Moradores de Rua e Seus Cães: conheça o projeto que atende a esses amigos leais

Crédito: divulgação

Por: Dandara Franco – Lupa do Bem / Favela em Pauta

O projeto social Moradores de Rua e Seus Cães, fundado em 2015, atua realizando ações de amparo para pessoas em situação de rua e seus animais de estimação. Ele funciona em 14 cidades pelo Brasil, e uma delas é o Rio de Janeiro. 

A iniciativa se deu quando, em um dia de trabalho que tinha tudo para ser um dia comum, Eduardo Leporo teve a prova viva de que o clichê “o cachorro é o melhor amigo do homem” possui um significado de laços fortes. Andando pela cidade de São Paulo, o fotógrafo observou pessoas em situação de rua  na companhia afetuosa de cãezinhos.

Ele percebeu que, para quem vive em situação de vulnerabilidade, encontrar um desses companheiros de quatro patas pode significar uma ajuda para sobreviver em meio a tantas ausências – seja de apoio, direitos básicos, carinho ou todas as consequências que englobam ser uma pessoa que sofre o extremo do descaso em nossa sociedade.

Apesar das dificuldades presentes nas ruas, há o encontro que muitos diriam ser “de alma”- afinal, é o match entre dois seres que entendem como a solidão pode ser obscura, mas que encontram um no outro a possibilidade de um novo caminho. Até porque a chance de sobrevivência vem como uma oportunidade única entre os moradores de rua e seus animais.

E, com esse campo de visão, as lentes do fotógrafo, que também é conhecido como  Edu, foram além e transformaram um dia simples em uma ação extraordinária: ao caminhar pelas ruas de São Paulo seguindo sua rotina, o artista observou e analisou como viviam aqueles indivíduos completamente abandonados à própria sorte nas ruas e, tendo nos animais, a fonte de companhia e proteção.

Esses tutores de animais de rua negam a possibilidade de abrigos temporários por conta de seus cães, já que a maioria dos serviços de acolhimento para a população em situação de rua não conta com espaços para animais de estimação. Em alguns abrigos, os cachorros ficam em um canil do lado de fora, e abandonar os “cãopanheiros” não é uma opção.

O processo de estudo e de entendimento dessa realidade gerou a idealização da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) “Moradores de Rua e Seus Cães”, também conhecida como MRSC, que existe desde 2015 e hoje está presente em 14 cidades do Brasil levando apoio para aqueles que, até então, acreditavam ser invisíveis.

“Cada animal atendido, cada lanche entregue e cada expressão de gratidão é o que não nos deixa parar”, afirma Camila Azevedo de Paula, advogada que começou no projeto como voluntária no fim de 2019 e, desde 2020, assume o cargo de coordenadora no MRSC do Rio de Janeiro. 

Além da união entre os colaboradores, a solidariedade entre os assistidos também faz toda a diferença. “É uma sensação de dever cumprido dentro daquilo que podemos oferecer, principalmente quando conseguimos atender além da expectativa. É legal ver a mobilização dos assistidos, um convidando o outro a estar recebendo a ajuda. Em alguns bairros atendemos mais de 30 animais, dobra isso na quantidade de pessoas”, complementa a advogada.

A coordenadora relata também a dificuldade em viabilizar financeiramente a continuidade das ações. “O projeto vive de doações e recebê-las muitas vezes é difícil. Estamos com uma rifa rolando para custeio de alguns animais que estão sob nossa responsabilidade em hospedagens. Também contamos com a ajuda de seguidores e marcas, mas nem sempre conseguimos esse retorno. Por conta disso, as ações estão sendo mais esporádicas, antes eram semanais”, acrescenta.

Como o projeto segue auxiliando os moradores de rua e seus cães

Atualmente, o projeto social realiza ações de forma itinerante: mapeiam os bairros atendidos para definir a melhor rota a seguir. Enquanto distribuem lanches, itens de higiene, roupas e cobertores para os tutores, há também o atendimento veterinário, com vermifugação e atendimento geral, desde vacinas para raiva até doação de ração, sachês, brinquedos, coleiras e guias para os animais. 

Mas, ainda assim, há várias dificuldades que ainda precisam ser enfrentadas no dia a dia, principalmente após a pandemia. 

Além do impacto nas doações – principal forma que dá alicerce ao projeto – a pandemia também trouxe uma paralisação forçada das atividades que ocorriam semanalmente. “Nosso sonho era conseguir parcerias fixas para castração dos animais assistidos. Não existe apoio da prefeitura em relação aos vulneráveis ou a projetos, corremos atrás por conta própria e isso é cansativo e desanimador. É possível somar forças”, desabafa Camila. 

Ela ainda conta que tem um desejo para um futuro próximo da organização. “Temos uma lista para castração, hoje em dia temos apenas uma por mês, que foi cedida gentilmente pela veterinária de uma das coordenadoras. Nosso maior sonho é conseguir castrar todos os animais nas ruas porque só assim a gente consegue um controle”, acrescenta.

Apesar dos percalços, a resiliência dos colaboradores e a esperança em um futuro melhor permitiu que o projeto alcançasse uma outra grande conquista durante esses anos de ação: a entrada no Phomenta, que é uma premiação do Terceiro Setor. 

“Nossos trabalhos de apoio social, entrega de refeições, ração e as doações de quatro mil cestas básicas em dois anos, nos encaixou em uma das ODS”, contou Eduardo, que conclui: “Foi aí então que recebemos o convite para participar do Pacto Global ONU! O nosso impacto na sociedade faz frente ao que a ONU espera das OSCIPs”, finalizou.

Contribua para a sequência do projeto

Todos podem ajudar o projeto a se manter de pé, já que todos os itens são doados, tanto pelos voluntários e apoiadores, quanto pelas marcas e patrocinadores que auxiliam o MRSC nessa caminhada. Conheça mais sobre o projeto através dos perfis nas redes sociais: @Moradoresderuaeseuscaes e @mrscrio.