Existe amor na BXD – estudantes de audiovisual criam campanha para financiar documentário sobre a Baixada Fluminense
Produção visa um olhar afetuoso para a Baixada, em uma espécie de contranarrativa orgulhosa
Crédito: Divulgação
Por: Carlos Henrique Souza – Lupa do Bem / Favela em Pauta
O projeto “Existe amor na Bxd?” surge a partir da ideia de trazer um novo olhar para uma região periférica que já sofre com o estigma da violência, da falta de saneamento básico e educação deficitária. Uma visão estereotipada, que por muitas vezes também é compartilhada na tela da TV por telejornais que reforçam uma leitura de terra abandonada.
Prova dessa realidade é a forma como a região é retratada, não faltam manchetes para afirmar que “é a região mais violenta do Rio de Janeiro”, bem como nas décadas de 70 e 80, quando a cidade de Belford Roxo era intitulada como a mais violenta do mundo. Algo que hoje até encontra algum eco em dados atuais, mas que não representa a cidade e tampouco a região como um todo.
Devido a este contexto que muitos dos próprios moradores da região falam do sentimento de que a Baixada é apenas um espaço dormitório, ou sobre a necessidade de afastamento do próprio local de origem de diversas formas, como ao buscar diversão e entretenimento em outros lugares. Porém, o que é ignorado por quem absorve essa visão sobre a Baixada Fluminense é o fato da região ser celeiro de artistas talentosos e movimentos culturais de muita história.
Alguns exemplos dessa efervescência cultural são organizações como o Ojuobá Axé, ONG que há quase 40 anos ensina para crianças e adolescentes atividades como percussão, além de tantas outras; Ou o Centro Cultural Donana, que também tem na música e cultura de modo geral o foco de uma atuação de décadas.
Além de movimentos sociais, a região é também o berço de sambistas e compositores de dom inquestionável, a exemplo do mesquitense Dicró, cantor e compositor de sambas satíricos de sucesso.
Outra referência no samba é Bezerra da Silva, que é nascido em Recife – PE e radicado no Rio de Janeiro desde os seus 15 anos de idade, tendo uma íntima relação com a Baixada. Segundo o pesquisador de Samba Amilton Cordeiro, Bezerra buscava com frequência compositores de Mesquita para ter boas músicas em seus álbuns. Ele fez questão de homenagear a região ao cantar uma canção que faz coro com a proposta do documentário “Existe amor na BXD”, como ilustra o trecho a seguir.
“Lugar que ocupa um pedaço
Do meu coração, do meu coração
Mas infelizmente tem fama de barra pesada
Isso tudo é intriga da oposição
É muita mentira e conversa fiada
Eu explico por quê
O melhor lugar pra morar é na minha baixada” – Baixada, composição de Edson Show e Wilsinho Saravá, ambos compositores da Baixada Fluminense.
A concepção de um novo documentário sobre a BXD
Mariana Maux, criadora do projeto, moradora de São João de Meriti e aluna de audiovisual do EncontrArte, relatou que tudo começou com um tom de interrogação. “Existe amor na Bxd?”, pergunta que dá título ao projeto e que, ao longo do documentário, pretende ser respondida.
“Quando era mais nova a Baixada Fluminense era um lugar que eu tinha que superar, do qual eu tinha que fugir. Isso porque, até então, é essa imagem que mais se reproduz, a do lugar indesejado”, relata Marina.
O documentário contará com diversos entrevistados que são referências da Baixada Fluminense, como Wesley Brasil, criador do “Site da Baixada”, Fábio Vieira, criador do CTN Nilópolis, Alessandra Mércia “Malê”, produtora cultural de Duque de Caxias, entre outros.
As gravações encerraram no mês de outubro. As filmagens foram capturadas em algumas das cidades que fazem parte da Baixada, como por exemplo Nilópolis, São João de Meriti, entre outras. O documentário também conta com a participação de pessoas que movimentam a cultura da Baixada Fluminense.
Como apoiar o projeto
Para tornar real o documentário, os participantes criaram uma marca que busca apresentar o lado bom da região. São vendidos produtos como blusas, bonés e ecobags com a logo do projeto estampada. A venda dos produtos é utilizada como parte da captação de recursos financeiros que custeiam as etapas de produção da peça audiovisual.
Para acompanhar tudo sobre o documentário e também adquirir algum dos produtos vendidos com a identidade do grupo, é só seguir o perfil do projeto no Instagram, no @existeamornabxd.