Escola de programação para mulheres busca equidade no setor tech
Com cursos gratuitos e parcerias com empresas, Reprograma insere mulheres no mercado de trabalho.
Reprograma é uma iniciativa de impacto social feita por mulheres para mulheres. A escola oferece cursos de programação online de forma gratuita e exclusiva. Depois, através de parcerias com empresas, faz a colocação das alunas no mercado de trabalho no setor da tecnologia da informação.
Alunas negras, trans e travestis são prioridades na escola. O objetivo é permitir que mulheres de grupos vulneráveis sejam capacitadas para trabalharem e permanecerem no setor. “Assim contribuímos para a construção de um setor de tecnologia diverso e, paralelamente, ajudamos essas mulheres a ganharem independência financeira”, explica Nadja Brandão, diretora executiva da Reprograma.
Das 417 mulheres formadas entre 2020 e 2021, cerca de 300 eram mulheres negras, e 42 mulheres trans e travestis. O recorte racial sempre foi uma preocupação das líderes da Reprograma, conta Nadja. “Apesar disso, elas não sabiam como atrair mais mulheres negras e não brancas para os cursos. Por isso decidiram estudar o feminismo negro e latino-americano, além de contratarem consultorias de suporte”, lembra.
Programação para mulheres
Nomeada em 2022 para ocupar o cargo de CEO da Reprograma, Nadja Brandão é advogada com foco em Governança Corporativa, Compliance e ESG, além de líder em comitês e programas voltados para a desigualdade racial e de gênero. Ela ocupou o comando da organização no lugar de Mariel Reyes, idealizadora da Reprograma.
A iniciativa começou com uma turma piloto de front-end de seis semanas em São Paulo, em 2016. Front-end é o nome que se dá ao desenvolvimento da parte visual de um site ou aplicativo, para que o usuário possa interagir com o programa. Como o curso foi um sucesso, Mariel Reyes se juntou a outras duas mulheres, Carla De Bona e Fernanda Faria, para fundar uma associação sem fins lucrativos. Assim nascia a Reprograma.
Dois anos depois, em 2018, elas foram convidadas a integrar a Estação Hack do Facebook, hoje Meta, para atuar com educação em tecnologia com foco em mulheres. Com isso, conseguiram ampliar o curso de front-end de oito para 18 semanas. E começaram a trabalhar ativamente na empregabilidade das alunas.
No ano seguinte, implementaram a primeira turma de back-end, para ensinar a trabalhar com os códigos que permitem a parte visual funcionar corretamente. Os cursos de back-end proporcionaram maiores chances de empregabilidade às alunas, já que faz a ponte entre o banco de dados e as informações do navegador. A escola também iniciou a primeira turma voltada para meninas de 14 a 17 anos, em parceria com B3 social, Fundação Behring e XP investimento.
Diversidade, equidade e inclusão
Em 2022, Mariel Reyes se desligou da Reprograma para conduzir a plataforma filantrópica VélezReyes+. Neste momento, Nadja Brandão tornou-se a nova CEO, intensificando as ações voltadas para o recorte de raça, gênero e renda. “Nos esforçamos para incluir cada vez mais mulheres de grupos minoritários, de todas as regiões do país, de diferentes raças, etnias, orientação sexual, mães e neurodiversas”, afirma.
Para garantir um ambiente acolhedor, a Reprograma instituiu um comitê responsável pelas políticas de diversidade, equidade e inclusão (DE&I). O objetivo é garantir a aplicação dessas políticas em toda a rede de atuação, entre alunas, equipe e parcerias.
“Apesar de estarmos caminhando para conquistar um cenário melhor referente à igualdade de gênero no mercado de trabalho, ainda temos muito o que fazer, principalmente quando tratamos de diversidade, equidade, inclusão e pertencimento”, diz Nadja.
Cursos gratuitos e parcerias com empresas
Todos os cursos da Reprograma são gratuitos, intensivos e online. Para oferecer os cursos, a escola conta com apoio de doadores, empresas parceiras e trabalho de voluntárias. As voluntárias atuam em diversas atividades, mas a principal é na monitoria técnica, ajudando em sala de aula ou de forma remota, fundamental para quem tem poucas horas por dia para se dedicar ao curso.
“O trabalho de monitoria envolve desde a ajuda em dúvidas pontuais, correção de trabalhos e avaliações. Também recebemos voluntárias que querem colaborar conosco, mas não tem conhecimento em linguagens de programação, UX ou na área de educação”, avisa Nadja.
As parcerias com as empresas permitem investimentos na escola e crescimento do programa. As empresas podem apadrinhar turmas, compartilhar seus profissionais em processos de mentoria e manter um canal de relacionamento para contratação de mulheres.
As empresas ainda podem contribuir com o fundo de bolsas para financiar as alunas de baixa renda. As bolsas têm duração de seis meses, tempo que dura um curso, e valor de R$1.300, garantindo assim acesso de qualidade das alunas.
Talento digital
Segundo Nadja Brandão, o setor tecnológico brasileiro sofre com a falta de talento digital e a ausência de mulheres, em especial, as mais vulneráveis. Essas mulheres enfrentam barreiras para entrarem nos campos STEM, como são chamados os estudos de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática.
“Além disso, muitas vezes as poucas mulheres que decidem seguir carreiras em STEM não se sentem seguras, nem bem-vindas nesses programas”, afirma Nadja Brandão. Pensando nisso, a Reprograma desenvolveu o projeto “Todas em Tech” por meio de uma parceria com o Laboratório de Inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID Lab) e o apoio de cinco grandes empresas: Accenture, Creditas, iFood, Meta e Nubank.
Também lançaram, em parceria com o Mercado Livre, o projeto “Conectadas”, voltado para meninas de 14 a 18 anos da América Latina, com foco em soluções de saúde e bem-estar, educação, abandono de animais e educação sexual. E realizaram o “Reprograma Teens”, curso de seis semanas online, que inicia adolescentes de 14 a 17 na programação front-end.
Como resultado, a Reprograma foi uma das 34 organizações não governamentais selecionadas pelo Desafio de Impacto do Google.org para Mulheres e Meninas, em 2022. Também foi reconhecida pelo Edital Prepara Futuro, uma iniciativa do Santander que apoia projetos sociais com a agenda de inclusão produtiva, ou seja, a inserção de pessoas em situação de vulnerabilidade econômica no mercado de trabalho.
Equidade no setor tech
“A sociedade em que vivemos é diversa, então faz total sentido que os times das empresas sejam diversos, no setor de tecnologia e em qualquer outra área. Se temos apenas um grupo representado criando soluções, com certeza não teremos uma solução que sirva a todos”, diz Nadja Brandão.
A noção de que as mulheres não se interessam por exatas e tecnologia tem um histórico social e cultural. “Pesquisas mostram que a partir dos seis anos, as meninas começam a pensar que não são boas para as exatas. E cria-se a mentalidade de que computador e programação é só para meninos. Além disso, faltam referências de mulheres nessas áreas atualmente. Mas nem sempre foi assim! Cerca de 70% dos estudantes de Ciências da Computação, da Universidade de São Paulo (IME – USP) eram mulheres até a década de 1970. Hoje, são apenas 15%”, explica.
Ou seja, antigamente a área era ocupada por mulheres. “Elas foram criadoras de diversas tecnologias e linguagens de programação. No entanto, logo na sequência, algumas empresas que fabricavam e vendiam computadores, como a Apple, adotaram estratégias de marketing focadas nos meninos. Acredita-se que isso desestimulou as meninas a seguir carreiras em tecnologia”, diz Nadja.
Ela também cita a cultura brogrammer, baseada no estereótipo de programador homem, branco, cis, como influência para que as próprias mulheres e meninas acreditem que programação não é para elas. “É preciso que as mulheres acreditem em si mesmas. Principalmente, que aprendam a errar, já que foram ensinadas a buscar a perfeição, e entendam que não é um talento inato, e sim habilidades desenvolvidas ao longo do tempo, com dedicação e paciência”, diz Nadja Brandão sobre como transformar essa cultura.
Qualificação, emprego e mercado de trabalho
Dentre as razões pelas disparidades de gênero no setor de tecnologia, está a falta de apoio e incentivo para que mulheres estudem nas áreas de STEM. “A maioria das conquistas das mulheres no mercado de trabalho está ligada ao maior nível de qualificação delas. Por isso, além da determinação para atuar em uma área predominantemente ocupada por homens, é preciso que elas invistam na educação para poderem voar cada vez mais alto”, alerta Nadja.
A transformação dessa cultura brogrammer, no entanto, também precisa vir dos líderes das empresas. Segundo reportagem da Forbes, as mulheres representam menos de um terço dos trabalhadores de tecnologia, porém, têm 65% mais chance de perder seus empregos do que os colegas homens.
Para facilitar a conexão das formandas ao mercado de trabalho, a Reprograma lançou, em 2022, uma plataforma de contratação integrada com as recrutadoras Guppy e GreenHouse. Além de ter acesso aos perfis das alunas, ao adquirir o acesso à plataforma, a empresa também pode oferecer vagas e realizar o processo seletivo online de ponta a ponta. O valor advindo da plataforma, cabe lembrar, é reinvestido na formação de mulheres que não podem pagar um curso para se tornarem programadoras.
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* Aviso aos leitores: a produção do Lupa do Bem tem focado em pautas sobre direitos e empoderamento da mulher durante todo mês de março, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher.