Feiras agroecológicas em Pernambuco: do litoral ao sertão do estado

A forma de cultivo e consumo dos alimentos interfere mais na saúde do consumidor do que se imagina. Se você tem curiosidade em saber sobre os processos que sua comida passou até chegar em sua mesa,  certamente é preciso conhecer a agroecologia, a agricultura familiar e as feiras agroecológicas.

04.08.21

Crédito: Darliton Silva/Centro Sabiá

Por: Eduarda Nunes / Lupa do Bem – Favela em Pauta

Embora possa parecer algo novo, a agricultura familiar é uma das formas mais antigas de produção de alimentos que existe e está ligada às práticas tradicionais indígenas. Essa forma de cultivo é direcionada à subsistência e aos comércios locais e fazem contraponto às produções que envolvem grandes maquinários, substâncias químicas e da retirada exaustiva dos minérios do solo (comércio exportador).

A agricultura familiar tem legislação própria e emprega mais de 10 milhões de brasileiros, segundo o Censo Agropecuário de 2017. As regiões norte e nordeste concentram a maior parte desse tipo de produção, sendo Pernambuco e o Acre os estados de maior destaque.

Feira Agroecológica de Surubim, onde os produtores rurais vendem seus produtos semanalmente.

Centro Sabiá, uma rede de práticas e saberes em Recife desde 1993

Na década de 80, em vista de um cenário de fome que se aproximava das populações do campo, a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) lançou a Rede PTA – Projeto Tecnologias Alternativas. 

Propagar soluções e possibilidades de geração de renda e produção de alimentos para agricultores e agricultoras de todo o Brasil era o principal norte da iniciativa. No estado de Pernambuco, um dos grupos que fizeram parte dessa rede de intercâmbio de práticas e saberes criou o Centro Sabiá em 1993, em Recife.

Crédito das imagens: Ana Mendes (Acervo Centro Sabiá)

Ainda em fase de formação e em contato com organizações de trabalhadores e técnicos rurais no Ceará, os integrantes do Centro Sabiá conhecem Ernst Götsch e os sistemas de agroflorestas. Elas mesclam a floresta e a roça em um mesmo ambiente, conservando a vegetação, cuidando do solo e produzindo alimentos. Desse encontro, foi definido que essa seria a principal via de trabalho do Centro. E, de fato, assim o foi.

Feiras agroecológicas: espaços de troca e compartilhamento

Em 16 de outubro de 1997, no dia mundial da alimentação,  foi realizada uma feira para demonstração das produções dos agricultores apoiados tanto pelo Centro Sabiá como de outras organizações de incentivo e pesquisa em agroecologia, como o Serta e o Cáritas Brasileira. Ela aconteceu na Praça da Jaqueira, zona norte do Recife, e é o embrião do Espaço Agroecológico das Graças, o mais antigo do estado. 

Após a realização bem sucedida do evento, os agricultores pediram que as feiras continuassem acontecendo. É dessa demanda, alinhada às iniciativas e políticas públicas de incentivo e fortalecimento da agricultura familiar, que hoje existem espaços agroecológicos do litoral ao sertão do estado.

Feira Agroecológica de Surubim, onde os produtores rurais vendem seus produtos semanalmente.

Nesses espaços acontecem não só o comércio propriamente dito, como também um fortalecimento dos laços entre os produtores e consumidores. Todo um intercâmbio de conhecimentos e afetos entre o campo e a cidade acontece a partir disso. 

Alexandre Pires está no Centro há 12 anos e atualmente é coordenador geral. Ele entende que “esse processo foi se mostrando para nós como uma estratégia de rompimento com a política capitalista da economia do alimento”, no sentido de abreviar a participação dos intermediários neste cenário. 

 “Quando os agricultores vendem a produção diretamente  ao consumidor, eles acabam quebrando esse ciclo que deixam eles com uma menor margem de lucro. Ao mesmo tempo, passam a ter mais acesso às cidades, dialogando [com] outras pessoas, outros lugares e outros ambientes que contribuem, também, aos processos de formação”, afirma.

Feiras agroecológicas

Crédito: Darliton Silva/Centro Sabiá

A pandemia e o impacto no consumo e na produção de alimentos

Durante a pandemia e com o isolamento social devido à propagação da Covid-19, o consumo dos alimentos orgânicos diminuiu bastante e os agricultores foram bastante prejudicados. 

Não só pela pausa na realização dos Espaços Agroecológicos, mas também pelos cortes nos contratos com prefeituras e outras instituições. Uma das iniciativas encabeçadas pelo Centro Sabiá foi a realização de cestas agroecológicas que eram vendidas por redes sociais e faziam entregas semanais das produções dos agricultores assistidos pelo Centro. 

Feiras agroecológicas
Feira Agroecológica de Surubim, onde os produtores rurais vendem seus produtos semanalmente.

Vias institucionais também foram acionadas, como a “Lei Assis Carvalho” com medidas de auxílios emergenciais para os agricultores familiares nesse período, aprovada em tempo recorde na Câmara dos Deputados e no Senado, mas que foi vetada logo após sua tramitação.

    Projeto Gramachinhos
    Projeto Gramachinhos
    Precisando de: Doações
    Localização
    Contato
    Apoio
    Organização Caianas
    Organização Caianas
    Precisando de: Doações Voluntários
    Localização
    Contato
    Apoio
Autor: Redação - Lupa do Bem
Compartilhar:
Notícias relacionadas