Feminicídio na Argentina: a história da organização que decidiu denunciar casos locais

Laura Oszust, Diretora de Comunicação e Relações Institucionais do Observatório “Ahora que só nos ven”, explica a importância de denunciar a violência machista.

06.02.24

Por Sofía Bouzón

Estatísticas e números oficiais sobre feminicídios nem sempre existiram na Argentina. O Observatório “Ahora que só nos ven (AQSNV) revelou esta situação, desta forma, começou a recolher esta informação com base na análise dos meios gráficos e digitais de todo o país após a primeira mobilização “Ni Una Menos” (2015) um marco histórico de pronunciamento contra a violência misógina. 

Mas esta não é a única atividade pela qual a organização é responsável. “Na AQSNV também desenvolvemos o monitoramento de leis e investigações relacionadas aos diversos tipos de violência que mulheres, trans, travestis, lésbicas e pessoas não binárias sofrem em todos os espaços que manifestam nossas relações interpessoais: casa, trabalho, espaços públicos, instituições educacionais”, explica Laura Oszust, diretora de comunicação e relações institucionais do Observatório “Ahora que só nos ven”.

“Além disso, realizamos campanhas de comunicação, conscientização, oficinas de formação e reflexão sobre o tema”, segue Oszust. 

Mãos seguram um cartaz que alerta sobre o número de casos de feminicídios
Imagem: Feminacida/Reprodução

Desde a sua origem e até os dias atuais, a AQSNV realiza mensalmente o Cadastro Nacional de Feminicídios juntamente com a análise de notícias diárias que refletem violências e desigualdades, bem como a reprodução de estereótipos e estigmatização de gênero.

Segundo a especialista, a relevância nacional do Observatório reside na tarefa de monitorizar o cumprimento das políticas públicas e na defesa pública e política da igualdade de género com uma abordagem interseccional. 

Um compromisso assumido que alcançou vários reconhecimentos

Em 2019 o Observatório foi declarado de Interesse Cultural pelo Conselho Deliberativo do Município de La Plata (província de Buenos Aires). Posteriormente, em 2023, foi declarado de Interesse Cultural e para a Promoção da Defesa dos Direitos das Mulheres e das Diversidades Sexuais.

Além disso, no mesmo período, ganhou o Prêmio Lola Mora por uma imagem real e sem estereótipos de mulheres na mídia na categoria Mídia Digital da Imprensa Escrita, dando visibilidade ao trabalho jornalístico e de comunicação que realizam a partir do site e das redes sociais, por meio de nossas análises, reflexões e artigos jornalísticos. 

Ao mesmo tempo, tivemos a oportunidade de participar do Observatório Federal de Educação Sexual Integral do Ministério da Educação da Nação, devido ao trabalho realizado em pesquisas sobre o tema.

Sete mulheres estão em pé e sorrindo, enquanto a mulher central segura um prêmio.
Imagem: Feminacida/Reprodução

Ano novo, novos desafios

Em relação ao futuro da organização e das suas atividades, a sua representante discorre sobre os próximos passos: “No dia 10 de dezembro, Javier Milei tomou posse no nosso país como Presidente, que declarou repetidamente que a violência sexista não existe. Da mesma forma, tomou a decisão de fechar o Ministério da Mulher, Gênero e Diversidade, deixando em suspenso fontes de trabalho e políticas públicas para erradicar a violência e as desigualdades de gênero.”

“Diante deste cenário, 2024 será um ano chave para a realização de ações em defesa dos direitos humanos das mulheres e das diversidades específicas de gênero, bem como para o acompanhamento da implementação de programas de erradicação da violência, da qualidade de vida das mulheres e das diversidades, e o aprofundamento das desigualdades para influenciar politicamente e exigir que o Estado cumpra os tratados internacionais e as regulamentações nacionais vigentes”, completa. 

Oszust afirma que as expressões de ódio contra as mulheres e LGBTQIAP+, bem como os atos de assédio e violência contra estes grupos pioraram.

“Por isso vamos reforçar campanhas de sensibilização e reuniões/workshops para refletirmos sobre as práticas sexistas do cotidiano e as relações assimétricas de poder, reforçando o acesso aos direitos e a denúncia de atos que os colocam em risco”, finaliza. 

Para saber mais sobre a AQSNV, acesse o site e compartilhe seu conteúdo nas redes sociais: Instagram, X, Facebook e YouTube.

Autor: Redação - Lupa do Bem
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