e possíveis soluções

Você já deve ter esbarrado com uma das ilustrações super coloridas, cheias de elementos da natureza, ativistas icônicos e mensagens É clima de… na sua timeline. Os posts fazem parte da campanha Manual de adaptação do Brasil: construir o futuro agora. Dezenas de perfis nas redes sociais estão compartilhando as ilustrações ao mesmo tempo, de forma totalmente colaborativa. 

As ilustrações são do artista multimídia Militão e serão divulgadas semanalmente até novembro, quando acontece a tão esperada Convenção do Clima, COP 30, em Belém. Ao menos 38 organizações e coletivos já aderiram à campanha, entre eles Megafone, Condô Cultural, LAB Experimental, Pimp My Carroça, A vida no Cerrado, Youth Climate Leaders, Movimento Tapajós Vivo, Coletivo Ekoa, Engajamundo, e tantos outros. Nós do Lupa do Bem  também estamos nessa!

Por enquanto, a campanha está se fortalecendo nas redes e logo mais deve ganhar as ruas, ocupando espaços públicos com grandes murais de lambe-lambe. Desta forma, a campanha segue aberta para quem mais quiser participar através deste link

COP 30

A Convenção do Clima é um evento internacional que reúne líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil para discutir ações de combate às mudanças climáticas.

O evento é um marco importante. Termos como mitigação e adaptação climática vem sendo popularizadas através das reuniões das partes, que ocorrem anualmente e geram intensa agitação popular por onde passam. Afinal, é notável o crescimento de desastres ambientais gerados pelas mudanças climáticas em todo mundo. 

Para este ano, existe a expectativa de que finalmente alguns acordos sejam firmados entre os países pela justiça climática. O controle do aumento da temperatura da Terra continua sendo uma das principais agendas, e diversos planos de ação devem ser propostos para isso. 

Manual de Adaptação do Brasil

Em clima de preparação para a COP 30, a Campanha Manual de Adaptação do Brasil mostra que é possível construir um futuro comum. A campanha foca nos temas ligados ao valor da biodiversidade, preservação dos biomas, demarcação de terras indígenas, quilombolas e extrativistas, reforma agrária, entre outros. 

“Nós, do campo artístico, cultural e ativista, estamos sempre agindo na base da reação. E a proposta dessa campanha é justamente mostrar que há solução. É possível fazer outro caminho. Podemos valorizar a cadeia de bioeconomia e fazer a demarcação das terras, por exemplo. O caminho não é só para frente, rumo à tragédia”, comenta a gestora cultural e ativista do Lab Experimental, Jonaya de Castro. 

Para Jonaya, fortalecer a democracia é fundamental nesse processo. “Cada voto importa, já que é através do voto que conseguimos incidir na macro-política.” 

Mas além da política, a arte também pode ser uma ferramenta interessante para sensibilizar a população, ressalta a ativista. “A arte atropela o racional e vai direto no seu coração. Por isso é tão poderosa, tão potente. É por isso também que nos governos autoritários e fascistas existe a censura aos movimentos artísticos.”

Cacique Raoni e Baile na Terra

A campanha é uma proposta conjunta dos coletivos Lab Experimental, Megafone Ativismo e Condô Cultural — todos surgidos em São Paulo, no início dos anos 2010, em meio à efervescência de movimentos pela cultura e pela democracia.

Dessa articulação nasceu, em 2022, o grande mural de lambe-lambes com o rosto do cacique Raoni Metuktire, espalhado por muros de 50 cidades brasileiras. “O Raoni havia sido indicado para ser Nobel da Paz e Bolsonaro, o presidente na época, sequer mencionou esse fato. Raoni não ganhou o prêmio e nós entendemos que deveríamos fazer essa homenagem”, lembra Jonaya. 

O Lab Experimental ainda organiza o Baile na Terra, que acontece em São Paulo e tem a identidade visual feita pelo artista Denilson Baniwa. O Baile vai para sua terceira edição este ano e terá distribuição das máscaras de onça feitas por Denilson pela demarcação dos territórios indígenas e defesa dos direitos.

Baile na Terra, em São Paulo, 2024. Imagem: reprodução.

É preciso resistir à emergência climática

Com apoio do Instituto Clima e Sociedade e da Hivos, por meio do programa Vozes pela Ação Climática Justa, a campanha Manual de Adaptação do Brasil está nas cinco regiões do Brasil por meio de articulação em rede. A expectativa é que as artes gerem “uma referência emocional interna e profunda do que é certo e do que é errado”, comenta Jonaya.

Além da campanha online, diversas intervenções artísticas estão previstas para acontecer nos territórios. “Nós trabalhamos como um rizoma online, mas também estamos sempre convidando e promovendo ações que sejam offline”, diz. 

A campanha ainda estará presente nas reuniões pré-COP, em Brasília, e depois na própria COP 30, em Belém. A participação é aberta: todos são bem-vindos. 

“Nossa campanha é destinada para a geração T, ou seja, todo mundo que está vivo, a geração da transição. No Brasil, nós temos uma série de possibilidades para resistir à emergência climática. Podemos, por exemplo, avançar com a demarcação de todas as terras indígenas, quilombolas, extrativistas, para proteger os biomas e, a partir da bioeconomia, estimular a pesquisa científica para produzir alimentos, cosméticos, medicamentos, etc. Então a campanha mostra quais são as possibilidades dessa transição”, finaliza Jonaya.

Mural Raonizar o Brasil. Imagem: reprodução.

Apoie essa causa!

Saiba mais sobre o Lab Experimental no Instagram e participe da Campanha Manual de adaptação do Brasil: construir o futuro agora.

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