Da quebrada para a Europa: depois de ir para Portugal, jovem começa o sonho de tornar a favela bilíngue
A Escola de Inglês PLT4Way expandiu sua atuação a nível nacional e conquistou alunos até no exterior, sempre com a missão de tornar a favela bilingue
A Escola de Inglês PLT4Way, mais conhecida como 4Way, é uma instituição socialmente responsável que está fazendo a diferença na vida profissional, cultural e social de jovens e adultos das periferias da grande São Paulo. E com as mudanças, necessárias por conta da pandemia, acabou se expandindo a nível nacional e chegou a conquistar alunos até no exterior.
Seu diferencial? A cada três alunos pagantes é disponibilizada uma bolsa integral para uma pessoa moradora da quebrada (de favela) em situação de exclusão social.
Ao retornar de uma experiência de trabalho voluntário em Portugal, onde passou dois anos e aprendeu a falar inglês, Diogo Bezerra passou a ter acesso a novas oportunidades quando voltou à São Paulo e até triplicou seu salário pelo fato de ter se tornado bilíngue. Sabendo que muitos jovens da quebrada não tinham a mesma oportunidade de aprender a língua, e ciente de que as escolas de idiomas tradicionais estavam longe da realidade destes jovens, Diogo criou a 4Way.
Dessa forma a 4Way se tornou uma escola de impacto social, que transforma a vida de diversas pessoas moradoras de favelas e periferias da sua cidade natal.
Diogo Bezerra tem 28 anos, é formado em Marketing pela Universidade Anhembi Morumbi e está cursando Publicidade e Propaganda pela Universidade Sumaré. Hoje, ele me contou um pouco sobre o projeto, sua trajetória e as principais inspirações.
Neuza Nascimento: De onde surgiu a ideia de criar o 4Way?
Diogo: Sempre tive desejo de estudar porque vim de uma família relativamente pobre, e dentro da minha jornada minha mãe sempre me incentivou a transformar minha realidade para não ter a mesma realidade que ela podia oferecer para nós, seus filhos. Além dela me incentivar, sempre me colocou no meio de pessoas que faziam o mesmo. Durante uma trajetória de anos eu tive contato com diversos jovens que não faziam parte da minha realidade, eles tinham a oportunidade de estudar inglês, e muitos deles estavam conseguindo oportunidades de empregos bem legais. Suas realidades estavam sendo transformadas e isso ajudava a aumentar as capacidades deles. Então eu tive o desejo de também aprender inglês, mas quando fui procurar uma escola com essa intenção, vi que eu não tinha dinheiro para pagar por ser de uma família de 10 filhos. Eu sou o quinto. Essa história com o inglês não demorou muito, mas ficou na minha mente e no meu coração o desejo de aprender. Aos 19 anos eu tive uma oportunidade muito diferente da minha realidade, que foi ir para Portugal. Lá eu tive contato com vários jovens de diversas partes do mundo e todos sabiam falar inglês, até os poucos brasileiros que faziam parte do meu grupo.
Neuza Nascimento: Como conseguiu ir para Portugal?
Diogo: Fui como voluntário. Lá, eu era o único que não sabia falar inglês, mas por conta da convivência com essas pessoas eu comecei a aprender enquanto estávamos trabalhando em conjunto.
Neuza Nascimento: E como foi a sua volta para casa?
Diogo: Depois de dois anos eu voltei pra minha realidade. Eu costumo dizer que eu fui da favela pra Europa e voltei pra favela de novo. Quando eu cheguei na favela, na quebrada onde eu morava, comecei a ter outras oportunidades só porque eu falava inglês. Em 15 dias eu consegui entrar para uma empresa multinacional ganhando três vezes mais do que eu ganhava quando saí do Brasil. Com isso comecei a realizar alguns sonhos como iniciar a universidade, fiz um intercâmbio na Inglaterra e construí uma casa, mesmo que dentro da quebrada, pra minha mãe, pois morávamos num barraco até então. Quando cheguei de volta na favela eu pensei ‘poxa, só eu estou tendo essa oportunidade aqui, só eu estou atingindo esses objetivos e os jovens da minha quebrada, não’. Então me perguntei: ‘o que me fez ter essas oportunidades?’, e percebi que era o Inglês. Então, tive a ideia. Como eu tinha o desejo de empreender, pensei em juntar os dois. Resolvi juntar os jovens, fazer com que eles aprendam inglês e também fazer disso uma fonte de renda, pois não dá para viver de sonho. Com isso fui atrás, convidei meu sócio, Diego Ramos, e aí conseguimos construir um negócio onde já faturamos mais de R$200 mil durante todo esse trajeto. Tivemos a oportunidade de ter um investimento do Reality Show Shark Tank Brasil. O negócio começou em 2016, foi formalizado em 2017 e até agora está indo tudo bem.
Neuza Nascimento: Onde funciona o projeto?
Diogo: No começo, quando o trabalho era presencial, a 4Way atendia nas comunidades da Zona Leste de São Paulo. Mas com a expansão para o modelo online, hoje a escola alcançou comunidades de diversos estados do Brasil, como Bahia, Minas Gerais, Santa Catarina, Maranhão, e outros. Hoje trabalhamos somente online, não temos uma sede. Estamos em dois escritórios, um na Barra Funda e outro na Zona Leste, mas nesses lugares só funciona a administração.
Neuza Nascimento: Quais são os propósitos do projeto?
Diogo: O principal propósito é dar acesso ao inglês com qualidade e tornar a favela bilíngue. Mas 4way acima de tudo, nasceu pra dar oportunidades! Na história do Brasil a gente percebe uma desigualdade gritante, principalmente nas comunidades pretas. A maior parte da população é pobre, e a maior parte da população é preta, e não é coincidência! Durante muito tempo o povo preto foi privado de ter acesso à educação, crescimento e desenvolvimento em todas as áreas, precisamos reverter esse quadro de alguma forma. A história da 4Way é uma história revolucionária, estamos mudando o quadro do Brasil para melhor. O acesso ao inglês possibilita empregabilidade, conhecimento de mundo, possibilidade de viajar, enriquecimento cultural, e é isso que nossa escola traz para os nossos alunos bolsistas.
Neuza Nascimento: Como surgiu o nome 4Way?
Diogo: Da tradução do inglês, “quatro caminhos” e também, faz parecer, em Inglês, “a sua maneira ou no seu jeito”.
Neuza Nascimento: Quantos são os beneficiários diretos até os dias de hoje?
Diogo: Mais de 600 pessoas impactadas. Talvez agora, final do ano, nós estaremos chegando a quase 800 pessoas.
Neuza Nascimento: O negócio já se auto sustenta?
Diogo: Sim, através da venda de cursos de Inglês no mercado de ensino de idiomas. Toda a equipe é remunerada.
Neuza Nascimento: Quais foram os maiores desafios?
Diogo: Nessa jornada empreendedora foram diversos desafios como, por exemplo, vencer o medo de dar errado. Não sabia se ia dar certo ou não. Eu dependia do meu trabalho, saí dele, mas ainda cuidava da minha mãe e de mais dois irmãos novinhos. Eu achava que não ia ter outro caminho pra mim seguir rumo ao sucesso. Durante essa jornada eu até procurava emprego porque o primeiro salário do negócio foi a quantia de R$40,00 mensais e, durante um ano foram R$100,00 mensais e depois de quase dois anos, R$1000,00. Só começou a dar retorno a partir de três, quatro anos. E o maior desafio do projeto ainda é criar um padrão para que possamos crescer exponencialmente, conseguir um padrão de franquia, um padrão que possa agregar mais pessoas.
Neuza Nascimento: E vitórias?
Diogo: São várias, pequenas e grandes. A primeira, pessoal, foi conseguir viver só do negócio, a segunda foi o investimento recebido e a visibilidade alcançada. Outra vitória foi conseguirmos, a equipe num todo, passar os conhecimentos que tínhamos pra outras pessoas como os empreendedores, por exemplo. O fato de nós sermos uma equipe facilita muito o desenvolvimento, senão ficamos atolados. Temos vários alunos que por causa do nosso curso conseguiram participar de entrevistas de emprego, se desenvolveram na faculdade.
Neuza Nascimento: Vocês conseguiram continuar em ação durante o auge da Pandemia?
Diogo: No auge da pandemia o negócio quase foi ao chão, mas conseguimos levantar rápido e continuar beneficiando as pessoas. Fizemos um Crowdfunding com o apoio da Fundação Instituto Setúbal e depois o negócio continuou a crescer. Mas foi um grande baque para nós, tivemos uma queda grande de alunos, de quase 100 caímos para 30. Mas as dificuldades também escondem oportunidades. Por conta da quarentena nosso negócio passou a ser online e com isso, acabamos por expandir nosso alcance em escala nacional, trazendo alunos de comunidades de todo o país, chegamos a ter estudantes até de fora do Brasil. Hoje seguimos crescendo e impactando cada vez mais quebradas.
Estamos trabalhando o alinhamento do marketing digital do negócio, construindo uma equipe de vendas, criando novos produtos.
Gostou da iniciativa?
Quer investir, apadrinhar um jovem ou necessita de informações sobre matrículas?
Entre em contato com contato@plt4way.com.br
Instagram: @plt4way
Site oficial: PLT4Way