Festival Favela Sustentável conecta cultura e protagonismo comunitário

O Primeiro Festival da Rede de Favela Sustentável, "Favela no Centro das Soluções," reuniu cerca de 90 comunidades faveladas, que realizaram mais de 100 atividades nas áreas de cultura, meio ambiente, educação e arte, tendo como protagonistas líderes comunitários cariocas

07.11.24

Criada em 2017, a Rede Favela Sustentável (RFS) é formada por 700 mobilizadores comunitários de mais de 300 favelas, além de aliados técnicos que trabalham de forma integrada na luta por justiça climática. 

A ONG reconhece o potencial desses territórios como modelos de sustentabilidade e tem como objetivo promover a justiça climática, transformando as favelas em exemplos de comunidades sustentáveis.”

A Rede busca também fomentar qualidades já existentes nas comunidades fluminenses, a fim de impulsionar, concretizar e amplificar seus potenciais. Ela atua baseada na perspectiva das favelas como fontes de soluções, inclusive para a sustentabilidade humana, fundamentada no conceito de Desenvolvimento Comunitário com sustentação em ativos. 

Esse conceito foca no fortalecimento dos moradores e do próprio território, respeitando suas soberanias, e não a partir de uma visão ou imposição externa.

A Rede Favela Sustentável trabalha com os seguintes eixos:

  • Justiça Climática;
  • Educação e Pesquisa Socioambiental;
  • Cultura e Memória locais;
  • Soberania Alimentar;
  • Saúde Coletiva;
  • Economia Solidária;
  • Direito ao Saneamento;
  • Justiça energética;
  • Transporte Justo;
  • Moradia Sustentável.

Dar visibilidade para combater o preconceito

A equipe gestora da Rede é mantida pela organização sem fins lucrativos Comunidades Catalisadoras, a ComCat, da qual Theresa Williamson é fundadora e diretora executiva. Ela falou sobre o festival que aconteceu com todas as portas da Fundição Progresso abertas para o público e de forma gratuita. 

“Esse festival foi uma proposta que surgiu entre os integrantes em 2018 e 2019, mas quando estávamos articulando para que acontecesse em 2020, veio a pandemia e só agora conseguimos financiamento de novo pra realizar esse sonho, que era um sonho coletivo”.

“De certa forma, o festival foi uma culminância de desejos de levar esse conhecimento não só para dentro da rede, mas também para fora dessa bagagem potente, essa qualidade e quantidade de projetos incríveis existentes nas favelas e que não são vistos”. 

“Essa invisibilidade acontece porque, em nossa sociedade, predomina o preconceito contra a favela; as pessoas estão cegas e não percebem que, de fato, os territórios favelados são potentes e também representam uma solução para moradia, para o descaso, a negligência e a desigualdade que os moradores enfrentam”.

“A favela surgiu assim: como solução. Há, sim, quem se aproveite do descaso existente, e o crime também está presente, mas, na essência, é uma resposta que as pessoas dão à falta de moradia e a outras questões na ausência do poder público”.

Theresa acrescenta que o “Festival de Favela Sustentável foi um momento em que as potências e soluções foram apresentadas, divulgadas e compartilhadas, servindo como inspiração para as próprias favelas, o que foi fundamental. O público em geral também teve acesso e contato direto com toda a potência daquele momento. Tivemos mais de 90 favelas participantes”. 

Ela conta que foi um dia mágico, de grandes realizações, pois a ComCat vem construindo o entendimento dessa potência há 24 anos, e a Rede há sete, fortalecendo e apoiando estrategicamente as iniciativas que realizam o trabalho duro e essencial para o desenvolvimento das favelas, que são as organizações de base comunitária.

“Foi uma realização coletiva, marcante e emocionante, em que vivemos um momento rico em trocas e com pessoas muito inspiradoras”, conclui Theresa.

Favela em destaque: acolhimento e representatividade 

A editora do RioOnWatch, Clau Guimarães, contou que foi empolgante ver as pessoas envolvidas nas atividades do festival. “O dia todo me proporcionou momentos de enorme emoção. A cada vez que eu conseguia circular um pouco e ver o número de atividades e de pessoas aproveitando rodas de conversa, oficinas, terapias e apresentações, eu sentia uma alegria e uma esperança sem precedentes.”

“Gargalhadas de crianças, depoimentos emocionados, histórias transformadoras, soluções e ideias brilhantes: a favela mostrando o caminho — e foram tantos caminhos possíveis, criativos e sustentáveis. Foi mágico”.

Já para Vinicius Carvalho, de 38 anos, morador da Favela da Rocinha e co-fundador e gestor do Coletivo Favela IN, o evento foi sinônimo de representatividade. “Pessoalmente, foi um dia maravilhoso, porque tive a oportunidade de compartilhar momentos. Levei minha filha, meu pai, minha mãe. Me senti acolhido e muito à vontade no espaço, do começo ao fim”.

“Me senti entre meus iguais e, o melhor: foi tudo gratuito. Foi muito bom ver todas aquelas manifestações artísticas; teve até Lava-Pés. Enfim, achei um evento maravilhoso, com uma identidade muito forte, familiar. Eram pessoas que estavam de fato compartilhando”, finalizou.

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Neuza Nascimento
Após ser empregada doméstica por mais de 40 anos, Neuza fundou e dirigiu a ONG CIACAC durante 15 anos. Hoje é estudante de Jornalismo e trabalha com escrita criativa, pesquisa de campo e transcrições. No Lupa do Bem, é responsável por trazer reflexões e histórias de organizações de diferentes partes do Brasil para a "Coluna da Neuza".
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