Edcléia Santos: 30 anos crescendo com a comunidade de Passarinho

Conheça Edcléia Santos, um dos principais nomes da luta por moradia da cidade do Recife (PE) na comunidade do Passarinho. 

24.09.21

Crédito: Acervo Pessoal

Por: Eduarda Nunes / Lupa do Bem – Favela em Pauta

Todo corpo é um corpo político, mas existem aquelas pessoas que se dedicam um pouco mais às suas atuações. Uma delas é Edcléia Santos, mulher negra de 64 anos, mãe de quatro filhos, avó de seis netos e um dos principais nomes da luta por moradia da cidade do Recife (PE). 

Há mais de 30 anos, Cleia, como é conhecida pelos familiares, vizinhos e companheiros da militância, começou a se envolver na briga pelo direito à moradia e todos os direitos essenciais que vêm acoplados. Atualmente, ela coordena o Espaço Mulher, em Passarinho, território cedido para famílias que, nos anos 80, moravam na barreira do Morro da Conceição e viviam em constante perigo.

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Tudo começou quando Edcléia estava na fila para pegar o tíquete do Programa Nacional do Leite para Crianças Carentes, criado pelo Governo Federal em 1986, que garantia às famílias que tinham renda de até dois salários mínimos o acesso ao leite gratuitamente. Enquanto esperava, Vera Guedes, outra moradora do bairro, a convidou para o Grupo de Mulheres do Morro. Desde então, Edcléia, literalmente, ganhou o mundo pautando melhores condições de vida para as mulheres e de moradia para a população periférica.

É a partir desse grupo que Cléia começa a entender sua potência política. Ela participou ativamente da conquista pelo território de Passarinho na década de 80, e sua família foi uma das que construíram casas naquela área de mato cedida. Antes disso, Cléia se dedicava à família e ao trabalho do lar. Antes diarista e, à época, já era trabalhadora doméstica “com carteira assinada e tudo”, reforça.

Foi numa dessas idas ao trabalho, em 1999, na Kombi com outras trabalhadoras, que surgiu o grupo “as kombeiras” – uma extensão das conversas que elas tinham diariamente no translado para o trabalho. Diariamente, as mulheres iam e voltavam do trabalho, conversando sobre o que faltava para a comunidade e pensando soluções juntas, até que o marido de uma delas ironizou que elas deveriam criar um grupo de mulheres. “Deu a ideia porque quis!”, brinca Edcléia.

Uma das principais ações das “kombeiras” foi um projeto que buscava ampliar a discussão sobre a saúde das mulheres na comunidade. 

Edcléia Santos

Cléia conta que o Sindicato das Trabalhadoras Doméstica foi uma importante instituição nesse processo de politização de Passarinho. Depois delas, organizações como a Casa da Mulher do Nordeste, SOS Corpo, ActionAid e Fase também chegaram junto para fortalecer a briga das mulheres de Passarinho.

Edcléia Santos: liderança no bairro Passarinho (PE)

Em 2001 o grupo muda o nome para Espaço Mulher e atualmente, além das 50 mulheres participantes, elas já somam algumas conquistas como a iluminação pública, um posto de saúde e uma escola, mesmo que não estejam nem perto do que seria o ideal e do que as mulheres demandam no dia a dia. É uma briga constante com os poderes públicos para que o bairro tenha acesso ao básico para a moradia. 

Passarinho é um bairro historicamente negligenciado pelos políticos da cidade. Em sua criação, o então governador do estado, Miguel Arraes, prometeu uma infraestrutura bem longe do que foi entregue. Apenas a rua principal e algumas outras foram asfaltadas.

Há 30 anos que Cléia cresce pessoalmente com esse movimento. Foi a partir desse espaço de identificação e potencialização de liderança que ela se apropriou de seu grande valor. Deu um basta na violência psicológica que sofria em casa e, hoje em dia, vive com seu companheiro em um ambiente livre das limitações machistas – enquanto tenta ajudar outras mulheres a conquistarem também suas liberdades. “Eu vejo que não evoluí sozinha, eu evoluí em coletivo porque eu estou contagiando outras mulheres também”, comenta.

Ela também voltou a estudar, terminou o ensino básico, tentou cursar serviço social, mas não conseguiu passar nos vestibulares que prestou. Essa é uma ideia que não foi abandonada, mas que ela entende que a dinâmica que sua vida tem tomado, de certo modo, dificulta por ora. Sua principal fonte de renda é a costura e os artesanatos que fazem a marca do Espaço Mulher. Artigos para cozinha, camisas, bolsas e acessórios são a especialidade da casa.

Em 2021, Edcléia decidiu fazer sua primeira festa de aniversário. Aos 64 anos, amigos próximos, parentes e companheiras do Espaço Mulher puderam celebrar a vida dessa pessoa que briga pelo bem-estar dos seus, com bolo e muito samba!

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Autor: Redação - Lupa do Bem
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