Festival Internacional do Folclore Brasileiro celebra a tradição há quase 40 anos

Festival é organizado pela ONG Abrasoffa; comissária de bordo Helena Lourenço foi quem liderou iniciativa e incluiu o Brasil pela primeira vez no cadastro da Unesco 

03.10.24

A brasileira Helena Lourenço era comissária de bordo da extinta companhia aérea Varig quando foi convidada para participar de um grupo de dança folclórica com colegas da aviação. Ela não imaginava, mas isso seria um divisor de águas em sua vida. Representando o Brasil, o grupo se apresentou no Festival Internacional de Folclore em Santarém, Portugal, ao lado de grupos da Bulgária, Senegal, Rússia, Hungria, Ucrânia, Grécia, entre outros. 

Helena não falava inglês — não fala até hoje —, mas diz que se entendeu tão bem com os participantes que quis trazer o festival para o Brasil.  “Era o período em que a Unesco começou um trabalho sobre cultura de paz e no festival se reuniam grupos de várias nacionalidades. Ali, pessoas de diferentes culturas, costumes e tradições convivem numa boa, mostrando que, por meio da dança e da música, os povos se aproximam e falam a mesma língua, a paz”, lembra.

Encantada com a experiência, ela não poupou esforços para realizar um festival por aqui. Para isso, participou durante cinco anos da organização do festival em Portugal, considerado o padrinho do evento. “Trabalhei em todos os setores para aprender como fazer. Nesse período, conheci muitos grupos folclóricos, consegui  contatos no mundo inteiro”, diz. 

O primeiro Festival Internacional do Folclore Brasileiro começou com seis grupos estrangeiros, que se apresentaram em Campos do Jordão, Santos e Cubatão (SP), em 1987. Alguns anos depois, o festival se tornaria um dos dez maiores do mundo. “Em 1994, tivemos uma oferta da cidade de Praia Grande, onde conseguimos uma colônia de férias para os grupos se hospedarem. Como era uma estrutura muito boa, passamos a receber 22 grupos, com 30 pessoas cada um.”

Créditos da imagem: Gilmar Oliveira.

Festival Internacional do Folclore Brasileiro

O sucesso dos festivais levou Helena a disseminar a ideia em outros estados brasileiros. Ela também fundou a Associação Brasileira dos Organizadores de Festivais de Folclore e Artes Populares (Abrasoffa). “Quando trouxemos o festival para a Praia Grande, os grupos começaram a reclamar que ficariam apenas 15 dias, então começamos a fazer parcerias com outros estados”, comenta.

“É difícil fazer os festivais, porque recebemos muita gente e precisamos seguir as regras internacionais, como oferecer no mínimo três refeições por dia, buscar no aeroporto e garantir a estrutura para eles se apresentarem. Fazemos os festivais em parceria com o poder público, não temos nenhuma ajuda de custo e os grupos não recebem qualquer cachê, eles vêm todos por conta própria”, explica.

De lá pra cá, já foram dezenas de eventos realizados no país. Helena assumiu alguns cargos de liderança em associações internacionais de folclore ao redor do mundo. E a Abrasoffa se filiou tanto na Organização Internacional de Artes Populares (IOV) como no Conselho Internacional de Festivais de Folclore (CIOF), consideradas concorrentes. Além disso, a organização adquiriu status consultivo especial junto ao Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC em inglês) desde 2017. 

Abrasoffa

Atualmente, Helena está como presidente de honra da Abrasoffa e continua dando suporte aos grupos de folclore nacionais e estrangeiros. “Temos uma abrangência de mais de 187 países. Levamos muitos grupos folclóricos brasileiros para festivais no exterior e trazemos grupos estrangeiros para o Brasil”, diz. 

Como os grupos não recebem cachê ou qualquer ajuda de custo, eles precisam se preparar com antecedência para participar dos festivais. Por isso, o apoio da Abrasoffa é crucial. Além da associação indicar os grupos para os festivais, também orienta como devem se organizar para viajar. 

“Temos um grupo de Canarana, Mato Grosso, que vai para os Emirados Árabes, por exemplo. O grupo recebeu o convite há dois anos. Desde então, eles estão fazendo churrasco para arrecadar fundos, vendendo rifas, etc. Cada participante do grupo abriu uma caderneta de poupança, para poupar 20 reais por mês. Fazemos videoconferências com eles para saber das tratativas, se já tiraram o passaporte, se já fizeram o uniforme para a viagem, etc.”

Quando o grupo finalmente viaja, os participantes vão acompanhados de um membro da Abrasoffa durante todo o festival. “Nós arrumamos tudo para o receptivo deles lá fora. Eles recebem a alimentação, a hospedagem e o transporte do aeroporto, do mesmo modo como fazemos aqui”, completa Helena. 

Créditos da imagem: Gilmar Oliveira.

Tradição 

Helena é do Rio Grande do Sul e conta que desde criança costumava se apresentar nos Centros de Tradição Gaúcha (CTG). “No Sul é muito forte isso. Os grupos divulgam o folclore, a tradição e, principalmente, preservam a cultura.” Para ela, essa experiência foi central para levar adiante o Festival Internacional do Folclore Brasileiro. 

“Imagina que você participa de um grupo de folclore… você ensaia, arruma a roupa e leva a família para te ver dançar. Aí você não tem mais onde se apresentar além daquele pequeno núcleo. E surge um convite para se apresentar na Europa, no Oriente Médio, na Ásia, para divulgar o seu país, sua cidade, sua tradição. Nossa, isso é empolgante! Preserva a cultura, é uma motivação”, ressalta. 

Para se ter uma ideia, somente no Conselho Internacional de Festivais de Folclore (CIOF) estão cadastrados cerca de 300 festivais ao redor do mundo. Existe, portanto, uma rede internacional que promove eventos para celebrar a cultura de paz e a preservação da tradição.

Festival Internacional do Folclore Brasileiro

O próximo festival no Brasil já tem data marcada. Será de 15 a 23 de agosto de 2026, em Santos. E contará com a presença de seis grupos estrangeiros e diversos grupos brasileiros. Os grupos se apresentam com danças e música ao vivo. Colômbia, México e Chile já confirmaram presença. 

Do Brasil, apresentam-se grupos de carimbó, reisado, samba, de coco, boi-bumbá, pífano, frevo, cavalhadas, grupos de tradição gaúcha, entre outros. “Convidamos o pessoal de Manaus, do boi. Também falamos com Pernambuco, com o grupo de pífaro e do frevo. E fizemos convites para Índia, Uzbequistão e Coreia, mas ainda não confirmaram”, comenta Helena. 

Imagem: reprodução

Quer apoiar essa causa?

A Abrasoffa é uma organização não-governamental que atua por meio de uma ampla rede de voluntários. A organização calcula, por exemplo, que já acolheu 650 voluntários ao longo de sua trajetória. 

Para se inscrever como voluntário, clique aqui. Para saber mais sobre o Festival Internacional do Folclore Brasileiro, visite o site da Abrasoffa e siga as redes sociais no Facebook e Instagram.

    Feira do Artesão
    Feira do Artesão
    Precisando de: Doações
    Localização
    Contato
    Apoio
Maira Carvalho
Jornalista e Antropóloga, Maíra é responsável pela reportagem e por escrever as matérias do Lupa do Bem.
Compartilhar:
Notícias relacionadas