Gastronomia do Pará até São Paulo

Créditos: Divulgação

Por: Renato Silva / Lupa do Bem – Favela em Pauta

A publicação sobre o Diamantes na Cozinha, projeto realizado nas periferias do Rio de Janeiro, nos motivou a buscar histórias e projetos igualmente potentes espalhados pelo Brasil, que fazem a diferença e inauguram oportunidades e possibilidades.

Um fator une grande parte dos projetos sociais desse ramo: a periferia. São as favelas, interiores de estados ou municípios e bairros nas periferias metropolitanas, os berços destes projetos e de seus fundadores.

Um dos exemplos vem do norte do país, no Pará: o projeto Gastronomia do Amanhã. O programa, que profissionaliza e capacita pessoas em situação de vulnerabilidade social com oficinas práticas de mercado e cozinha, recentemente encerrou um ciclo que percorreu 18 municípios do estado.

O cronograma dos ciclos conta com oficinas, que inclui aulas teóricas e práticas. No último dia, o resultado de todo esse processo é compartilhado com o público em uma mostra gastronômica, com entrega de certificados. 

De acordo com Michelle Miranda, analista de responsabilidade social do Grupo Equatorial Energia, empresa patrocinadora do projeto, o Gastronomia do Amanhã se concentra na transformação de realidades.

“[O projeto] impacta positivamente a todos que participam. É uma ação que dá oportunidade para as pessoas transformarem suas vidas através de um projeto que gera renda, autonomia e independência financeira”, relata. 

Além de Belém, a ação passou também por cidades como Santarém, Marabá, Baião, Capanema, Altamira, entre outras. O ciclo do projeto ainda está em curso, e vai até 29 de outubro. 

A chef Verena Aquino, coordenadora técnica do projeto, conta que mesmo com a experiência adquirida ao longo da profissão, trabalhar com o Gastronomia do Amanhã é uma sensação única e que todo o processo de aprendizagem é organizado de forma que os alunos se sintam seguros e motivados a continuarem a cozinhar após o término do curso. 

“Buscamos entender a realidade dos locais e das pessoas que vão em busca da inscrição no projeto. A linguagem e as aulas são adequadas dentro do que os participantes encontram no dia a dia. Assim, eles se identificam e conseguem colocar em prática o que aprendem. Ao término do curso, já tivemos casos de mulheres que montaram seus próprios restaurantes e hoje possuem renda própria”, afirma Verena.

Inscrições

As inscrições para o projeto são realizadas conforme a ação em cada local. As 40 vagas deverão ser preenchidas através de uma ficha que ficará disponível em ambiente de fácil circulação no município, como, por exemplo, os centros comunitários. Para isso, a dica é acompanhar tudo pelo perfil do Gastronomia do Amanhã nas redes sociais.

Ensino profissionalizante e gratuito de gastronomia para a periferia em SP

É assim que se apresenta o projeto Gastronomia Periférica, um negócio social que mistura na receita: desenvolvimento técnico e humano para a área de gastronomia, que conscientiza sobre o aproveitamento total de alimentos, abre possibilidades de aprender, empreender e ser protagonista no mercado a partir da periferia.

A Escola Periférica de Gastronomia nasceu através do chef de cozinha, Edson Leite, e da psicóloga, Adélia Rodrigues, motivados por formar profissionais de cozinha aptos para o mercado e no âmbito social, oferecendo alternativas para as suas realidades pessoais e coletivas. 

Um dos objetivos do projeto é também minimizar aspectos de violência, criminalidade e exclusão, por meio da formação profissional.

O gestor e fundador do Gastronomia Periférica, chef Edson Leite, acredita na importância de formar profissionais antes de lançá-los ao mercado sem o conhecimento do que é a gastronomia e tudo que a envolve de fato.

“A gente precisa capacitar, porque a mão de obra é periférica na grande parte dos restaurantes, hospitais, toda área de alimentação. Então, a gente utiliza a gastronomia como ferramenta de transformação social, através da cozinha, da formação, gerando oportunidades inclusive na área de empreendedorismo com comida”, afirma.

A Escola, que já é reconhecida e premiada em diversas frentes na sociedade, conta com um sistema totalmente online de ensino à distância, possibilitando ampliar os horizontes. Assim, pessoas de todo o Brasil podem ter acesso aos cursos oferecidos.

As matrículas são totalmente gratuitas, o aluno selecionado para a Escola pode ainda receber todos os insumos para cozinhar e fazer as matérias, e até mesmo o acesso à internet para assistir às aulas.

O Gastronomia Periférica é um projeto mantido 100% através de doações. Todos os alunos estudam de forma gratuita, e os selecionados para cursarem a escola são pessoas que moram nas periferias, e que não teriam acesso a esse tipo de educação e ensino de qualidade.

Mais um aspecto interessante do projeto é o aplicativo Gastronomia Periférica, um aplicativo apelidado de “iFood da quebrada”, que mapeia os empreendedores gastronômicos de São Paulo, que estejam mais próximos do consumidor e onde, geralmente, nenhum outro aplicativo chega. 

Para Edson, o mais importante é que a periferia esteja à frente do próprio futuro, aprendendo, formando e multiplicando conhecimentos na própria quebrada. “Eu acho que é importantíssimo a gente fazer as coisas a partir do nosso olhar, tá ligado?”.

“Era necessário ter uma escola de arquitetura em cada quebrada. Cê vê como é construído um barraco na quebrada. Imagina esses caras terem uma formação correta para fazer isso. Capacitar essas pessoas a partir do lugar de onde elas vem, e não tirá-las daquele lugar, para que elas sofram dez, vinte vezes mais no transporte público, se cansem mais. Já que elas tão lá, vamos levar essa formação pra lá”, reflete.