Iniciativas periféricas apontam caminhos para a educação

Criadas pela sociedade civil, a Livroteca Brincante do Pina e a ONG Sim, Eu Sou do Meio dão exemplos de gestão responsável na educação básica e apoio social 

26.07.21

Crédito das imagens: Divulgação

Por: Renato Silva / Lupa do Bem – Favela em Pauta

 

Criadas pela sociedade civil, a Livroteca Brincante do Pina e a ONG Sim, Eu Sou do Meio dão exemplos de gestão responsável na educação básica e apoio social 

A educação básica no Brasil tem sido assunto por diversas vezes durante a pandemia, especialmente disputando a opinião pública sobre paralisação de aulas, e no retorno ou não das atividades escolares. Mas dados do histórico de matrículas indicam que o problema na educação vem de muito antes da crise sanitária. Estes dados são do Censo Escolar 2020, produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP. 

No intervalo entre os anos de 2016 e 2020, a educação básica no país perdeu um milhão e meio de alunos matriculados. A educação básica é equivalente à educação infantil, ensinos fundamental e médio. Confira no Gráfico abaixo.

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Desse total de alunos da educação básica, 81,41% estão matriculados no ensino público. O que dá o tom da responsabilidade dos governos municipais, estaduais e federal sobre a gestão da educação no país. No gráfico abaixo, também do Censo Escolar 2020, vemos quais as parcelas da educação básica dependem de cada uma das esferas do poder executivo.

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A respeito da permanência e participação do estudante no espaço escolar, o mestre em políticas públicas e sociedade, psicopedagogo e pedagogo, Harley Gomes, acredita que o tema é um desafio para os educadores quanto aos índices de evasão, desistência ou repetência. “Essa realidade não é só agora em tempos de pandemia, mas desde que a escola se apresenta como instituição social e responsável pela aprendizagem escolar. 

Como ação para participação efetiva e, sobretudo, sucesso do educando, precisamos atuar no campo da escuta atencional, seja do estudante, da família e profissionais da educação”.

Para Gomes, é importante dar significado ao aprendizado e os gestores da educação devem estar atentos a isto. “Pode tornar mais prazeroso o processo de aprendizagem. É fundamental que a gestão educacional esteja atenta e possibilite esta singela ação, porém, de real valor, haja vista, a importância de sermos ouvidos, acolhidos. Criando, assim, sentimentos de pertença. Vale lembrar que essa atitude é fundamental em todos espaços educacionais, seja escolar ou não”, conclui Harley, que é também professor e coordenador do Pólo Sobral de Educação à Distância UNINTA.

Agora, se as esferas públicas vêm enfrentando dificuldades para manter os alunos matriculados, na sociedade civil é possível encontrar organizações que dão ótimos exemplos de atividades culturais e pedagógicas capazes de complementar e manter alunos em processo de aprendizagem. Uma dessas organizações é a Livroteca Brincante do Pina, localizada na comunidade do Bode, na periferia do Recife.

Educação como ferramenta de transformação na periferia do Recife

A Livroteca Brincante do Pina é uma biblioteca formada pela comunidade do Bode, localizada na Zona Sul do Recife e vizinha de Boa Viagem, por voluntários e amigos.

A organização trabalha em parceria com a própria comunidade, mobiliza recursos, suporte social e direciona ao projeto, que tem a missão de combater a pobreza dentro da comunidade do Bode, através do acesso ao conhecimento e da cidadania, preparando as crianças e os jovens da própria comunidade para serem cidadãos críticos e protagonistas de suas próprias vidas. 

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Idealizado em maio de 1995 na casa de palafita do músico e poeta Ricardo Gomes (Kcal), o projeto de inclusão social tem foco no incentivo à leitura e integração artística para crianças (5 – 12 anos) e pré-adolescentes/adolescentes (13 – 18 anos) da comunidade do Bode. 

Uma das responsáveis pela organização, Magda Alves, que é graduanda em Pedagogia, arte-educadora e comunicadora popular, reforça a importância da atenção às crianças e jovens da periferia local, e que a educação é um dos serviços onde o poder público vem falhando. “As comunidades citadas sofrem com inúmeras faltas por parte do poder público. De acesso a saneamento básico, saúde, assistência social, alimentação, educação, moradia digna, onde maior parte das pessoas atendidas residem em casas precarizadas, como palafitas. Seria importante ter o suporte desses que nos representam ou deveriam nos representar”, completa.

A organização apresenta planos de ações culturais que envolvem diversas atividades, entre elas estão: acompanhamento das crianças e jovens no processo de alfabetização; acompanhamento escolar; aulas de canto e música; contação de histórias; oficina de reciclagem; saraus e muitas outras atividades

Além do planejamento das atividades culturais, a Livroteca Brincante do Pina realiza a organização do acervo junto aos agentes de leitura e voluntários, e assistência à comunidade através do programa de reconhecimento paterno da Associação Pernambucana de Mães Solteiras (APEMAS).

Ser “do Meio” da educação  é coisa séria em Belford Roxo – RJ!

Outra organização que faz da educação básica um leme na atuação social, é a ONG “Sim, Eu Sou do Meio”, atuante no município de Belford Roxo, que fica na baixada fluminense, no estado do Rio de Janeiro, desde 2018. O projeto também conta com diversas atividades culturais, pedagógicas e de formação profissional. 

Os programas têm o objetivo de valorizar o potencial da juventude local e têm sua criação motivada pelo desamparo por parte do poder público em relação à juventude potente da região da extensa Rua do Meio, famosa na localidade.

Entre atividades esportivas, culturais, de consciência ambiental, reforço escolar, formação profissional e apoio psicológico, a ONG atende quase 500 pessoas no município. Entre as ações oferecidas estão esportes como futebol e jiu-jitsu; atividades de teatro, ballet, hip-hop, reforço escolar e educação ambiental. Além de curso de informática e aulas preparatórias para vestibulares e concursos.

A coordenadora geral da ONG, Débora Silva, fala sobre como algumas crianças chegam ao projeto, com dificuldades básicas, e têm resultados importantes. “Nós pegamos crianças de 12, 13 anos, que não sabiam ler e escrever quando vieram pra gente. Tivemos a oportunidade de trabalhar com essas crianças e receber cartas de professores agradecendo o esforço e a dedicação. Porque estávamos nos debruçando em atender essas crianças e não só as crianças, as famílias, né?”, comenta Débora.

Nesse sentido, para a coordenadora, o bairro demonstra características sociais que revelam a importância desse apoio. “A gente tá falando de famílias que muitas vezes precisam. Mães que têm que sair muito cedo de Belford Roxo, 3h30 da manhã, pra ir trabalhar na Zona Sul, com pai ausente. Muitas vezes essa mulher não consegue dar conta de tudo, né? E essa criança fica meio que sendo cuidada pelo território”.

Um cenário comum para as famílias assistidas pela ONG SESM, que também acaba por reforçar os valores intelectuais do trabalho executado. “Nós temos crianças nesse perfil aqui, e a gente trabalha dando essa perspectiva de tentar, dar um alívio pra essa mãe e contribuir para educação dessa criança. A gente acredita também numa educação onde as crianças façam a leitura do território e queiram de alguma forma transformar esse território, sempre valorizando o saber que elas já possuem dentro deles. Contribuindo, lançando sementes”, conclui.

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Autor: lupaadmin
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