Jovem pernambucana ganha prêmio internacional de arte com tela sobre representatividade

Whittney de Araújo ganhou disputado concurso Embracing Our Differences, nos Estados Unidos.

03.05.23

Abordando a diversidade e representatividade, a tela “Somos Todos Pérolas”, de Whittney de Araújo, uma estudante de 21 anos que mora em Camaragibe, na região metropolitana de Recife (PE), foi premiada pelo disputado concurso internacional de arte Embracing Our Differences (Abraçando nossas diferenças, em tradução livre). 

O concurso, realizado na Flórida, nos Estados Unidos, promove a arte como forma de celebrar a diversidade humana e recebe obras de artistas do mundo todo. Em 2023, o concurso completou 20 anos. Nesta edição, recebeu cerca de 14 mil inscrições, vindas de 119 países. Para a exposição, foram escolhidas 50 obras, mas apenas três foram premiadas, incluindo a tela de Whittney, na categoria adulto. 

O quadro foi inspirado na pintura clássica “Moça com brinco de pérola”, feita pelo artista holandês Johannes Vermeer, em 1665. A partir dessa referência, Whittney pintou diversas mulheres olhando para suas representações emolduradas na sala de um museu. A pintura, no entanto, não se encerra nos limites da tela, deixando a mensagem da continuidade. 

Com criatividade e técnica excepcional, o quadro de Whittney nos convida à reflexão sobre as diferenças e a inclusão. Desse modo, o prêmio vem para apoiar o principal objetivo da arte, que é promover a transformação do nosso olhar sobre o mundo a partir de um processo criativo. 

Para saber mais detalhes sobre a premiação e inspirar outros jovens artistas, conversamos com Whittney sobre como a tela foi criada e sua relação com a arte de modo geral:

De onde veio a ideia de pintar a tela “Somos Todos Pérolas”?

Já tinha feito outras releituras antes da “Moça com o brinco de pérola” e de outros artistas também.  Mas essa pintura foi criada especificamente para o concurso. Assim que soube da proposta de tema sobre a diversidade, o que me veio à cabeça foi a representatividade. Lembrei que temos mais representatividade atualmente, e que antigamente não se tinha muito isso. Então fiz uma pesquisa para saber qual obra iria combinar para o cenário que já tinha criado na minha cabeça: um museu, onde as obras de arte geralmente ficam, para então usar como referência para as meninas que estão olhando para quem as representa, as releituras. A pintura foi feita em folha A3, com uma técnica mista que gosto muito de usar, de tinta e lápis.

Você já tinha recebido algum prêmio antes?

Já participei de outras competições antes, mas nunca fiquei entre as finalistas. Esses concursos não são tão propagados, então é necessária uma pesquisa para poder participar. Minha irmã que me ajuda com isso. Ela estava procurando outros concursos para eu me inscrever, e acabou achando a Embracing Our Differences.

E como foi saber que sua tela tinha sido uma das três premiadas?

No começo, mesmo vendo que minha obra tinha sido uma das premiadas, eu não acreditei. É claro que eu acreditava na minha capacidade, mas tinham muitos competidores. Então, a meu ver, era quase impossível ganhar o prêmio…

Qual foi a repercussão do concurso para seu trabalho?

Sem dúvida, ganhou mais visibilidade! Fui chamada para participar de alguns eventos, e aumentaram consideravelmente minhas vendas. Mas acredito que eu não tenha mudado meu jeito de pintar, ou minha forma de enxergar a arte.

Whittney de Araújo. Reprodução.

Como você enxerga a arte?

Arte para mim é inspiração e criatividade, um momento de deixar a mente trabalhar! A pintura faz com que minha criatividade flua e eu consiga me desenvolver…

Você tem algum artista preferido?

Me inspiro bastante em artistas contemporâneos. Mas foram os artistas mais antigos que abriram caminho para eu pintar os artistas de hoje… então não me inspiro em um artista em específico, vou me inspirando um pouco em todos, pois cada um tem suas peculiaridades e eu tento criar as minhas.

Reprodução

Qual seu estilo de pintura?

Geralmente, gosto de criar as minhas próprias pinturas, mais para o estilo figurativo. Também gosto muito de desenhar mulheres, acho que por causa da estética. Se você olhar no meu Instagram, por exemplo, a maioria dos desenhos são de mulheres… Sou apaixonada por detalhes, amo colocar detalhes nas minhas pinturas e desenhos.

Tem algum quadro seu que você considere mais especial?

Em 2021, criei uma tela que nomeei “Borboleta”. Era baseada na “teoria do caos”, e levava a mensagem de que a batida das asas de uma borboleta aqui no Brasil, poderia chegar a causar um terremoto em outro país… Essa pintura é especial par mim, pois foi a primeira que fiz por vontade própria, usando meus conhecimentos e buscando inspirações. Infelizmente (ou felizmente) ela já foi vendida, mas vai estar para sempre no meu coração.

Você faz exposições? Onde você vende seus quadros?

Eu aceito encomenda pelo Instagram ou pelo WhatsApp. Além dessas plataformas não vendo em mais nenhum outro lugar. Consigo vender algumas obras, mas não diria que é uma renda tão grande. Nunca fiz uma exposição individual, quem sabe um dia! Mas no dia 27 de abril, vou participar da minha primeira exposição em grupo, no “Rio Mar Casa”, no shopping Rio Mar, em Recife (PE).
Reprodução.

A arte é valorizada no Brasil?

Não acredito que a arte seja tão valorizada assim no nosso país. Tive que estudar em outra cidade, porque o curso que eu queria, de Artes Visuais, só tem em duas instituições públicas no meu estado [Pernambuco]. Existem vários outros artistas por aqui que são muito bons, mas justamente pela falta de oportunidade, são levados a fazer o que não gostam, trabalhar com outras profissões.

E qual seria um caminho para valorizar a arte no país?

Muita gente desacredita em concursos e competições de arte. Eu mesma tinha minhas dúvidas, pois já tinha tentado outras vezes, e não tinha conseguido nada. Mas acredito que participar de competições é uma forma de estimular a criatividade e incentivar artistas a continuarem na arte. Minha esperança é que o Brasil invista mais nessa área artística, faça mais concursos de pintura, que não é tão valorizada.

Com quantos anos você começou a pintar?

Não lembro a data exata que comecei, mas acredito que com uns 9 anos já desenhava tudo o que eu via na TV. Comecei com o desenho e com o tempo fui me desenvolvendo na pintura… hoje já consigo pintar em qualquer superfície: papel, papelão, madeira etc. Nunca tive nenhum tipo de aula, nem assisti a tutoriais pelo You Tube, o que aconteceu era que todas as animações que eu assistia na infância pela TV, eu passava para o papel, se não gostasse, fazia novamente e assim fui me desenvolvendo.

Reprodução.

Você estuda arte hoje?

Sim, com 20 anos, consegui entrar no curso dos meus sonhos, no Instituto Federal de Pernambuco (IFPE – Olinda). É um curso técnico em Artes Visuais, eu terminei esse ano. E atualmente estudo Design Gráfico no Centro Universitário AESO Barros Melo (UNIAESO). Comecei o curso, pois queria aprender sobre o mundo digital das artes… Mas minha paixão mesmo é a arte tradicional.

Tem outros artistas na família?

Meu tio disse um dia que eu peguei esse talento dele, mas eu duvido (rs)…. Acredito que esse dom tenha vindo um pouco do meu pai. Já achei um desenho dele e hoje ele é artesão, cria bonsais de arame.

Para terminar, o que você mais gosta de fazer no seu tempo livre?

Nasci em Recife (PE), mas moro em Camaragibe, com minha mãe e irmãos. Gosto muito do lugar onde vivo, pois é tranquilo e estou acostumada. No tempo livre, geralmente assisto algumas séries e filmes, mas principalmente, estudo e desenho.

Quer apoiar essa causa?

Siga a Whittney no Instagram: @w.whittney_arts

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Maira Carvalho
Jornalista e Antropóloga, Maíra é responsável pela reportagem e por escrever as matérias do Lupa do Bem.
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