Com relatos de mães e pesquisadores, documentário lança luz sobre desaparecimentos forçados no país

Apesar dos números alarmantes, o desaparecimento forçado não é considerado um crime no Brasil

31.10.23

Filmado na região do KM 32, em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, o documentário “Desova” teve sua estreia no dia 10 de outubro no SESC de Nova Iguaçu. O curta-metragem apresenta dados alarmantes sobre pessoas que desapareceram e ainda desaparecem forçadamente na Baixada Fluminense. 

É um filme comovente, com cenas pesadas e traz depoimentos de mães que se organizaram em coletivos e grupos de arteterapia para lidar com a dor da ausência. Além disso,  há depoimentos de pesquisadores e especialistas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e outros estudiosos que desenvolvem pesquisas focadas no assunto. 

O curta busca compreender as dinâmicas dos desaparecimentos forçados de pessoas, que incluem técnicas do Estado de desaparecer com os corpos de vítimas e mostra como as mães e familiares lidam com os traumas.  

No final da exibição aconteceu um debate emocionado do qual participaram Lais Dantas, diretora do filme; Josiane Martins, integrante do grupo Filhos nos Braços do Pai; José de Souza Alves, professor da UFRRJ e Adriano Araújo, coordenador executivo do Fórum Grita Baixada (FGB).

Pressão por mudanças

“Apesar da gravidade do problema, o desaparecimento forçado no Brasil não é considerado crime. Nós e a sociedade como um todo, precisamos pressionar o poder público, que é um agente violador, os parlamentares e os gestores públicos para que possamos fazer a aprovação da lei que tipifica o desaparecimento forçado como crime hediondo. Existindo uma legislação poderemos ter estatísticas, produzir dados e assim, poderemos pensar numa política pública de prevenção e enfrentamento a essa situação”, fala Adriano Araújo, durante o debate.

Curta Desova: sentimento da estreia em casa

Em entrevista à Coluna da Neuza, Lais Dantas conta como se sentiu tendo o filme exibido na Baixada Fluminense.

“Foi muito significativo a estreia nacional do filme ter acontecido aqui na Baixada Fluminense e com um tema que atravessa esse território. Eu estava falando pra algumas pessoas aqui, mais cedo, que o filme aconteceu hoje. Sei que ele está em alguns festivais e ganhou um prêmio na Argentina, mas de fato, eu vi o filme acontecer aqui, hoje; com as pessoas se vendo, se identificando”. 

“Essa coisa de poder se ver na tela, de ter sua história contada por uma pessoa que também é nascida e criada na Baixada, é muito importante. É um tema duro, muito pesado e que me atravessa lugares muito peculiares. Foi muito poderoso e estou muito feliz “, termina ela. 

Contratempos ao filmar na Baixada Fluminense

Abaixo, Fábio Leon, assessor de comunicação do Fórum Grita Baixada, fala sobre as dificuldades enfrentadas pela equipe de gravação durante as filmagens.

“As dificuldades relatadas foram muitas, no sentido de terem que fazer as filmagens em locais que eram conhecidos pela comunidade como pontos de desova de corpos. Então, o fato de você estar nos locais conhecidos como cenários de morte, tem toda uma dimensão mórbida em relação, não só aos desaparecimentos, mas também em relação aos cemitérios clandestinos que estão em torno de rios e terrenos baldios”. 

“No sentido físico a equipe teve dificuldades para transportar o equipamento para esses lugares e, filmar e entrevistar as mães foi um outro desafio, pois não é tarefa fácil entrevistar mulheres que tiveram seus entes queridos vítimas de uma violência tão brutal”. 

“Um outro desafio foi a responsabilidade em trabalhar essa narrativa em lugares dominados pelo tráfico e pela milícia e, então, eu acredito que devam ter tido várias estratégias de proteção porque, filmar no território onde eles filmaram é um risco para a integridade física de qualquer pessoa”, diz Fábio Leon. 

Próximos passos do curta Desova

Para terminar, Adriano Araújo informa que agora, a intenção é realizar exibições, de forma gratuita, para grupos como associações de moradores, ONGs, escolas públicas ou particulares, instituições sem fins lucrativos, centros de pesquisas, enfim, qualquer grupo. 

Para ter o filme exibido na instituição da qual você participa, basta entrar em contato com a coordenação do Fórum Grita Baixada ou com a produtora Quiprocó Filmes, comunicar seu desejo e aguardar confirmação.

No final de cada exibição sempre haverá um debate político sobre o tema do filme. 

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Neuza Nascimento
Após ser empregada doméstica por mais de 40 anos, Neuza fundou e dirigiu a ONG CIACAC durante 15 anos. Hoje é estudante de Jornalismo e trabalha com escrita criativa, pesquisa de campo e transcrições. No Lupa do Bem, é responsável por trazer reflexões e histórias de organizações de diferentes partes do Brasil para a "Coluna da Neuza".
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