Um combate alternativo ao uso de drogas
Com o intuito de somar experiências e continuar reivindicando avanços no tratamento do uso problemático de drogas em Pernambuco, Arturo Escobar, Ingrid Farias, Priscila Gadelha, Anamaria Carneiro e Rafael West criaram a Escola Livre de Redução de Danos.
Crédito: Divulgação
Por: Eduarda Nunes – Lupa do Bem / Favela em Pauta
Com o intuito de somar experiências e continuar reivindicando avanços no tratamento do uso problemático de drogas em Pernambuco, Arturo Escobar, Ingrid Farias, Priscila Gadelha, Anamaria Carneiro e Rafael West criaram a Escola Livre de Redução de Danos.
Com sede no Recife, a escola hoje atende pessoas em situação de vulnerabilidade social a partir da disponibilização de um espaço de convivência e limpeza, escuta psicológica, orientações para o acesso a serviços públicos e a promoção da Redução de Danos.
Essa é uma metodologia pensada, primeiramente, para reduzir a contaminação de HIV entre usuários de heroína injetável durante o surto mundial do vírus nos anos 80 e 90 através de programas de troca e distribuição de seringas. Hoje, se expande para o cuidado de pessoas que usam drogas e estimulantes também de forma não injetável.
“Uma das premissas da Redução de Danos é que o uso de drogas faz parte da cultura humana. Então, acreditar que dá para extirpar o uso de drogas na sociedade se torna uma irrealidade quando a gente compreende o que é a Redução de Danos”, conta Arturo Escobar, um dos fundadores da Escola Livre de Redução de Danos. Segundo ele, a RD começa no campo médico, buscando formas imediatas de redução dos impactos do uso problemático de drogas, e hoje se amplia e compreende até as determinantes sociais da saúde. Fatores não biológicos que interferem na forma como as pessoas escolhem e consomem as drogas.
A Redução de Danos se contrapõe às metodologias de repressão e abstinências dos usuários. Ela foi instituída enquanto política pública no tratamento de usuários de álcool e outras drogas pelo Governo Federal em 2005 e em 2021 foi retirada. Uma decisão que o Conselho Federal de Psicologia considerou um retrocesso e um retorno à lógica manicomial.
A história da Escola Livre de Redução de Danos (ELRD) surgiu a partir do ativismo pela legalização da maconha no país. Arturo, que é psicólogo, professor e pesquisador psicologia cognitiva e dependências, conta que é no surgimento das Marchas da Maconha em 2007/2008 e, posteriormente, em 2011, quando o Supremo Tribunal Federal define que esses movimentos são legais, que a luta antiproibicionista começa a ter mais expressividade.
Sendo uma das pessoas que esteve presente na construção das primeiras Marchas da Maconha do Recife, através do Coletivo Antiproibicionista de Pernambuco, Arturo conta que ao passar dos anos o movimento foi mudando, saindo da universidade e se articulando mais com outros movimentos sociais.
Isso possibilitou o fortalecimento mútuo entre os ativismos antiproibicionista, antimanicomial e antirracista ao passar dos anos. “Ser antiproibicionista pra gente é colocar-se numa postura antirracista, antimanicomial e também pró-feminista e feminista, entendendo esses aspectos intersseccionais que estão ali transitando dentro da guerra as drogas”, comenta o pesquisador.
O cenário político que se desenhou no país a partir de 2016 deu o fôlego necessário para iniciar as articulações do movimento antiproibicionista para se inserir nos espaços políticos de debates políticos nas estruturas de controle social. Após a retirada da então presidenta Dilma Rousseff, o possível retorno a um cenário de “remanicomialização” e retrocesso nos avanços alcançados na área ficou cada vez mais iminente.
Uma abordagem diferente
Em 2017, os co-fundadores da Escola Livre de Redução de Danos começaram a pensar em um curso para a formação de novos redutores de danos, visto o desinvestimento progressivo na área. A primeira turma só aconteceu em 2020, de forma online por conta da pandemia, a segunda em 2021.
Enquanto esse curso ainda não era possível de ser realizado, a Escola Livre de Redução de Danos atuou no Recife e na região metropolitana de outras formas e sem nenhum investimento de recursos públicos.
Entre 2018 e 2019, Arturo, Ingrid, Rafael, Priscila e Anamaria se dedicaram a traduzir o livro “Nos limites da correria – Redução de Danos para pessoas que usam estimulantes”, que foi lançado no seminário internacional que marcou os 30 anos da RD no Brasil.
Em 2020 a ELRD aprova o projeto de ampliação do trabalho para um espaço físico e formativo, de acolhimento multidisciplinar para pessoas em vulnerabilidade social. A pandemia interfere e, impossibilitados de receber pessoas na sede, a Escola se aproxima dos movimentos sociais somando nos atendimentos a essas pessoas durante o isolamento social. Ao mesmo tempo, promovem a primeira edição do curso de formação em Redução de Danos de forma online nesse mesmo ano.
Antes da pandemia, no carnaval de Olinda de 2020, a Escola esteve presente com a Casa Fique Suave e seus redutores de danos que subiram e desceram as ladeiras em folia levando informação e distribuindo materiais para o uso consciente de drogas. Mais de 100 mil pessoas foram impactadas, o que criou uma pressão pública para que a Prefeitura de Olinda também fizesse sua parte nessa iniciativa de redução de danos na festa que atrai milhares de brasileiros e estrangeiros todos os anos.
As portas da Escola só abrem em 2021 e desde então cerca de 100 pessoas já colaboraram com o funcionamento do centro. Entre voluntários, redutores de danos, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais.
As expectativas futuras são, primeiramente, manter os serviços que são ofertados de acolhimento, acompanhamento, aconselhamento e defesa de um hábito focado na redução de danos. Seguir acompanhando os processos de regulação da cannabis medicinal em Pernambuco e em todo o Brasil e fazer parte do fortalecimento da profissão do redutor de danos são alguns dos cenários que Arturo também visualiza.
Como acompanhar e apoiar as atividades da Escola
“A ideia da escola é de fazer esse advocacy mesmo. Da gente pensar que a nossa Reforma da Saúde Mental vale a pena ser investida. De que a gente precisa pensar num paradigma da Redução De Danos que atenda para além da saúde porque ela tem outros alcances possíveis na assistência social, na segurança pública, mudando o perfil, inclusive, de entendimento do próprio estado policial sobre a pessoa que usa droga”, afirma o cofundador da Escola Livre de Redução de Danos.
Para acompanhar e apoiar as atividades, acesse as redes sociais da Escola Livre de Redução de Danos.