Por 1 Sorriso: dentistas voluntários levam atendimento gratuito a áreas remotas do Brasil 

ONG foi fundada em 2016 e já realizou mais de 15 mil atendimentos odontológicos com ações no Brasil e na África

17.10.24

Com um equipe de 45 pessoas, 15 cadeiras de dentista e muita dedicação voluntária, a ONG Por 1 Sorriso leva atendimento odontológico gratuito às populações mais vulneráveis do Brasil e da África. São cerca de duas toneladas de equipamento, transportadas por avião e caminhão, que chegam a áreas remotas para tratar a boca de milhares de pessoas todos os anos.

Somente em 2024, foram planejadas 16 ações ao longo do ano, onde são realizados tratamentos de canal, cirurgias, restaurações, etc. Cada ação dura uma semana e atende em média 250 pessoas, de bebês a idosos. Entre as regiões visitadas estão o Cariri, no Ceará, municípios da Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais e localidades no Quênia e em Moçambique, na África.  

“Montamos os consultórios nas localidades onde as pessoas não têm acesso a essas questões de saúde. Levamos o melhor atendimento possível, com cadeiras, radiologia digital, laboratório de prótese, tudo para atender a todas as necessidades odontológicas dos pacientes”, diz a dentista Juliana Fanaro.

A ideia de criar a ONG veio dos dentistas Felipe Rossi e Marina Belo, depois que eles participaram de um trabalho social em Moçambique. Para fazer as ações, a ONG estabelece parcerias locais, que disponibilizam a estrutura física para os atendimentos. As atividades são organizadas anualmente e buscam manter certa regularidade de retorno aos locais visitados. 

“Fazemos um planejamento para estar nos lugares mais necessitados, porque odontologia é uma profissão elitizada, muito cara e infelizmente, mesmo perto de grandes centros, as pessoas não têm acesso”, afirma Juliana.

Imagem: reprodução.

Atendimento gratuito

A ONG já levou atendimento para 11 estados brasileiros e se prepara para chegar ao décimo segundo neste ano, com a primeira visita ao Tocantins. Os atendimentos são feitos por uma equipe de dentistas totalmente voluntários. A intensa dedicação desses profissionais ao projeto é o segredo para mantê-lo ativo há tantos anos. 

“Em geral, fazemos mais de uma ação por mês. Então, muitas vezes, são duas a três semanas entre uma ação e outra”, comenta Juliana. Ela é voluntária da ONG desde 2017 e conta que sempre quis fazer trabalho social em odontologia, área de sua profissão. “Só vamos transformar o mundo num lugar melhor se cada um de nós fizer um pouco”, diz.

O transporte dos equipamentos também é feito em parceria. “A Latam Cargo é nossa parceira. Normalmente vamos para o aeroporto mais próximo e de lá seguimos para a localidade de caminhão. Acabamos de voltar de Canudos, por exemplo. O aeroporto mais próximo era Aracaju. Então de São Paulo foi para Aracaju e de lá foi de caminhão para Canudos. Tem toda uma logística, não é fácil fazer as coisas chegarem”, explica a dentista, que também é responsável pela organização das ações.

Dentistas voluntários

Juliana é especializada em atendimentos a crianças e adolescentes e mostra que o impacto gerado pelas ações vai muito além dos resultados promovidos pelos atendimentos. “O mais importante é o trabalho preventivo, de orientar esses pacientes, porque as pessoas não têm acesso a esse tipo de informação. E quando atendemos e orientamos nossos pacientes, a família leva isso adiante”. 

Ela lembra que as cáries formam o maior problema de saúde bucal no Brasil ainda hoje, levando à perda de dentes, às vezes, de forma muito precoce. “Não é incomum ver jovens que já perderam vários dentes por conta da cárie. Atendo crianças e muitas vezes preciso fazer canal em dente de leite ou mesmo extrair esses dentinhos”, ressalta a dentista.

Juliana aponta que as perdas dentárias, em geral, vêm acompanhadas de relatos de muita dor. Há casos, por exemplo, em que há extração de dentes pelos próprios pacientes, sem qualquer assistência profissional e material adequado. Além disso, as questões estéticas trazem consequências graves e a reposição com próteses mostra-se extremamente necessária. “Muitas vezes, as pessoas não conseguem se inserir no mercado de trabalho e ter uma vida social satisfatória pela falta dos dentes”, alerta. 

Imagem: reprodução.

Por um sorriso

A falta de acesso à informação sobre prevenção e itens básicos de higiene são os principais fatores que levam ao desenvolvimento de doenças na boca. Por isso, todas as ações da ONG incluem a distribuição gratuita de um kit de higiene com escovas de dentes, pasta, enxaguante e fio dental.

“Nós atendemos as mesmas crianças no Quênia desde 2017, por exemplo. E hoje em dia, quando retorno, só faço limpeza. Então, é um trabalho de longo prazo, mas que faz diferença, e que com certeza gera impacto, porque conseguimos plantar essa sementinha e ir colhendo depois o resultado do trabalho”, orgulha-se Juliana.

“Eu acredito muito na transformação que o nosso trabalho promove, porque ao reabilitar a boca de um paciente, podemos de fato mudar sua vida em vários aspectos. Sou muito otimista em relação a isso e apesar de dar um pouco de trabalho, muitas vezes até mais do que no consultório, é uma coisa que faço mil vezes se for preciso, com todo amor. Porque é a forma como posso contribuir para transformar essa realidade”, finaliza. 

Imagem: reprodução.

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Maira Carvalho
Jornalista e Antropóloga, Maíra é responsável pela reportagem e por escrever as matérias do Lupa do Bem.
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