Acolhimento LGBTQIA+ nas regiões Norte e Nordeste

O cuidado muitas vezes é feito sem a presença física, mas com proximidade e afeto.

28.07.21

Crédito: Divulgação

Por: Eduarda Nunes / Lupa do Bem – Favela em Pauta

Alguns tabus sobre as sexualidades atravessam gerações e obrigam as pessoas reprimidas a organizarem suas vidas na tentativa de garantir o máximo de proteção possível. Quando a homossexualidade era tida como ilegal e passível de detenção nos Estados Unidos, alguns bares e clubes eram os únicos locais em que as pessoas podiam se expressar livremente, uma espécie de refúgio.

O Stonewall Inn era um desses e em 28 de junho de 1969 foi alvo de uma operação policial agressiva que levou treze pessoas detidas. Essa ação causou uma reação que durou cinco dias de mobilização puxados por Marsha P. Jonhson e Sylvia Rivera, travestis negra e latina,  que sentiram na situação um estopim para se levantar contra as frequentes perseguições por serem quem são.

Esse foi um marco importante para o início do movimento LGBTQIA+ pelos direitos civis. Até hoje homens, mulheres e pessoas não binárias enfrentam uma sociedade que insiste em demonizar e criminalizar suas existências. No Brasil, um exemplo próximo foi o dia 19 de agosto de 1983, na manifestação realizada no Ferro’s Bar, na cidade de São Paulo, que ficou conhecida como Pequeno Stonewall Brasileiro. A data, desde o ano de 2008 marca também o Dia do Orgulho Lésbico, após aprovação na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. 

Para fazer esse enfrentamento, todo apoio e suporte é importante. O Brasil é o primeiro país das Américas no ranking e homicídios de pessoas LGBTQIA+ e o primeiro do mundo em assassinato de pessoas trans, segundo relatório da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais (ILGA). Na pandemia, a situação de vulnerabilidade social da pessoas LGBTQIA+ ficou ainda maior: insegurança sanitária e alimentar e atritos familiares são alguns dos fatores que mais implicaram nisso.

Nesse contexto, organizações como a CasAmor Neide Silva (SE) e a Casa Miga (AM) são de suma importância para ajudar a comunidade LGBTQIA+ a passar por esse momento difícil.

Momentos de formação e conversa na Casa Miga (Foto: Divulgação)

A Casa Miga, por exemplo, é a primeira casa de acolhimento de pessoas LGBTQIA+ brasileiras e refugiadas do Brasil. Ela fica em Manaus e foi criada em 2018 enquanto projeto da Associação Manifesta LGBT+ e hoje é referência em toda a América Latina. No início da pandemia, houve uma baixa nas doações e a casa quase fechou, mas com muito trabalho e persistência, a equipe mantém a instituição aberta até hoje.

Desde maio de 2020 cerca de 500 pessoas foram beneficiadas com doações de alimentos e outras atividades que a Casa oferece. Eles atuam oferecendo moradia, alimentação, atendimento psicológico individual e em grupo, cursos profissionalizantes e direcionamento aos serviços de saúde para brasileiros, venezuelanos e cubanos.

Lucas Brito tem 25 anos e é o coordenador geral da Casa Miga. Ele conta que muitas vezes, por conta do choque de culturas, é preciso preparar momentos de discussões para fazer certo “alinhamento” com as pessoas. Embora sejam todas LGBTQIA+, por vezes acontecem casos de transfobia entre os beneficiários. A expectativa futura de Lucas é que haja a “efetivação dos direitos já alcançados e a construção de novas políticas que alcancem subjetividades que ainda não são alcançadas”.

Finalização do curso X na Casa Miga (Foto: divulgação)

CasAmor e o apoio jurídico, cultural e em saúde mental em Aracaju, no Sergipe

Esse é o mesmo desejo de Eron Pereira Neto, presidente da CasAmor Neide Silva em Aracaju (SE). É pela sub-representatividade política de atores que possam brigar pelos direitos mais básicos e fundamentais da população LGBTQIA+ que essas iniciativas se tornam ainda mais importantes.

Em Sergipe, a CasAmor precisou mudar o formato de atuação por conta da pandemia. As frentes de trabalho em assessoria jurídica, assistência social, centro cultural e saúde mental precisaram dar espaço para que uma força-tarefa de combate à insegurança alimentar pudesse ser formada. A CasAmor também atua junto aos LGBTQIA+ do Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST), assistindo pessoalmente os integrantes e também realizando alguns momentos de discussões nas ocupações.

LGBTQIA+

Feijoada Beneficente na CasAmor (Foto: divulgação) – ano 2019

“Durante a pandemia a gente perdeu muito o contato direto com o nosso público, o contato afetivo, de acolhimento, que a gente sabe que é muito importante pras pessoas que a gente assiste”, conta Eron, que também é um dos fundadores da CasAmor. Na contramão dessa perda, as doações aumentaram e hoje eles conseguem assistir mais gente do que antes, seja por doações de alimentos como pelos atendimentos virtuais. Atualmente, mais de 100 pessoas são assistidas, mesmo que de longe pela instituição.

É muito importante que essas iniciativas se multipliquem cada vez mais pelo Brasil. Combater a LGBTQIA+fobia é garantir um país que entende, respeita e valoriza cada pessoa viva.

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CasAmor na Ocupação Mulungu (SE) – Foto: Divulgação

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Autor: lupaadmin
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