Dia Mundial do Refugiado: conheça a cantora Mah Mooni

Iraniana mudou-se para o Brasil para poder cantar; além de cantora, ela é modelo inclusiva e ativista pelos direitos das mulheres

20.06.24

* Com colaboração de Rodrigo Borges, do MigraMundo.

Nascida em Teerã, capital do Irã, Mah Mooni formou-se em filosofia e, aos 30 anos, imigrou para o Brasil com o sonho de ser cantora. Seu país de origem vive há 45 anos sob o regime dos Aiatolás e da Polícia da Moralidade – nele, as mulheres não podem exercer uma série de atividades, incluindo cantar sozinha em público. No Brasil, Mah Mooni tornou-se cantora, modelo e ativista pelos direitos das mulheres, integrando as bandas Brisa do Oriente e Orquestra Mundana Refugi, projeto que une migrantes e refugiados pela música e a dança. 

Neste Dia Mundial do Refugiado, conversamos com a artista sobre música, direitos das mulheres e diferenças entre Brasil e Irã. Confira:

Lupa do Bem: Fiquei emocionada ao te ver cantando e um tanto curiosa para saber sobre o que você canta…

Trouxe na minha mala poesia persa para cantar no Brasil, que é um país acolhedor com uma natureza generosa que pode abraçar outras culturas. 

E por que você deixou o Irã? 

Onde eu nasci muitos trabalhos são proibidos para mulheres e meu sonho era ser cantora! Mas a mulher no Irã não pode cantar em público sozinha e não pode dançar também. É proibido! Então, decidi sair do Irã para ter direitos básicos, para ter liberdade, respirar, sobreviver…

Como é ser cantora no Irã e no Brasil? Há muitas diferenças? 

Eu amo essa diversidade racial e cultural do Brasil e gostaria de apresentar mais da minha música e da minha cultura. Vim para cá justamente para tentar realizar meu sonho de ser cantora. No entanto, demorou anos para conseguir ser cantora e modelo. Somente após 5 anos morando aqui, em 2017, que consegui ingressar como cantora na Orquestra Mundana Refugi. 

Você disse em uma entrevista que não pode voltar ao Irã, pois seria presa. Poderia falar um pouco mais sobre isso, por favor? 

Eu sou cantora e artista e no Irã cantar em público é considerado crime para as mulheres. Dançar e escolher muitos empregos também são proibidos para as mulheres. O Hijab [um dos tipos de véu islâmico] é obrigatório em todos os locais públicos. E o mundo precisa saber que tem apartheid de gênero no Irã. Ser cantora e sentir o sol e o vento nos cabelos deveriam ser direitos básicos para todas as mulheres. Na verdade, a mulher vale metade do homem no Irã.

Qual a situação das mulheres no Irã hoje? 

As mulheres do Irã estão sob opressão desde a Revolução Islâmica, de 1979.  As mulheres possuem metade dos direitos dos homens por causa das leis impostas pelo regime islâmico, que realmente é uma teocracia e não uma república! Às mulheres são negadas direitos básicos, como escolher o tipo de vestimenta a partir de 7 anos. Elas não podem escolher o vestido ou trabalho. Sem o véu obrigatório, elas não podem sair de casa, não podem entrar na escola e universidade para estudar, não podem sequer entrar no hospital caso precisem! 

Vim de um país onde a mulher não pode ter passaporte sem autorização do pai ou do marido. Nós mulheres do Irã, e também do Afeganistão, estamos sofrendo da mesma dor, um verdadeiro apartheid de gênero. Isso não é cultura de um país, é opressão do regime islâmico do Irã e talibã do Afeganistão.

Como você define a experiência de, ao mesmo tempo, ser mulher, refugiada e pessoa com deficiência no Brasil? A partir dessa experiência, o que você diria às mulheres que estão lutando pelos direitos aqui no Brasil? 

Ser mulher no Irã, onde eu nasci, é muito difícil. Mas no Brasil também é muito difícil a aceitação de uma artista independente do Oriente Médio. Há muito preconceito contra as mulheres do Oriente Médio no Brasil por falta de informações suficientes e atualizadas. A maioria pensa que essas mulheres são todas muçulmanas, só falam árabe e estão sob o comando de homens. Por isso, as pessoas têm até medo de se comunicar e trabalhar com as mulheres do Oriente Médio.

Estamos no mês de junho, no qual ocorrem diversas manifestações e eventos a respeito do refúgio. O que essa data representa para você?

Por causa da mentalidade pró-ocidental que prevalece no Brasil, infelizmente, a arte de uma mulher do Oriente Médio não é considerada séria. Na verdade, ouso dizer que depois de 12 anos morando no Brasil e trabalhando como cantora e modelo ainda não estou em uma posição segura e estável de emprego, e isso é muito triste depois de anos tentando e tendo um currículo aceitável.

Imagem: reprodução.

Refúgio no mundo e no Brasil

Mah Mooni é uma das 143.033 pessoas reconhecidas como refugiadas no Brasil, segundo dados divulgados na última semana pelo governo federal. Se consideradas também as pessoas em situação de refúgio que ainda não tiveram a solicitação apreciada pelas autoridades ou que se encontram em outras situações vulneráveis, esse dado chega a 710 mil pessoas.

Em todo o mundo, de acordo com o ACNUR, a agência da ONU para refugiados, são 120 milhões de pessoas em situação de deslocamento forçado, sendo que 43 milhões são considerados refugiados de fato – ou seja, que tiveram de buscar proteção em um país distinto do que nasceram. 

Para acompanhar o ativismo e as apresentações da artista, siga o perfil @mahmooni no Instagram.

    Equipe de Base Warmis – Convergência de Culturas
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Maira Carvalho
Jornalista e Antropóloga, Maíra é responsável pela reportagem e por escrever as matérias do Lupa do Bem.
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